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Queda de ponte sobre rio Tamanduateí reacende discussão: falta manutenção?

Vistorias e reparos constantes são ações fundamentais para evitar acidentes, como o ocorrido em novembro na capital paulista

Publicado em: 01/12/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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O desabamento de uma ponte sobre o rio Tamanduateí em novembro, na zona leste da cidade de São Paulo, aqueceu a discussão sobre o processo de manutenção dessas estruturas. Ainda sem causa definida, o acidente não deixou feridos.

Entre os possíveis motivos da queda estão os problemas estruturais, apontados como os mais prováveis. “Normalmente, acidentes com obras de arte especiais (pontes, viadutos, passarelas) são motivados por um conjunto de fatores, havendo sempre uma causa principal e outras complementares. No caso do colapso da ponte sobre o rio Tamanduateí, o aspecto estrutural não apenas se apresenta possível, como até provável”, avalia o engenheiro Carlos Henrique Siqueira, diretor da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE).

FALTA DE MANUTENÇÃO

O reforço, às vezes, pode se mostrar necessário independentemente da realização de manutenções na obra
Carlos Henrique Siqueira

De acordo com o profissional, a falta de manutenção das pontes, viadutos e passarelas é um fato endêmico no Brasil, tanto na esfera federal, quanto nas estaduais e municipais. “O patrimônio público, desta forma, encontra-se sempre vulnerável a situações dessa natureza, posto que, sem verificações constantes, as obras ensejam riscos para os usuários”, destaca. Para exemplificar, ele compara as obras de arte especiais mantidas pelas concessionárias e aquelas de responsabilidade do poder público. “No primeiro caso, é normal que apresentem boas condições de serventia estrutural, de durabilidade e de funcionalidade. Já no segundo, o comum é estarem em pleno abandono”, fala.

A ABNT NBR 9452 – Vistorias de pontes e viadutos de concreto – Procedimento – foi recentemente revisada e trata das verificações e manutenções pelas quais as estruturas devem passar. “A vistoria cadastral deve ser realizada imediatamente após a obra entrar em operação, sendo referência para as demais vistorias rotineiras que devem ser executadas em intervalo não superior a um ano”, indica Siqueira, dizendo que muitos engenheiros no Brasil sequer têm conhecimento desse procedimento técnico, que explicita todos os detalhes do procedimento de vistoria. Ao fim do processo, é elaborado relatório técnico com as manifestações patológicas e as medidas necessárias para revertê-las.

A questão é que não se tem notícias de que as pontes estaiadas estão sendo vistoriadas e mantidas, e isso é preocupante
Carlos Henrique Siqueira

PREVENINDO ACIDENTES

Em alguns casos, as análises da estrutura podem indicar necessidade de reforço. Para executar essa medida, o primeiro passo é conhecer em detalhes o estado físico da construção, informação levantada durante as atividades de vistoria e minuciosas avaliações técnicas. “O reforço, às vezes, pode se mostrar necessário independentemente da realização de manutenções na obra. Um exemplo disso é a ponte Rio-Niterói, que foi bem projetada, construída e mantida e mesmo assim manifestou, após décadas, o fenômeno da relaxação”, afirma o engenheiro.

Na maioria das vezes, as vistorias e manutenções de pontes e viadutos podem ser realizadas com as obras em pleno funcionamento, sem a necessidade de interromper o tráfego. Entretanto, há casos em que o estado anômalo das obras inspira cuidados e, por questões de segurança dos usuários, a restrição do acesso é fundamental.

O ambiente em que a ponte está inserida também interfere em sua manutenção estrutural, ou seja, uma estrutura localizada no litoral necessita de mais atenção do que aquela construída em áreas urbanas ou rurais. “A ambiência em que a obra está situada pode abreviar de forma mais rápida a sua vida útil. Pontes nas proximidades de orla marítima são mais vulneráveis ao ataque da poeira salina advinda do oceano, fato que não ocorre em obras no centro de cidades. No entanto, isto não é motivo de descuido com essas estruturas urbanas, pois a carbonatação pode ser implacável se atingir as armaduras passivas”, alerta o engenheiro.

Cálculos

Normas brasileiras e internacionais estão à disposição dos engenheiros calculistas para a realização de dimensionamento de obras de arte especiais com segurança, seja em concreto armado ou protendido.

PONTES ESTAIADAS

Para Siqueira, a construção de pontes estaiadas virou moda no país. “A questão é que não se tem notícias de que essas estruturas estão sendo vistoriadas e mantidas, e isso é preocupante. Somente tenho conhecimento de uma ponte estaiada, a ponte do Saber, na cidade do Rio de Janeiro, que tem manual de vistoria própria de suas estruturas”, alerta. O grande problema nesse cenário é que as pontes estaiadas necessitam de vistorias especiais e verificações temporárias da perda de tensão, para correção, se for o caso. “Isso precisa ser mudado”, finaliza.

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Carlos Henrique Siqueira – engenheiro civil, pós-graduado em Estruturas e com mestrado e doutorado em Patologia das Estruturas. Engenheiro de supervisão da construção da ponte Rio-Niterói, tendo sido o responsável pela manutenção desta obra por 17 anos e realizado consultoria de vistoria por 36 anos. É diretor da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE). Ocupa o cargo de professor da Metrocamp e do Instituto IDD, lecionando aulas de Vistoria de Pontes e de Tecnologia do Concreto Protendido. Vistoriou mais de cinco mil pontes e viadutos no Brasil e no exterior.