Residências poderão usar painéis solares fotovoltaicos
Medida da Aneel (Agência Nacional de energia) e investimento em equipamentos fotovoltaicos devem incentivar residências a produzirem sua própria energia
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O investimento para instalação do sistema está em torno de R$ 15 mil (foto: PHOTOMDP/shutterstock)
O governo brasileiro segue o exemplo de outros países e começa a estimular os consumidores residenciais e industriais a produzirem sua própria energia a partir de fontes sustentáveis. As condições de acesso da micro e da minigeração distribuída foram definidas pela Agencia Nacional de Energia (Aneel) na resolução normativa nº 482/2012, publicada no dia 17 de abril deste ano. O prazo para que as distribuidoras de energia normalizem o novo sistema vai até dezembro e a expectativa é que, já em 2013, os consumidores tenham fonte própria de energia.
A resolução que estabelece as regras de acesso de consumidores com até 100 kW (microgeração) e entre 100 kW e 1 MW (minigeração) deverá incentivar o crescimento do uso de painéis solares fotovoltaicos, transformando as residências em geradoras de energia. A regulamentação disciplina a criação de um sistema de compensação de energia elétrica, pelo qual o consumidor injetará na rede a energia não consumida e poderá acumular créditos caso a produção seja maior do que o consumo. Esses créditos, cuja validade será de 36 meses, serão descontados na conta mensal de luz.
DESCONTO
No Brasil, o usuário terá que calcular quanto gasta de energia, o valor dos equipamentos e ver se compensa transformar sua residência em geradora ligada à rede de distribuiçãoRicardo Rüther
A medida também amplia de 50% para 80% os descontos nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão (Tust) e de distribuição (Tusd) para empreendimentos de energia solar com até 30 MW de potência instalada. Esses descontos serão concedidos por dez anos a partir da entrada em operação do empreendimento, para usinas construídas até 2017.
A decisão do governo brasileiro segue os passos de países como a Alemanha que, há mais de dez anos, lançou um plano de apoio à expansão da produção e integração das energias renováveis em sua matriz energética, dando mais incentivo à geração de eletricidade de origem solar fotovoltaica. O professor Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que o modelo brasileiro é melhor que o alemão. E explica que a Alemanha instituiu uma tarifa premium que remunera acima do que foi consumido. “Esse custo, rateado por todos os consumidores, tornou-se um grande negócio para quem passou a gerar energia em casa. O modelo brasileiro prevê a compensação do excedente da energia gerada pelo mesmo valor da consumida”, explica.
CUSTO-BENEFÍCIO
No Brasil, o usuário terá que calcular quanto gasta de energia, o valor dos equipamentos e ver se compensa transformar sua residência em geradora ligada à rede de distribuição. Rüther cita o exemplo da região de Belo Horizonte, que é ensolarada e tem uma das tarifas mais caras do país: o consumidor paga R$ 0,60 o kW/hora. Sendo assim, quem consome mensalmente 300 kW/hora (consumo típico de uma família de quatro pessoas) paga R$ 180,00 na conta de luz. “Nesse caso compensa instalar o sistema, principalmente com a esperada redução dos custos dos equipamentos devido à maior demanda. Entretanto, em Florianópolis, onde o preço da energia é de R$ 0,39 o kW/hora, a melhor opção talvez seja continuar como cliente das redes distribuidoras, pelo menos enquanto os preços dos equipamentos não caírem”, avalia.
INVESTIMENTO
Laminador desenvolvido pela Astro Solar
(foto: divulgação)
Por enquanto o investimento na instalação de equipamentos fotovoltaicos para abastecer uma residência está em torno de R$ 15 mil. Segundo Rüther, é mais ou menos o mesmo valor praticado na Europa, onde custa € 2 mil. Ele explica que, aqui, existem várias importadoras e que apenas duas empresas paulistas fabricam painéis fotovoltaicos: a Tecnometal, em Campinas, e a Astro Solar, em Santos.
O engenheiro Walter Fausto da Silva, fundador e sócio da Astro Solar, concorda com Rüther e afirma que devido à Resolução 482, em 2013 deve aumentar a procura, ocasionando a redução dos preços.
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EQUIPAMENTOS
Segundo ele, para abastecer uma residência com consumo mensal de 300 kW/h são necessários de 2 mil W e, para atingir essa potência, são utilizados oito painéis de 240 W. O preço de custo de cada painel está em torno de R$ 1,1 mil. O consumidor deve acrescer a estes valores o preço dos conectores, do inversor, da estrutura que sustentará os painéis e da instalação. Um sistema com oito painéis representa 12 m² de área e carga de 128 kg sobre o telhado – cada painel tem 1,5 m² e pesa 16 kg. Entretanto, afirma, não há necessidade de reforço. “Os painéis são presos a uma estrutura de alumínio fixada sobre as telhas e ancorada nas vigas do telhado”, explica.
Apesar de já contar com produção própria, o Brasil ainda depende da importação das células fotovoltaicas. “São de silício, material abundante em nosso país. Mas por falta de investimento ainda não temos tecnologia de beneficiamento para refinar o silício metalúrgico até o grau eletrônico. O Brasil não tinha demanda e não investiu e, agora, corremos o risco de perder o bonde da história”, afirma Rüther.
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FABRICAÇÃO INTERNACIONAL
O Brasil não tinha demanda e não investiu e, agora, corremos o risco de perder o bonde da históriaRicardo Rüther
A fabricação de células fotovoltaicas está concentrada na Ásia, com dez dos 15 maiores fabricantes localizados na região. Metade da produção mundial está na China, seguida por Taiwan com 15%, União Europeia 10%, Japão 10% e os Estados Unidos pouco menos de 5%. “De sua produção, a China utiliza apenas 11% e o restante destina ao mercado externo, o que faz dela o maior exportador mundial”, afirma o professor.
INVESTIMENTOS
A Astro Solar desenvolveu a prensagem dos painéis, padronizou a fôrma de alumínio e importa os insumos necessários, como as células, os conectores, inversores e o EVA, plástico que protege as células que serão laminadas no vidro temperado. Walter Fausto da Silva diz que tem procurado empresas nacionais interessadas em produzir o EVA e que os conectores e inversores, com a maior demanda, devem começar a ser produzidos internamente. “Estamos estimulando que os painéis sejam produzidos nas cidades nas quais serão instalados. Disponibilizamos toda a tecnologia necessária para a produção dos painéis e garantimos o fornecimento das células e materiais essenciais. Pretendemos aumentar a produção nacional de painéis para atender ao crescimento da demanda, gerando empregos pelo Brasil afora”, informa.
VITRINES
Rüther defende que os estádios de futebol e os aeroportos dotados de energia solar fotovoltaica deveriam ser transformados em grandes vitrines de divulgação da instalação do sistema. “Defendemos a criação de um espaço onde os consumidores possam conhecer todo o sistema e suas vantagens comparativas, além dos benefícios que a utilização de energia sustentável gera para o meio ambiente”, diz.
Além disso, o governo deve criar mecanismos financeiros visando estimular o investimento por parte do consumidor. Voltando ao exemplo de Belo Horizonte, supondo que a geração fotovoltaica consiga zerar a conta mensal de energia de uma residência, serão mais de sete anos para compensar o investimento inicial de R$ 15 mil. “Apesar de o equipamento ter vida útil de 20 anos, o que por si justifica o investimento, o governo vai precisar criar formas de financiamento barato para os usuários”, defende o professor, sugerindo a criação de uma linha de crédito, cuja prestação tenha valor igual ao da conta de luz. “Assim, o consumidor recebe o equipamento e continua tendo a mesma despesa mensal gasta com energia. Isso já começa a ser estudado pelo governo”, antecipa.
Colaboração técnica
- Walter Fausto da Silva – Engenheiro Mecânico formado em 1974 na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Guaratinguetá. Até 1995 trabalhou em Energia e Utilidades na Cosipa-Usiminas. Em 2011 oficializou a implantação da Astro Solar, indústria de painéis fotovoltaicos.
- Ricardo Rüther – Graduado em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1988, com mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela UFRGS concluído em 1991 e doutorado em Electrical and Electronic Engineering na The University of Western Australia em 1995. Pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos pelo Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems concluído em 1996 na Alemanha. É professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Energias Renováveis e Eficiência Energética na Amazônia (INCT-EREEA). Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Materiais Semicondutores, atuando principalmente nos seguintes temas: energia solar fotovoltaica, célula solar fotovoltaica, geração descentralizada, geração solar e painéis fotovoltaicos. Foi coordenador da CE 82-1 da Comissão de Estudos Sistemas de Conversão Fotovoltaica de Energia Solar da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) entre 2000 e 2010; é diretor técnico do Instituto para o Desenvolvimento das Energias Alternativas na América Latina (IDEAL). Foi fundador e primeiro presidente da Seção Brasileira da International Solar Energy Society (ISES do Brasil), especialista - Elsevier Editorial Services, especialista - International Solar Energy Society e especialista - Australian Solar Energy Society.