Resíduos de oficinas podem ter destinos sustentáveis
Cada vez mais presente na manutenção, a reciclagem pode levar ao rerrefino do óleo e ao coprocessamento de materiais sólidos
Tambores com resíduos (Divulgação/ Faex)
Os resíduos de oficina, muitas vezes nocivos ao meio ambiente, podem ganhar aplicações ecologicamente corretas. Óleo queimado, filtro usado, restos de tinta, reservatórios de solventes com misturas de graxa e até embalagens sprays e estopas de funilaria são aproveitados por empresas, que usam esses resíduos como combustível alternativo para queima em fornos de cimento ou para o processo de rerrefino do óleo. Assim, após passar por um processo industrial, o óleo pode ser aplicado em formulações de novos lubrificantes automotivos, industriais, para pulverização agrícola, entre outros processos.
Vanessa Salles, coordenadora comercial da Ecofenix, empresa que coleta mais de três milhões de litros de óleo lubrificante usado por mês em todo o país, esclarece que no rerrefino são removidos todos os contaminantes, e a solução é transformada em óleo mineral básico rerrefinado. “O produto fica com características semelhantes às do primeiro refino e atende às especificações exigidas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), órgão regulador competente”, explica.
O diretor da Faex Resíduos Industriais, Flávio Bragante, trabalha há 18 anos na área de destinação de resíduos e lembra que muitas vezes um pequeno derramamento de óleo era limpo com serragem ou estopas, e esse material era descartado no lixo comum, por desconhecimento dos problemas que isso poderia gerar. “Mas hoje tudo é controlado com rigidez, os empresários estão conscientes dos danos ambientais causados por esses resíduos”, ressalta.
Todos os geradores de resíduos de manutenção devem entregar periodicamente à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) um inventário informando a quantidade gerada e o local de destinação. O espaço para estocagem deve seguir a norma ABNT – NBR 12235, permanecendo coberto, bem ventilado, com solo impermeabilizado, sistema de contenção em caso de possíveis vazamentos, além de contar com procedimentos de combate a incêndio e ter acesso restrito.
DESCARTES EM POUCA QUANTIDADE
De acordo com Bragante, as empresas geradoras de baixa quantidade de resíduo recebem pouca atenção quando solicitam o serviço de coleta. “As processadoras são mais focadas em grandes volumes”, diz o profissional, que se especializou em coletas fracionadas para atender pequenos geradores.
“Já atendi cliente que manteve resíduos estocados por mais de dez anos, por falta de opção de descarte correto. Na retirada, os tambores começaram a vazar com a movimentação de carga deslocada da área de estocagem para o caminhão e constatamos que os vazamentos foram provocados pela pressão interna formada por gases gerados pelo tempo de armazenagem”, explica Bragante.
Salles acrescenta que, além de coletarem em grandes geradores de resíduos de manutenção, os veículos da Ecofenix também retiram pouca quantidade em postos de gasolina e oficinas de pequeno porte.
MINERADORA CUIDA DE 100% DOS RESÍDUOS
Com 83 equipamentos na frota, entre caminhões, escavadeiras, tratores, carregadeiras, perfuratrizes e comboios, a Mineradora Kinross Gold Corporation, localizada em Paracatu (MG), faz trocas de óleo a cada 15 dias, gerando em média 30 mil litros de óleo por mês. De acordo com Marcos Morais, chefe de departamento de Meio Ambiente e Licenciamento na mineradora, o preço do óleo rerrefinado, embora apresente variações, custa em torno de 40% de um óleo de primeiro refino.
“As empresas rerrefinadoras e as produtoras possuem laboratórios adequados e certificados para atestar a qualidade do produto”, explica Morais. A Kinross cuida 100% dos resíduos e se responsabiliza pelas fases de segregação, acondicionamento e transporte dos materiais, conforme as normas ambientais.
Os óleos, baterias e sucatas são vendidos para empresas especializadas e credenciadas, enquanto as lâmpadas passam por processo de descontaminação e vão para reciclagem. “Alguns materiais são enviados para coprocessamento em substituição parcial ao combustível na indústria cimenteira”, acrescenta Morais.
MANUTENÇÃO E MEIO AMBIENTE
Os cuidados ambientais são constantes durante os serviços de manutenção, principalmente quando os equipamentos trabalham em obras realizadas próximas a locais de sensível biodiversidade. João Bosco Bueno, gerente de segurança, meio ambiente, saúde ocupacional e responsabilidade social (SMSRS) da obra Contorno de São Sebastião, realizada pela Construtora Queiroz Galvão, explica que o importante é evitar derramamentos no solo, e como medida preventiva é utilizada uma bacia de contenção embaixo do recipiente que coleta o óleo drenado dos motores, para posterior armazenamento temporário.
“O armazenamento do óleo no canteiro central é feito dentro de bombonas de mil litros, que ficam dentro de uma bacia de contenção, em local coberto”, explica Bueno. “Deste local é coletado pela empresa que compra o resíduo e retira óleo usado do canteiro central todos os meses”, acrescenta. A obra Contorno de São Sebastião conta atualmente com uma frota de 290 equipamentos.
DESTINAÇÃO ECOLÓGICA PARA RESÍDUOS DE MANUTENÇÃO
| Após separação e aproveitamento, se viável, no processo de rerrefino, é feita a destinação final para empresa especializada no tratamento do resíduo |
| Após separação e aproveitamento, se viável, no processo de rerrefino, é feita a destinação final para empresa especializada no tratamento deste resíduo |
| Destinação para empresa especializada em coprocessamento |
| Destinação para empresa especializada em reciclagem e reprocessados, contribuindo para a diminuição de passivos nos aterros |
Fonte: Ecofenix
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COLABORAÇÃO TÉCNICA:
- Flávio Bragante, diretor da Faex Resíduos Industriais
- Vanessa Salles, coordenadora comercial da Ecofenix
- Marcos Morais, chefe de departamento de Meio Ambiente e Licenciamento na Mineradora Kinross Gold Corporation
- João Bosco Bueno, gerente de SMSRS da obra do Contorno de São Sebastião (SP)