Retrofit do edifício Bravo Paulista exigiu reforço estrutural
O projeto deu nova roupagem e uso ao prédio, com ênfase no conforto térmico através de brises e substituição da caixilharia, agora com vidros de alto desempenho
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
(Foto: Divulgação)
As obras de retrofit do edifício Bravo Paulista, na avenida Santos, geraram demandas de engenharia que foram fundamentais para atender os sofisticados recursos projetados pelo escritório Dal Pian Arquitetos.
O principal desafio da PHL Engenharia foram as condições estruturais do prédio construído na década de 1970, identificadas no início da execução do projeto. Mesmo diante da necessidade de reforço estrutural, o prazo de dez meses foi cumprido nessa obra que enfrentou, ainda, as restrições próprias da região da avenida Paulista.
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O projeto de renovação do empreendimento de 7,7 mil m², que tem como principal investidor a Rio Bravo Participações, atualizou totalmente os elementos das fachadas e áreas internas, para atender as necessidades atuais de ocupação. A caixilharia foi ampliada e substituída com vidros de alto desempenho térmico. Além disso, foram instalados brises metálicos e painéis com perfurações randômicas. Internamente, os arquitetos priorizaram a qualidade ambiental interna e a automação, além de novas instalações elétricas, hidráulicas e de ar-condicionado.
Atuar na área restrita da região da avenida Paulista envolve estratégias de engenharia para atender stakeholders como os imóveis do entorno, o Programa do Silêncio Urbano (PSIU) e a companhia de tráfego (CET).
“A chegada de materiais e equipamentos é limitada a horários noturnos e curtos”, fala o engenheiro Helio Fronza, sócio-fundador da construtora, contando que a obra utilizou os elevadores internos do prédio, o que evitou o emprego de plataforma cremalheira nas fachadas que, em geral, gera ruído.
Reforço estrutural
Quando a PHL assumiu as obras, todos supunham que, sob as lajes dos 15 pavimentos, o que havia eram tetos rebaixados, recurso usual do período em que o prédio foi erguido. “E não era”, diz Fronza.
A surpresa foi constatar tratar-se de forro em laje de concreto com 5 cm de espessura, que escondia lajes nervuradas (sistema de grelhas). “Ou seja, eram várias vigas com 1 x 1 m, com 0,50 m de altura, executadas para vencer vãos maiores. Hoje, esse objetivo é alcançado com laje do tipo cubeta, solução que não existia na época”, observa.
A condição dessa estrutura era, no entanto, ainda mais complicada. “Na inspeção que fizemos, verificamos que as fôrmas de madeira usadas para a construção dessas grelhas permaneceram no local, incorporadas. Depois de concretadas as vigas, não foi feita a desforma”, conta.
O próximo passo foi consultar o Corpo de Bombeiros para saber se as fôrmas de madeira poderiam ou não permanecer. No entanto, não se obteve uma resposta conclusiva.
Na dúvida, o proprietário do edifício decidiu pela retirada das fôrmas. Para ter acesso à grelha de vigas e, portanto, às fôrmas, foi necessário demolir a laje inferior, que cumpria a função de forro. “Nesse momento, observamos que o concreto da laje apresentava vazios, patologia de construção conhecida como bicheira, que poderia levar a riscos estruturais no futuro. O problema não foi visto quando concretaram, porque não foi feita a desforma”, explica.
Para garantir que o prédio terá vida útil por mais 50 anos, a Etoile, gerenciadora do empreendimento, fez consulta ao engenheiro calculista. “Chegou-se à conclusão de que seria importante fazer o reforço estrutural completo da construção – etapa incorporada ao prazo de dez meses de obra e que conseguimos cumprir”, destaca Fronza.
A solução adotada pela PHL foi demolir a laje inferior e executar concreto projetado, desenvolvido especialmente para corrigir as bicheiras e aumentar as dimensões das peças. A face superior da laje recebeu um contrapiso, necessário para atender ao aumento de carga de cerca de 20% decorrente da nova concepção de uso.
“Criamos, assim, um novo conceito de laje, monolítica, e aumentamos em 6 cm a espessura, cumprindo um total de 14 cm”, diz. As fundações não exigiram intervenção, pois atendiam as novas sobrecargas.
Os novos elementos das fachadas
Na fachada atualizada, destacam-se os painéis metálicos com perfurações randômicas, uma espécie de ‘pele bioclimática’ e de contribuição estética. A solução bastante atual foi ancorada na estrutura através de montantes metálicos e distanciada da parede.
(Foto: Divulgação)
As fachadas com maior incidência de irradiação solar receberam brises, para a proteção térmica. A opção do projeto por brises em alumínio acabou se viabilizando economicamente pelas chapas de aço galvanizadas, que receberam pintura eletrostática a pó.
“Foi necessário trabalho extenso de verificação das ancoragens, sendo que a maioria foi feita com chumbadores parabolt. Nos pontos onde era maior a carga dos perfis de sustentação dos brises, utilizamos parafusos passantes. Ou seja, furamos a parede desde a face externa até a interna, onde instalamos chapas de fixação – escondidas, depois, pelo revestimento”, explica o engenheiro.
Depois de os vãos ampliados, as antigas janelas maxim-ar em alumínio foram trocadas, uma parte por caixilhos fixos e a outra por caixilhos que se abrem para ventilação dos ambientes. Os vidros empregados são de alto desempenho térmico e acústico.
Pontualmente, algumas fachadas que recebem sol diretamente foram protegidas por venezianas de alumínio. Emoldurando as janelas e valorizando o edifício, foram aplicados painéis em ACM num amarelo vibrante.
O tom marrom escuro dos perfis mimetiza com a cor da textura aplicada nas fachadas. “Porém, antes da textura foi preciso regularizar as reentrâncias ali presentes. A planicidade foi obtida com a instalação de placas que reúnem estrutura metálica revestida com chapa cimentícia, fixadas pelo sistema parabolt”, relata Fronza.
A alternativa seria a projeção de argamassa estrutural, o que exigiria a demolição do revestimento existente, gerando ruídos e resíduos. Como o prédio está enclausurado entre outros da região, levaria transtorno maior à vizinhança. “Daí, a opção do arquiteto pelo sistema que aplicamos”, comenta Fronza.
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Colaboração técnica
- Helio Fronza – É Engenheiro Civil, sócio-fundador da PHL Engenharia. Com mais de 40 anos de vivência em obras, atuou como diretor Técnico e de Obras de renomadas construtoras, como a Totum Construções, Construtora Moura Schwark, WTorre, Matec, Construcap e Terramoto, em importantes obras de todos os segmentos da construção civil.