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Saiba como identificar, tratar e evitar patologias em tubos e conexões

Vazamentos, entupimentos, ruídos e outras manifestações patológicas podem ser evitadas. Para tanto, é necessário escolher o material adequado e contar com um bom projeto. Saiba mais a seguir!

Publicado em: 28/04/2023Atualizado em: 03/05/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Oleg Opryshko/Shutterstock)

Para evitar patologias em tubos e conexões, é fundamental escolher o material adequado para o seu projeto. A escolha deve levar em consideração as especificações do projeto, os aspectos econômicos e ambientais, além, evidentemente, das normas técnicas e regulamentações locais.

  • PVC (Policloreto de Vinila) – Frequentemente utilizado em instalações de água fria, esgotos sanitários e águas pluviais. No caso da água fria, as tubulações em PVC (NBR 5648) têm formulação específica para suportar as pressões máximas usuais, bem como durabilidade e facilidade de instalação. Os dois últimos quesitos se somam à estanqueidade das tubulações em PVC (NBR-5688) em esgotos sanitários;
  • Cobre – Utilizado em instalações de água quente, devido à sua alta resistência à corrosão, capacidade de suportar altas temperaturas e pressões, alta durabilidade e boa condutividade térmica;
  • PEAD (Polietileno de Alta Densidade) – Empregado em instalações de água fria, devido à sua capacidade de suportar as pressões necessárias, alta resistência à corrosão, bem como a sua flexibilidade e facilidade de instalação;
  • Ferro fundido – Utilizado em instalações de esgotos sanitários e águas pluviais, por sua resistência mecânica e capacidade de suportar altas cargas;
  • PPR (Polipropileno Copolímero Random) e PEX (Polietileno Reticulado) – Com uso tanto em instalações de água quente como de água fria, devido à sua resistência a altas temperaturas, às pressões usuais de edificações e à corrosão. Oferece facilidade de instalação e manutenção.

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Ficha de Verificação de Serviço (FVS)

Principais patologias em tubos e conexões

As principais manifestações patológicas em tubos em conexões variam de acordo com o tipo de instalação. “No caso da água fria, podemos ter entupimentos, corrosão, excesso de ruído, baixa pressão da água, deformações em tubulações de recalque, rupturas em conexões do sistema de recalque, vazamentos em bacias sanitárias, torneiras, registros e chuveiros; bem como incidência de ar nas tubulações de água fria”, ensina o engenheiro Hélio Narchi, responsável pela disciplina Instalações Hidráulicas no curso de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia.

Algumas dessas patologias também podem ocorrer na tubulação de água quente, como vazamentos, entupimentos, corrosão (em tubulações de cobre) e baixa pressão da água, além de vazamentos em torneiras, registros e chuveiros. E, ainda, condução de água quente com temperatura e pressão excessivas; retorno de água quente para a tubulação de água fria; perda de calor por ausência ou ineficiência de isolamento térmico.

Nos esgotos sanitários, as patologias incluem vazamentos em tubulações e em aparelhos sanitários, obstruções e entupimentos de tubulações, mau cheiro em banheiro, cozinha e área de serviço por ausência ou ventilação incorreta do sistema de esgoto.

“Pode haver transmissão de ruídos excessivos; obstrução e retorno de esgoto em coletores por ausência de declividade; retorno do esgoto da rede pública para o interior da edificação; retorno de espuma nas instalações de esgoto; e deformação em tubulações”, aponta Narchi.

Na tubulação de águas pluviais, podem ocorrer vazamentos em condutores verticais e rupturas em tubos por subpressão. Entre as causas estão o ressecamento de condutores aparentes (expostos ao sol); ligação clandestina de águas pluviais em rede de esgoto; e uso inadequado de águas pluviais em sistemas prediais.

Como identificar

“A identificação de patologias em instalações hidráulicas e seus componentes requer um conhecimento básico sobre como esses sistemas funcionam”, orienta o professor, que fala sobre os problemas mais comuns:

Vazamentos – Podem ocorrer em qualquer tubulação das instalações hidráulicas e são constatados por observação visual, quando se trata de tubulações aparentes ou de aparelhos sanitários. Quando o vazamento se dá no interior de paredes ou pisos, a observação pode demorar algum tempo para ser feita, em função da intensidade e origem do fluxo. É comum a percepção em função da observação de manchas de umidade. Em casos mais complexos, há a necessidade de emprego de equipamentos, como geofones, que detectam ruído e vibrações decorrentes de vazamentos e possibilitam sua provável localização.

Entupimentos – São obstruções parciais ou totais de tubulações que dificultam a livre passagem de líquidos, seja água limpa, nas instalações de água fria e quente; água residuária, em esgotos; ou ainda água de origem pluvial nas instalações de drenagem predial. “Em todos os casos, o escoamento que consegue superar a obstrução tem menor vazão, pressão ou velocidade, dependendo do caso, podendo até cessar, no caso de um bloqueio total.”

A identificação de patologias em instalações hidráulicas e seus componentes requer um conhecimento básico sobre como esses sistemas funcionam
Hélio Narchi

Nas instalações de água fria e quente, as obstruções podem ter como causas a qualidade da água fornecida pela concessionária, o material da tubulação ou ainda a entrada de ar. Quando a água da concessionária apresenta dureza elevada, em função da presença de sais de cálcio e magnésio, é usual que ocorra a formação de incrustações nas paredes internas dos tubos e conexões, que resultam em obstruções.

Sólidos que se soltam de tubulações antigas de ferro devido à sua oxidação também causam obstruções, em especial em válvulas de descarga e registros e chuveiros. Além disso, fragiliza os trechos da tubulação afetados, originando vazamentos.

A presença de ar na água utilizada é comum, razão pela qual costuma-se manter uma tubulação para seu escape nos barriletes, denominada ‘respiro’. A ausência desse dispositivo associada a outros fatores, como o esvaziamento e reenchimento de tubulações, pode ocasionar a presença de ar em quantidade tal que impede o livre fluxo da água, funcionando como obstruções.

Nas instalações de esgotos sanitários, quando um aparelho sanitário como lavatório, pia, ralo de box ou tanque não estiver drenando adequadamente e provocando acúmulo de água servida, ocorre um entupimento parcial na tubulação (sifão, ramal ou coluna). Essa obstrução pode ser casual, ocasionada pela queda ou lançamento de objeto, ou resultante de acúmulo progressivo de sólidos presentes nas águas residuárias. “O mau uso de aparelhos sanitários, em especial das bacias, ocasiona frequentemente esse tipo de problema, identificado pela dificuldade da autolimpeza, elevação e rebaixamento do seu nível da água.”

No caso das instalações de águas pluviais, em especial nos tubos de queda, a percepção do problema também é simples, face à acumulação e extravasamento de água nas calhas. O retorno de água pelos ralos, nos pisos, também é sintoma de dificuldade do fluxo, em geral causado por obstruções nos coletores.

Ruídos – O funcionamento das instalações hidráulicas prediais gera diferentes tipos de ruídos e vibrações, que podem ter diversas causas: o bombeamento de água; a passagem da água por tubos, curvas, cotovelos e registros; o fechamento repentino de válvulas, como as de descarga de bacias sanitárias; o choque da água com as superfícies dos equipamentos de utilização como cubas, lavatórios, banheiros e pias; o escoamento de água por vasos sanitários, ralos, sifões e tubulações de esgotos; e o deslocamento de bolsões de ar pelas tubulações.

“Além disso, o ruído pode estar associado a outros fenômenos, como o denominado ‘golpe de aríete’, provocado por ondas de pressão produzidas por variações na velocidade e pressão da água nas tubulações”, explica.

Ainda que inerentes às instalações, os ruídos devem se situar nos limites admissíveis para o conforto dos usuários. As sobrepressões produzidas não podem gerar riscos de deslocamentos excessivos às tubulações, conexões e válvulas.

A norma que trata especificamente sobre esse tipo de ruído é a parte 6 da norma de desempenho ABNT NBR 15.575, que estabelece limites máximos do nível de pressão sonora medida em dormitórios. Os valores são em decibéis e para a medição se empregam equipamentos específicos denominados decibelímetros.

Mau cheiro – Observado em ambientes internos ou externos, está relacionado com as instalações de esgotos sanitários. Nos ambientes fechados como banheiros, origina-se principalmente do retorno de gases que circulam nas redes de esgotos públicas. “É devido a falhas no sistema de ventilação e sifonamento das instalações hidráulicas prediais de esgotos”, ressalta.

Ramais e colunas de ventilação têm como função captar os gases das redes, que entram no sistema através da ligação predial de esgotos da edificação, e direcioná-los a saídas situadas acima de telhado ou laje de cobertura.

Sifões de lavatórios e caixas sifonadas, também instalados em banheiros, são dispositivos hidráulicos que permitem a passagem de águas residuárias, mas bloqueiam a eventual entrada dos gases. “Se os componentes de ventilação e sifonamento estiverem operando de modo deficiente, o ambiente fica permanentemente submetido ao mau odor”, alerta.

Se os componentes de ventilação e sifonamento estiverem operando de modo deficiente, o ambiente fica permanentemente submetido ao mau odor
Hélio Narchi

Nos ambientes abertos, como jardins e quintais, o odor origina-se pela acumulação de esgotos em caixas de passagem, ocasionada por obstruções nos coletores de esgotos, ou pela acumulação de resíduos em caixas de gordura, não limpas periodicamente. O mau cheiro advém da decomposição dos esgotos, que contêm elevados teores de matéria orgânica biodegradável.

Soluções

Depois de localizado e acessado o vazamento, a operação de reparo pode envolver a substituição da conexão ou vedação defeituosa. Pode, em outros casos, ser necessário substituir um trecho da tubulação.

O melhor a ser feito para evitar o entupimento nas tubulações de água fria que veiculam água com elevada dureza é, periodicamente, promover a limpeza das tubulações e conexões. “A operação remove incrustações por limpeza mecânica, com água, jato de ar ou emprego de produtos químicos”, diz.

Para sanar entupimentos causados por material gerado por oxidação de tubos metálicos, o melhor a ser feito é promover sua substituição por outros de material plástico (PVC, PEAD ou PPR).

Já no caso de presença de ar em tubos da rede de água fria, uma vez localizado, tem que ser purgado da tubulação, para possibilitar a movimentação de água. “Entupimentos em tubos das instalações de esgotos e de águas pluviais devem ser removidos para liberação do fluxo de líquido”, recomenda Narchi.

O controle de ruídos e vibrações é mais complexo. Quando a origem for no sistema de bombeamento, é possível melhorar as condições de isolamento acústico, intervindo diretamente nesse sistema. Se for originado nas válvulas de descarga, a solução é tecnicamente simples. Basta trocá-las por caixas de descarga.

“No entanto, exige um conjunto de pequenas reformas que pode ser inviável em edifícios de apartamentos. A decisão só se justificaria se além dos ruídos, a ocorrência de sobrepressões fosse efetivamente causa de danos significativos aos moradores.”

Quando o mau cheiro ocorre no interior da edificação, devem ser inspecionados tanto o sistema de ventilação, composto por ramais e colunas, como os dispositivos destinados a sifonamento. Dependendo da idade da edificação e da localização do sistema de ventilação, a própria inspeção é complexa, sendo mais ainda a intervenção nesses dispositivos nos apartamentos.

Em certos casos, é possível fazer a ventilação direta dos tubos de queda, com a instalação de válvulas de admissão de ar, o que pode mitigar o problema do odor. Já os sifões e caixas sifonadas íntegros podem ser apenas submetidos à limpeza, ou substituídos por dispositivos novos, se estiverem danificados.

“Nos casos em que o mau cheiro ocorre no lado externo, é possível, em geral, resolver o problema promovendo a desobstrução de coletores e a limpeza de caixas de inspeção e caixa de gordura”, indica.

É possível evitar!

As principais causas das patologias em instalações hidráulicas são as falhas de projeto; a alocação equivocada de máquinas e equipamentos em instalações prediais; as falhas de execução e uso de material inadequado; o desgaste pelo uso das instalações; e a má utilização e manutenção inadequada das instalações.

De acordo com Roberto de Carvalho Junior, autor do livro “Patologias em sistemas prediais hidráulico sanitários”, a predominância delas está no gráfico a seguir:

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima

“Para evitar que ocorram, é importante que sejam adotados procedimentos com relação a esses fatores”, fala Narchi. A primeira medida recomendada é realizar manutenções preventivas regularmente, como limpezas e inspeções. A boa prática manda verificar regularmente o estado das peças e promover os devidos reparos em componentes das instalações prediais, como torneiras, válvulas e registros.

O projeto, instalação e manutenção dos sistemas hidráulicos devem ser feitos por profissionais capacitados e experientes, que possuam conhecimento das normas técnicas e de segurança. “É importante considerar a variabilidade de materiais empregados em tubulações e conexões, que requer o conhecimento de diferentes técnicas de instalação por parte dos encanadores contratados.”

A utilização de materiais de boa qualidade, resistentes, duráveis, que possuam garantia e que atendam às normas técnicas, é essencial para garantir a segurança e o bom funcionamento das instalações. E um alerta: deve-se dar atenção ao armazenamento de tubos e conexões nas obras. “Materiais como o PVC, por exemplo, não devem ficar expostos ao sol, por risco de deformação”, diz, lembrando que as obras devem seguir à risca as recomendações dos manuais técnicos dos produtos.

Narchi defende a importância de informar usuários e moradores para que não joguem objetos inadequados em bacias sanitárias, não descartem óleo usado nem resíduos em pias, por risco de danos às instalações. Trituradores de lixo não são equipamentos passíveis de uso no Brasil, pois as redes coletoras públicas não são dimensionadas para receber esse tipo de material.

“É preciso reforçar, também que, em nenhuma hipótese, águas pluviais podem ser lançadas em redes coletoras. Além disso, esgotos sanitários não podem ser direcionados às instalações de captação de águas pluviais”, finaliza.

Colaboração técnica

Hélio Narchi – Engenheiro civil, mestre em engenharia hidráulica, responsável pela disciplina Instalações Hidráulicas no curso de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia. É consultor nas áreas de hidráulica, saneamento e meio ambiente.