Salas limpas pedem portas estanques
As portas automáticas são empregadas em salas de uso crítico, evitando que os usuários toquem nas maçanetas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A sala limpa, segundo a definição da NBR ISO 14644-1, que estabelece as diretrizes para o projeto, operação, classificação e monitoramento desses ambientes, é a ‘sala na qual a concentração de partículas em suspensão no ar é controlada; é construída e utilizada de maneira e minimizar a introdução, geração e retenção de partículas dentro da sala, na qual outros parâmetros relevantes, como por exemplo, temperatura, umidade e pressão, são controlados conforme necessário’.
O engenheiro Oswaldo Bueno, consultor da Abrava, explica que o objetivo é reduzir ao máximo a emissão de contaminantes, sejam eles provenientes dos materiais de construção da sala, das pessoas, das roupas, dos equipamentos ou produtos. O que for emitido deverá ser removido ou ter a sua concentração reduzida para atender a especificação do processo na sala limpa”. Também consultor da entidade, o engenheiro Miguel Ferreirós, diretor da Análise Consultoria e Engenharia, diz que o documento mais apropriado para os trabalhos de projeto e construção de salas limpas é a ABNT NBR ISO 14644-4:2004. “A norma oferece um checklist que ajuda os envolvidos a não esquecerem de assuntos que se relacionam. Costumamos dizer que sala limpa é um tema interdisciplinar”, orienta.
VedaÇÃo
Entre outros elementos, as portas potencializam todos esses cuidados para manter o ambiente fechado e limpo. Para Miguel Ferreirós, “quando falamos em boas práticas da engenharia em salas limpas, as portas podem ter fechamento manual, fechamento por molas, ou automatizados”. O uso de portas automáticas é feito em instalações mais críticas onde não é recomendável que os usuários toquem nas maçanetas.
“As portas devem ter ótimos padrões de estanqueidade, de acordo com o que está previsto no projeto dos sistemas de tratamento de ar. Desta forma, o sentido de fluxo de ar necessário para manter a segregação dos contaminantes (internos e externos) é assegurada. Há ocasiões em que o projetista de ar-condicionado precisa que as portas deixem passar quantidades maiores de ar e, até mesmo, cria recursos para permitir o adequado balanceamento de ar entre os ambientes”, explica Ferreirós, lembrando que o acesso às salas limpas deverá ser feito através de antecâmaras, com um aumento da pressão do corredor de acesso, com o objetivo de evitar que os contaminantes em suspensão no ar possam infiltrar na sala nos momentos de acesso das pessoas ou materiais.
EspecificaÇÃo
“O tempo de abertura e fechamento das portas deve ser o menor possível, garantindo que o local permaneça protegido, assegurando a temperatura ambiente e conforto aos usuários”, informa o engenheiro Dante Boccuto Junior, gerente da Dorma – empresa especializada na fabricação de sistemas de controle de acesso. Segundo ele, as portas ideais para as salas limpas são as automáticas deslizantes de uma ou duas folhas e as portas automáticas batentes com ponto de giro simples ou duplas.
O engenheiro ensina que as portas automáticas deslizantes, de uma ou duas folhas, especificadas para esse tipo de ambiente deverão ser microprocessadas, ou seja, ter velocidades autoajustáveis para abertura e fechamento – normalmente modulares –, que permitem a utilização de diversos acessórios como sensores de movimento e de presença, ou mesmo os combinados, ou seja, movimento e presença integrados num só elemento. “É preciso que as portas permitam a utilização de fotocélulas laterais de segurança com, no mínimo, dois pontos, ou ainda as do tipo régua vertical com feixes de até 32 pontos. Esse recurso garante segurança total da porta no caso de o usuário estar na linha de passagem da folha. O módulo de comando, obrigatoriamente, tem que ter saídas específicas para tais dispositivos de ativação e segurança, além de chaves programadoras e baterias de emergência”, explica.
EspecificaÇÃo
Outro cuidado importante para a especificação de portas automáticas para salas limpas é que sejam construídas em aço inox, com caixilhos em alumínio com vidro laminado. Se forem feitas de madeira, devem ser revestidas com laminado melamínico. O alumínio pode ser anodizado ou receber pintura eletrostática a pó, “porém, a pintura é mais recomendada devido à fácil manutenção e menor acúmulo de partículas em suspensão no ar”, diz Boccuto. Para garantir total vedação e mitigar a contaminação do ambiente, as folhas das portas são dotadas de sistema de vedação: borrachas, feltros ou perfis específicos de PVC flexíveis, dependendo do tipo das folhas, ou seja, folhas deslizantes ou batentes.
Segundo o engenheiro, a especificação está diretamente vinculada ao ambiente em que será aplicada a porta automática, dependendo dos espaços e fluxos de pessoas. Nessa análise é que são recomendadas as portas deslizantes, batentes ou ainda as articuladas específicas para pequenos vãos. “Uma consulta ao fabricante é muito importante nessa fase do projeto, pois a correta especificação garantirá o atendimento às normas, economia na execução do projeto e a segurança do perfeito funcionamento no pós-venda. Recomendamos para esse nicho de mercado a formalização de um contrato de manutenção preventiva, o que proporcionará maior vida útil ao sistema especificado”, afirma.
Normalização
O consultor Oswaldo Bueno elenca as normas técnicas em vigor que regulam a construção e funcionamento das salas limpas:
- NBR ISO 14644-1 - Classificação da Limpeza do Ar;
- ABNT NBR ISO 14644-2:2006 - Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 2: Especificações para ensaios e monitoramento para comprovar a contínua conformidade com a ABNT NBR ISO 14644-1, ABNT NBR ISO 14644-1:2005 Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 1: Classificação da limpeza do ar;
- ABNT NBR ISO 14644-3:2009 - Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 3: Métodos de ensaio;
- ABNT NBR ISO 14644-4:2004 - Salas limpas e ambientes; controlados associados Parte 4: Projeto, construção e partida
- ABNT NBR ISO 14644-5:2006 Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 5: Operações;
- ABNT NBR ISO 14644-6:2008 - Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 6: Vocabulário;
- ABNT NBR ISO 14644-7:2007 - Salas limpas e ambientes controlados associados Parte 7: Dispositivos de separação (compartimentos de ar limpo, gloveboxes, isoladores, miniambientes).
A Sociedade Brasileira de Controle de Contaminação produziu as seguintes regulamentações normativas:
- SBCC - RN - 005 – 1997 - Testes em Áreas Limpas;
- SBCC - RN - 007 – 2005 - Metodologia e Limites Microbiológicos em Áreas Limpas.
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Miguel Ferreirós – Engenheiro Mecânico formado pela FEI em 1984 com ênfase em Refrigeração e Ar-Condicionado. Docente do Curso de Pós-graduação de Refrigeração e Ar-Condicionado do IECAT-FEI (Faculdade de Engenharia Industrial em São Bernardo do Campo). Membro do ASHRAE Chapter Brasil (American Society of Heating, Refrigeration and Air Conditioning Engineers). Vice-Presidente do Departamento Nacional de Projetistas e Consultores da ABRAVA (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento). Executa trabalhos de consultoria e treinamentos relacionados a Salas Limpas desde 1988. É diretor da empresa Análise Consultoria e Engenharia que atua na área de consultoria, comissionamento e certificação de áreas limpas e ambientes controlados.
Oswaldo Bueno de Siqueira – Engenheiro Mecânico de Projeto, formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), com pós-graduação em Ar-Condicionado pela mesma faculdade. É consultor em engenharia para equipamentos de transferência de calor e controle de umidade em processos industriais, frio alimentar e conforto humano, através da Empresa Oswaldo Bueno Engenharia e Representações Ltda. Consultor da ABRAVA - Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento -; Gestor do Comitê Brasileiro 55 da ABNT Ar-Condicionado, Refrigeração, Ventilação e Aquecimento. É, também, professor em cursos de informação na ABRAVA/SMACNA e Lato-Sensu em condicionamento de ar e de refrigeração na FEI – Faculdade de Engenharia Industrial. Trabalhou como engenheiro, gerente e diretor de fabricantes de equipamentos de condicionamento de ar: Starco, Coldex Frigor, Trane e York no período de 1975 a 2000.
Dante Boccuto Junior – Engenheiro Civil formado pela Universidade Mackenzie (1980), com pós-graduação em Administração especializado em Marketing (1984) e MBA-USP em Controladoria (1996). Iniciou as atividades na indústria de Tintas Coral, na área comercial de vendas a construtoras, atuando na especificação técnica e, em seguida, assumiu a Regional de Vendas São Paulo. Em 1985, já na Dorma como Supervisor de Vendas Regional, Vendas Nacional (1988) e, em 1990, Gerente de Marketing e Novos Produtos. No ano 2000 assumiu a Gerência de Divisão Automatic para América Latina, expandindo a linha de produtos Portas Automáticas, Portas Giratórias, Portas Curvas, Portas Batentes, Portas Articuladas, e produtos especiais. Foi Coordenador da ABNT na elaboração da NBR 15202:2006-Sistemas de Portas Automáticas, concluído esta primeira fase em 2006. Atualmente é responsável pela Linha de Produtos Automatic e Divisão de Serviços para toda linha de produtos, atuando como Engenheiro Responsável da Dorma e Instalações.