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Selo Envision certifica obras de infraestrutura

Dividida nas categorias qualidade de vida, alocação de recursos, clima e análise de riscos, certificação pede integração com a comunidade que ocupa a região onde a obra será executada

Publicado em: 06/03/2014

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Certificação Envision - Infra

O mercado nacional da construção civil deve ganhar uma novidade no segmento da sustentabilidade: está chegando ao país a certificação Envision, de responsabilidade do ISI – Institute Sustainable Infrastructure – e voltada para obras de infraestrutura tanto públicas quanto privadas. “Essa certificação é bem nova e tem um histórico ainda pequeno. No Brasil, não há nenhuma obra certificada seguindo os critérios da Envision, mas já iniciamos estudos para projetos esportivos e empresas ligadas à área de energia, setores que perceberam o valor que essa certificação pode trazer para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura”, explica o arquiteto David Douek, diretor da OTEC.

Segundo o consultor, uma das diferenças desse novo selo é a integração que o projeto deve ter com a comunidade que ocupa a região onde a obra será executada. “Por exemplo, devem ser documentadas reuniões entre o desenvolvedor do projeto e a sociedade, em que são discutidos os impactos da construção. Para se obter a certificação, também serão analisados critérios como o desenvolvimento da economia local e o aumento da produtividade da região que sofre interferência das obras”, explica. Além da questão social, a Envision preza pelos critérios já conhecidos, como consumo de energia e água. “A parte física e operacional do empreendimento é levada em consideração, mas o peso maior é a preocupação em relação à comunidade local”, complementa.

Como a certificação vale para obras de infraestrutura, nem sempre haverá uma edificação prevista no projeto, entretanto, isso não significa que prédios ficam impossibilitados de receber a Envision. Quando fazem parte de um conjunto, como em um aeroporto que contempla outros edifícios, além dos terminais de passageiros, há critérios que medem a sustentabilidade dessas construções. “A certificação traz para o processo de projeto a possibilidade de construir um equipamento que garante custo operacional mais baixo e eficiente. A sociedade também recebe melhor essa obra simplesmente pelo fato de ela não ter sido imposta, e sim negociada durante todo o seu desenvolvimento”, afirma o profissional.

Categorias

A parte física e operacional do empreendimento é levada em consideração, mas o peso maior é a preocupação em relação à comunidade local

A certificação Envision é dividida em categorias: qualidade de vida, alocação de recursos, clima e análise de risco, ambiente natural e liderança. Em cada uma das categorias estão os critérios que, se cumpridos, somam pontos para obtenção do selo. “Em qualidade de vida, por exemplo, são observados itens como o estímulo ao desenvolvimento sustentável da região; treinamento dos moradores locais para que possam, depois, trabalhar no local; melhorar a qualidade da saúde e segurança das pessoas; procedimentos para mitigar o ruído, promover acessibilidade, mobilidade, uso de transportes alternativos, preservação histórica dos aspectos culturais, entre outros”, detalha o profissional.

Já a alocação de recursos é uma categoria que traz a tona alguns critérios já conhecidos de outras certificações, como a utilização de materiais reciclados ou regionais, uso de energia renovável e o comissionamento de sistemas. “Para a categoria clima e risco, estão previstas ações como minimizar a emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Para atender aos requisitos dessa categoria é preciso olhar para o projeto, atento às ameaças que o clima pode representar, ou seja, se na região há uma tendência de enchente ou seca, o projeto pode prever alternativas para solucionar essa condição. A ideia principal é que, por exemplo, em uma área com tendência a alagamentos, o projeto ofereça condição de escoamento dessa água de maneira a evitar enchente na redondeza”, avalia o consultor.

Na categoria ambiente natural é onde estão alocadas as preocupações em manter as características originais do ambiente. Por exemplo, canalizar um rio não é uma atividade bem vista pela certificação. Ações de preservação das margens, das áreas verdes e diversidade do local são as responsáveis por uma boa avaliação nesse quesito.

“Por outro lado, o critério liderança destaca o envolvimento da comunidade com o desenvolvimento do projeto. É crucial promover o comprometimento da sociedade, estabelecer uma gestão sustentável, incentivar a colaboração e trabalho em equipe, garantir que existam pessoas que representam diversos setores da comunidade envolvidas no processo e perseguir oportunidades de sinergia com materiais, privilegiando soluções mais rentáveis”, diz Douek.

Pontuação

A certificação traz para o processo de projeto a possibilidade de construir um equipamento que garante custo operacional mais baixo e eficiente. A sociedade também recebe melhor essa obra simplesmente pelo fato de ela não ter sido imposta, e sim negociada durante todo o seu desenvolvimento

Outra particularidade do novo selo é a falta de pré-requisitos ou itens mandatórios, como no LEED. A Envision não impõe nenhuma exigência pontual, mas tem seu sistema de pontuação, critérios e créditos a serem atendidos, assim como há níveis diferentes de certificação. “É preciso atingir uma quantidade mínima de critérios. Entretanto, se uma questão pontual deixar de ser atendida não impede que o empreendimento obtenha a certificação. O sistema de pontuação prevê que quanto mais itens forem atendidos, melhor será o nível da Envision, sendo que 20% da pontuação total já é suficiente para conquistar a certificação mínima”, afirma o consultor, comentando que a falta de pré-requisito é um incentivo e não torna a Envision proibitiva, e sim uma certificação baseada em incentivar o desenvolvimento da sustentabilidade.

Grandes empresas, normalmente responsáveis pelas obras de infraestrutura, são obrigadas a gerar relatórios de sustentabilidade corporativa, onde devem reportar todas as preocupações ambientais que tiveram em seus projetos. “Elas são bastante cobradas sobre o impacto ambiental e humano que geram quando assumem obras de envergadura representativa e a Envision vem para ajudar no processo de responder esse questionamento”, finaliza Douek.

Colaborou para esta matéria

David Douek – Arquiteto e administrador, é fundador e diretor da OTEC, empresa de consultoria de desempenho do ambiente construído, atuando em áreas que vão do urbanismo ao projeto, obra, operação e manutenção do edifício. Inclui serviços de processo de certificações como LEED, AQUA e Procel Edifica. É professor convidado de universidades como a Escola Politécnica da USP e do Mackenzie, e palestrante em congressos nacionais como o Green Building Brasil, e internacionais, como o Ecobuild, em Londres. Assina artigos técnicos publicados na mídia especializada em construção civil e sustentabilidade. Introduziu no mercado brasileiro o software inglês de simulação de desempenho energético DesignBuilder, utilizado pelos laboratórios de auditoria do Procel Edifica.