Setor de fundação trabalha com 70% do desempenho de 2012
Empresas tentam reagir contra os efeitos da crise. Fabricante de equipamentos tem queda de 50% no faturamento
O segmento de fundações é termômetro para se avaliar o desempenho dos mercados de equipamentos e da construção pesada, por ser o primeiro a sentir a estagnação ou o aquecimento. Base de tudo o que é construído, é a primeira etapa de uma obra, alicerce estrutural de todo um projeto.
Os negócios nessa área são impactados pela conjuntura econômica brasileira. As empresas que fazem fundação trabalham hoje com 70% do faturamento de 2012 e esse percentual deve ser mantido em 2015, sem queda nem crescimento, estima o engenheiro Walter Iório, diretor da Enbrageo Engenharia.
Tanto fabricantes de equipamentos como empresas executoras se ajustam a essa realidade. Elas reduzem custos, inclusive de mão de obra. “Houve entusiasmo com relação aos investimentos que seriam feitos na infraestrutura brasileira por ocasião da Copa, mas eles foram insuficientes para potencializar os negócios no setor de fundações”, explica Walter.
Ainda de acordo com ele, as empresas investiram valores elevados em equipamentos e contratação de funcionários. A redução das obras gerou falta de trabalho, endividamento, além da queda nos preços praticados na prestação de serviços. “Hoje os valores recuaram para os mesmos praticados em 2008 e 2009, embora os custos estejam elevados”, observa Walter.
No Brasil, o Rio de Janeiro é o estado onde as obras fluem melhor, principalmente em razão dos investimentos feitos para as Olimpíadas de 2016. Toda a infraestrutura da capital carioca está sendo modernizada, o que motiva empresas particulares a investirem em hotelaria, shoppings centers, entre outros empreendimentos.
Nova linha de produtos
A CMV Brasil, uma das únicas fabricantes de perfuratrizes e martelos hidráulicos de tecnologia européia, veio para o país em 2010 e começou a produzir na fábrica instalada na cidade de Vargem Grande Paulista, interior de São Paulo. Hoje os equipamentos produzidos nessa fábrica podem ser financiados pelo Finame.
A empresa é referência em perfuratrizes hidráulicas com diversificada utilização, como estaca raiz, tirante, jet grounting, hélice contínua, martelo hidráulico, estaca de deslocamento, estaca escavada, parede diafragma “Clam Shell”, martelos hidráulicos e importa martelos vibradores.
Os martelos estão conquistando boa aceitação no mercado. Segundo o diretor da empresa, Giuseppe Senatore, principalmente pela possibilidade de serem adaptados também em escavadeiras que os usuários possuem na frota. “Assim, o cliente consegue com um investimento mais baixo estar preparado para o trabalho, com acessórios que tornam os equipamentos multifuncionais nesse momento de baixa atividade”, explica Giuseppe. Dependendo do martelo, a perfuração pode chegar até 60 ou 70 metros de profundidade.
Para ele, o momento é desafiador e, ao mesmo tempo, frustrante. Na época que Giuseppe montou a fábrica, o Governo brasileiro ventilava o discurso de prosperidade econômica para os anos seguintes e, de fato, o panorama naquele período era de muitas obras em andamento.
“Hoje o país vivencia uma crise política, não apenas econômica. Muitas empresas que se instalaram no Brasil na mesma época da CMV, não resistiram. Para nós, não há outro objetivo além de manter a vitalidade da empresa e continuar apostando no país. Afinal, as crises são passageiras. Temos boa experiência internacional em lidar com elas e o país precisa crescer”, ressalta Giuseppe.
“A produção da fábrica caiu 50% no faturamento. Estamos produzindo produtos diferentes com valores mais acessíveis, como os martelos. Com isso, obtemos um lucro que mantém o desempenho da empresa”, informa o diretor.
A empresa já começou a exportar para a América Latina e planeja fornecer para países como Chile, Peru, Colômbia e México. Em quatro anos, venderam mais de 150 equipamentos e, em apenas alguns meses, mais de 30 martelos vibradores, que também podem ser alugados.
Mercado imobiliário terá retração de até 5,5% em 2015
Uma das áreas mais dinâmicas para o setor de fundações é a construção imobiliária, que em 2015 também está desacelerada. “Todos os números e tendências apontam uma retração de pelo menos 5,5% do PIB da construção civil decorrente da estagnação econômica brasileira”, ressalta o engenheiro Sussumu Niyama, diretor da Tecnun Construtora, tendo como base as pesquisas de tendências de mercado do Sinduscon-SP, com apoio da FGV.
O desempenho atual da construção imobiliária deve-se às obras em andamento, mas as incertezas sobre o desempenho da economia deixam as pessoas receosas de investirem em imóveis. No mercado imobiliário, se não houver lançamentos não há obra.
“Todas as grandes corporações reduziram drasticamente os lançamentos de empreendimentos residenciais e comerciais. A cidade de São Paulo tinha uma média de 27 mil imóveis em estoque no final de 2014. Se os lançamentos continuassem nesse mesmo ritmo, só haveria aumento de estoque e dificuldades nas vendas”, analisa Niyama.
Além disso, o nível de distratos está alto. “Há dois ou três anos, havia maior confiança dos consumidores para investirem num lançamento de empreendimentos devido ao bom desempenho do mercado e valorização dos imóveis. Mas a retração da economia desestimulou os investidores a darem continuidade. Muitos, inclusive, abriram mão do que já haviam investido para evitar endividamento”, conta Niyama.
“Contudo, em qualquer crise, sempre há oportunidades que devem ser exploradas no mercado”, arremata o diretor da Tecnun Construtora.
Colaboraram para esta matéria
- Walter Iório – Diretor da Enbrageo Engenharia
Giuseppe Senatore – Diretor da CMV Brasil
Sussumu Niyama – Diretor da Tecnun Construtora