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Sustentabilidade, no canteiro e no edifício

Milton Bigucci Jr. explica como a MBigucci encontrou o caminho para a sustentabilidade

Publicado em: 03/02/2010

Texto: Redação AECweb

Entrevista: Milton Bigucci Junior

Sustentabilidade, no canteiro e no edifício

Redação AECweb


A MBigucci, com 26 anos de atuação no setor imobiliário e comercial na região do ABC paulista, comemora mais de 500 mil m2 de área construída, o equivalente a cerca de 5 mil unidades entregues. Usuária do Construcompras, a empresa atualmente ‘toca’ 12 canteiros simultâneos, num total de 20 edifícios, inclusive na capital. A MBigucci encontrou seu caminho para a sustentabilidade ao adotar procedimentos de canteiro que garantiram a ela a certificação ISO 14000 de impacto ambiental, conforme conta o engenheiro Milton Bigucci Junior, diretor Técnico, em entrevista ao AECweb. O conceito se estende aos empreendimentos, dotados de recursos como estação de tratamento de água cinza e válvulas de descarga sanitária de dois fluxos.

AECweb – A MBigucci atua basicamente na região do ABC?
Bigucci - Estamos sediados em São Bernardo e iniciamos nosso trabalho no ABC. Nos últimos anos, abrimos o leque para São Paulo, onde estão 50% de nossos empreendimentos. Apesar de 90% serem de obras residenciais, nós já construímos galpões industriais, lojas e supermercados e, agora, estamos no segundo prédio comercial. Em residenciais, atendemos prioritariamente o segmento de médio padrão, mas temos obras de alto padrão e, também do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’.

AECweb – A empresa já construía para a faixa de 6 a 10 salários mínimos?
Bigucci -
Nós já vínhamos construindo com financiamento da Caixa e adaptamos os projetos para o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. Paralelamente, nosso departamento de planejamento se dedica a viabilizar moradias para o segmento de zero a 3. O sistema construtivo ideal ainda é o da alvenaria estrutural com uma arquitetura típica do que chamamos prédio ‘H’, pelo seu formato – com quatro pavimentos, sem elevador. Racionalizando o sistema, é possível atingir um custo adequado para essa faixa de renda. O problema é que não dá para encaixar em terreno algum. As grandes empresas construtoras estão apanhando e, talvez, só seja viável fora de São Paulo.

AECweb – Seria uma obra de custos bem enxutos?
Bigucci -
Isso mesmo. Pelos estudos que estamos concluindo, o bloco estrutural ainda é a melhor solução em função da cultura do brasileiro e, também, porque a execução não depende do fornecimento de terceiros, como o steel frame. A opção por casa de madeira, comum nos Estados Unidos, está descartada porque, aqui, seria entendida como ‘barraco’. Depois, temos que economizar nos detalhes: ao invés de azulejo até o teto, uma simples fieira revestindo a parede protegendo a pia, por exemplo.

AECweb – Como a empresa chegou à certificação ISO 14000?



Bigucci -
Fomos uma das primeiras construtoras de São Paulo a obter a certificação ISO 9.000. Em meio ao processo de melhoria contínua, passamos a organizar o canteiro de obra, envolvendo limpeza e reciclagem. Minha irmã, Roberta, que é a nossa administradora de qualidade, e eu, que sou da área técnica, caminhamos em conjunto e contratamos uma consultoria – a Obra Limpa – para nos ajudar no reuso e reciclagem de materiais do canteiro. A partir daí, não tínhamos mais lixo, tudo passou a ser enviado para empresas de reciclagem, do papelão e do concreto à madeira. O encaminhamento natural foi a certificação ISO 14000, de impacto ambiental, conquistada em 2008. São apenas 12 construtoras em todo o Brasil com essa certificação.

AECweb – Esse é um processo complicado?
Bigucci - Sim, bem mais complicado que simplesmente reciclar. Envolve procedimentos como medir a fumaça do caminhão que entra na sua obra, mesmo que seja do fornecedor; ter no canteiro um lava-rodas; tratar e reaproveitar a água dos chuveiros para uso na bacia sanitária, entre outras ações. Implementar todas as exigências nos trouxe a grande surpresa de contar com o envolvimento do pessoal de obra. É até mais fácil ter o apoio deles do que dos funcionários do escritório. Passamos a distribuir cartilhas com orientações para o cotidiano de suas famílias, com dicas de economia da água no banho, ao escovar os dentes e se barbear. O ambiente no canteiro ficou mais agradável para todos.

AECweb – Foi implantada estação de tratamento de águas cinzas no canteiro?
Bigucci - Isso mesmo. Também instalamos garrafas pets com água no teto dos escritórios dos canteiros para iluminar o ambiente e economizar energia elétrica. Todas essas ações nos garantiram a certificação. Equivale a ter um canteiro sustentável, pois os critérios são os mesmos.

AECweb – Houve redução de custos no canteiro?
Bigucci - Nós não fizemos esse cálculo, mas tenho certeza de que reduz, apesar de envolver algum gasto para a retirada dos resíduos recicláveis. A economia mais palpável está na água, luz e em limpeza da obra – houve uma redução de 70% no número de funcionários que atuam na limpeza do canteiro. Percebo, ainda, a satisfação das pessoas e o prazer de estar ou visitar um canteiro organizado e limpo, o que já compensa qualquer custo. O orçamento da obra já não ultrapassa o previsto, o que é significativo.

AECweb – A sustentabilidade também foi levada para os empreendimentos?
Bigucci - O cliente da construtora é informado de todas as nossas ações. Inclusive, criamos um logo e slogan – ‘Big Vida – Responsabilidade Ambiental – que informa essa postura. Nos empreendimentos, já estamos implantando estações de tratamento de água cinza para reaproveitamento com fins não-potáveis e deixamos pronta a previsão de medição individual de água, assim o cliente não precisa fazer adaptação, além das válvulas de descarga de dois fluxos. E, no paisagismo, mesmo dos empreendimentos para a baixa renda, optamos por árvores frutíferas, das quais os condôminos poderão se beneficiar.

AECweb – Em todos os prédios?
Bigucci - Depende do produto. Para o ‘Minha Casa, Minha Vida’, esse custo adicional não é assimilado pelo comprador. É uma contradição, pois precisamos convencer o cliente de que fica mais caro agora, porém, ele vai economizar para o resto da vida. Quando se trata do segmento de baixa renda, ele briga por causa de R$ 500 a mais no produto.

AECweb – A MBigucci já está adotando os coletores solares?
Bigucci - Iniciaremos com os novos prédios, que terão que obedecer a lei municipal. Os projetos em estudo mostram que ainda está muito caro, além de enfrentarmos dificuldade técnicas com relação à tubulação e o apoio elétrico ou a gás.

AECweb - A construtora está utilizando, também, o barramento blindado?
Bigucci - Há três anos, fomos os pioneiros no ABC a substituir o cabeamento elétrico convencional pelo barramento blindado nos edifícios residenciais. O sistema traz vários benefícios, como a redução no tempo de execução das instalações elétricas, dando maior agilidade à obra; otimização na condução de eletricidade, evitando desperdícios; redução de 50% do tamanho do centro de medição, deixando mais área livre para uso comum. Já entregamos mais de 300 apartamentos com esses sistemas e tivemos uma redução de custo entre 5% e 7% na parte elétrica. Apenas nos prédios mais baixos mantemos o cabeamento, pois, nesse caso, o barramento blindado não compensa.

AECweb - As tecnologias construtivas ajudaram a reduzir a assistência técnica?
Bigucci - Os sistemas construtivos que incorporam evoluções tecnológicas, de fato, reduzem a assistência técnica. Utilizamos, por exemplo, os shafts visitáveis que permitem realizar manutenção do sistema hidráulico sem quebradeira.O primeiro empreendimento nosso com 95% de tubulação visitável está sendo entregue este mês – são duas torres, com 90 apartamentos cada. Tivemos receio de que o cliente estranhasse, mas a maioria gostou e tem consciência de que o sistema vai facilitar qualquer reforma ou manutenção. E nosso pessoal de assistência técnica comemora porque o trabalho que antes levava três dias, hoje é feito em horas, é só abrir, arrumar e fechar.

Redação AECweb