O que é Tesoura Telhado
Usadas para telhados inclinados, ajudam a suportar o peso e vencer grandes vãos
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A escolha do sistema de tesouras em telhados é um artifício técnico e estético. Segundo a arquiteta Flavia Ralston, em ambientes com pé-direito a partir de 4 m de altura já é possível a utilização das tesouras. A decisão envolve cálculos técnicos, de resistência, análise do tamanho dos vãos entre outros estudos, que devem incluir a fundação necessária para suportar esse tipo de estrutura. “A tesoura é um elemento que ajuda tanto no suporte do telhado, em caso de grandes vãos, como também possibilita a criação de soluções estéticas ímpares, como o uso do eucalipto roliço com aço, por exemplo, ou colocando uma iluminação na estrutura que confere diferencial ao ambiente”.
O uso de tesouras pressupõe que o telhado é inclinado. “Somente assim seu uso faz sentido. Se for um telhado plano, o ideal é fazer um sistema homogêneo, contemporâneo e clean”, diz Flavia. Ela explica que no caso de um salão quadrado, de 20 por 20 m, por exemplo, quando o cliente não quer nenhum pilar central, o uso da tesoura estrutura e barateia o telhado. “Todas as terças e vigotas podem ser diminuídas, uma vez que todo o peso do telhado estará distribuído pelas tesouras”.
Madeiras
A tesoura é um elemento que ajuda tanto no suporte do telhado, em caso de grandes vãos, como também possibilita a criação de soluções estéticas ímpares, como o uso do eucalipto roliço com aço, por exemplo, ou colocando uma iluminação na estrutura que confere diferencial ao ambiente
O grande problema, hoje, é em relação à dificuldade de encontrar madeiras nobres para telhado, com os certificados ecológicos e de manejo. “Eu costumo brincar que nunca vejo uma área de manejo de jatobá ou maçaranduba, por exemplo”, diz. Entre as opções que são mais facilmente encontradas no mercado e pesquisadas pela Universidade de São Paulo (USP), estão a Pequi e a Garapeira. “Só que essas madeiras não são tão resistentes como a Itaúba, por exemplo, que se encontra em poucos lugares e entre as remanescentes é uma das melhores opções”, comenta.
De acordo com Flavia Ralston, a madeira não pode ser resistente somente ao ataque de pragas. Ela tem que ser uma madeira específica para resistências longitudinais. “A viga não pode flambar. Quando isso acontece é porque o telhado foi mal dimensionado, isso quer dizer, há um vão maior do que a viga pode suportar”.
Nos últimos dez anos, principalmente pelas exigências da sustentabilidade, uma boa opção é trabalhar com eucalipto roliço tratado autoclavado. Mas alerta que é importante saber a procedência do produto. “Não pode ser qualquer Eucalipto. Falta informação no mercado e muitas espécies não são adequadas para estruturas de telhados”, ressalta.
O eucalipto roliço é praticamente o tronco da árvore – rústico e bonito – tem procedência e é sabido que existe reflorestamento na maior parte do país. “É importante saber também como é feito o tratamento da madeira. O ideal é ter empresas idôneas que garantam a resistência tanto para a não flambagem como ao combate às pragas”, diz a arquiteta. Já o uso da madeira verde em tesouras não é recomendado. “O tronco natural movimenta e pode abrir ao secar. Em 99% das vezes, quando seca, diminui de tamanho e encolhe”.
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Estrutura Metálica para Telhados
Tipos de tesouras
São vários os tipos de tesoura, como a inglesa, invertida, tradicional, meia tesoura entre outras. “É possível trabalhar com diferentes modelos de tesouras, dependendo do que o cliente quer e da estética do telhado. Em alguns casos, as tesouras são opcionais, mas em grandes vãos são fundamentais”, diz Flavia.
A viga não pode flambar. Quando isso acontece é porque o telhado foi mal dimensionado, isso quer dizer, há um vão maior do que a viga pode suportar
“A tesoura inglesa é feita de madeiras em sanduíche e com uma estrutura mais econômica, duas vigas menores e uma terceira no meio, maior, segurando as outras com parafusos de aço”, explica. Mas as tesouras podem ser mais jogadas, robustas, com mais ou menos personalidade, dependendo do gosto do cliente. “O importante é que a tesoura seja extremamente bem feita – encaixes, parafusos etc”.
Outra opção são as tesouras metálicas feitas com viga T e as de treliça metálica. “Atualmente, há uma tendência na arquitetura de deixar os elementos construtivos aparentes, tornando os componentes estéticos e decorativos. Aqueles materiais de menor valor, como tijolo, bloco, ferro, parafuso entre outros, voltam a ganhar destaque”, comenta a arquiteta. E mais: “Há certo resgate do modernismo, mas, atualmente, há a preocupação com a bioarquitetura e economia de custos também”.
Por fim, existem as tesouras em concreto, que servem para dar claridade e luminosidade ao telhado. “Abrir as alvenarias e deixar as tesouras estruturais de concreto à vista proporciona um visual muito interessante. Cuidado somente porque o concreto tem um problema de flambagem maior. A viga, quando não é travada, tem um movimento grande. É preciso ficar atento com a extensão do vão para evitar que ela curve”, afirma Flavia.
Acabamentos
As tesouras podem ser finalizadas com verniz fosco ou acetinado. “O Eucalipto roliço tratado é muito bonito, a cor é interessante – meio mel –, e é possível lixar manualmente ou com lixa elétrica”, diz, lembrando que a madeira natural também tem ótimo resultado estético.
Já as madeiras serradas, comuns no mercado para telhados, são mais amareladas. “O ideal é passar um verniz marítimo, mais resistente, e um fungicida para manter a aparência natural. É possível também dar outros acabamentos para as tesouras, como a pátina, por exemplo, conferindo uma aparência de rústico provençal à estrutura – tendência que também está em alta no mercado”, comenta a arquiteta. Os telhados em tesouras sempre possuem forros e nas tesouras aparentes o forro está por cima delas.
Colaborou para esta matéria
- Flavia Ralston Arquitetura – Arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), atuou na Companhia Energética do Estado de São Paulo (CESP), participando do desenvolvimento de projetos de canteiros de obras, usinas hidrelétricas, usinas termoelétricas, hotéis, restaurantes, projetos de paisagismo, como o do Canal Pereira Barreto/SP e foi membro da equipe do projeto executivo do Memorial da América Latina com projeto e coordenação geral do arquiteto Oscar Niemeyer. O escritório atua no mercado há 20 anos nas áreas de arquitetura e urbanismo, estudos de impactos ambientais, projetos de ecoturismo, turismo sustentável e programas de preservação do patrimônio histórico. Elaborou o projeto viário e paisagístico da entrada da cidade de Atibaia/SP e a reurbanização da Rua Teodoro Sampaio, em São Paulo, destacando o projeto “Eco arte na Rua”. Participou de várias exposições, palestras e premiações como “Planeta Casa” e “Prêmio Kömmerling”, na Espanha. Hoje soma mais de 400 residências, empreendimentos hoteleiros e macrozoneamento turístico, projetados e construídos no Brasil e exterior, seguindo os conceitos da sustentabilidade e bioarquitetura.