Traço do concreto deve ser ajustado para as necessidades de cada projeto
Como ocorre com receitas de bolo, a dosagem precisa dos ingredientes é determinante para obter um concreto com as características de resistência e trabalhabilidade desejadas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Formado por cimento, agregados, água e, eventualmente, aditivos e adições, o concreto tem sua formulação definida pelo traço, que indica a quantidade certa de cada componente que constituirá a mistura. Realizar esse estudo com precisão é fundamental para a garantia de qualidade, desempenho e durabilidade das estruturas. Por meio da manipulação do traço é possível obter concretos mais ou menos resistentes ou mais ou menos fluídos, por exemplo.
Estudo de dosagem de concreto
O traço pode ser quantificado em volume, em peso, ou de forma mista, com o cimento medido em peso e os agregados em volume. Independentemente do método utilizado, o cimento é sempre usado como referência para as demais quantidades. Nos concretos preparados no canteiro, a dosagem em volume costuma ser mais empregada pela praticidade, embora ofereça menor precisão. A dosagem em massa, em contrapartida, é mais precisa, mas requer o uso de balanças.
Para expressar as proporções dos ingredientes que compõem o traço, a prática comum é estabelecer uma razão entre os materiais. Isso significa que um traço 1:2:4 consiste em uma parte de cimento, duas partes de agregado miúdo (areia) e quatro partes de agregado graúdo (pedra).
Ferramenta gratuita
Faça o download da calculadora de concreto
Como receita de bolo
Elaborar o traço de um concreto requer a análise cuidadosa de uma série de fatores, como a resistência à compressão mínima exigida pelo projeto e as características das peças a serem concretadas. Também são aspectos importantes a serem considerados a classe de agressividade do ambiente ao qual a estrutura estará exposta, a quantidade de cimento necessária para evitar fissuras, a relação água-cimento ideal, assim como a trabalhabilidade para garantir uma concretagem compactada.
“Usualmente, em função da resistência exigida no projeto (fck 25 ou fck 40, por exemplo), são definidos os materiais que serão utilizados na produção do concreto. Com base nessas informações é que se elabora o traço”, explica o engenheiro Davidson Figueiredo Deana, sócio-diretor da Ethos Soluções. Ele lembra que o traço deve ser obedecido à risca na hora de depositar o material na betoneira e que é fundamental utilizar unidades de medida padronizadas (lata cheia rasada, por exemplo) para não alterar a proporção dos materiais constituintes.
Tabela de FCK e traços de concreto
O uso de cimento ou de agregados diferentes do especificado no estudo de dosagem e a utilização de um traço padrão que desconsidere a análise específica dos agregados e das particularidades da obra são equívocos comumente associados à elaboração do traço do concreto. “Não há receita única. O traço tem que ser desenvolvido para cada exigência, conforme prescrito no projeto”, alerta Davidson Deana.
“Uma falha corriqueira é tentar seguir metodologias empíricas que não acompanham procedimentos exigidos pelas normas técnicas”, reforça o engenheiro Egydio Hervé Neto, consultor em tecnologia de concreto. Segundo ele, “não se faz um bom concreto sem dispor de um laboratório bem equipado e da coordenação de um engenheiro tecnologista experiente”.
Apenas em obras muito simples é que se pode recorrer a tabelas de FCK e traços pré-definidos. O problema é que essas tabelas não levam em conta o efeito de variações como a taxa de umidade da areia, exigindo correções para obter o abatimento e a resistência à compressão esperados. Entre as fórmulas mais populares estão o do chamado de concreto magro (traço: 1:4:8), utilizado em contrapisos, e o do concreto simples (1:3:4) empregado em calçadas.
Cimento, agregados e água
Cada material que integra o traço tem um papel importante para o resultado final da mistura. Pedra e cimento favorecem a resistência, enquanto a areia e a água interferem na consistência.
Imprescindível para garantir fluidez e trabalhabilidade ao concreto, a água deve ser acrescida sempre com base em estudos técnicos que considerem o teor de umidade da areia, e jamais ser medida no olho. Afinal, a falta de água dificulta os processos de lançamento e adensamento, gerando falhas de concretagem. Já o excesso de líquido compromete diretamente a resistência e a durabilidade do produto final.
Os requisitos mínimos para os materiais que compõem o concreto são estabelecidos pela ABNT NBR 12.655:2015 – Concreto de Cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação – Procedimento.
Tabela fck x concreto estrutural
A ABNT NBR 8953 — Concreto para fins estruturais — classifica os concretos estruturais de acordo com o fck. Essa categorização é determinada a partir do ensaio de corpos de prova moldados de acordo com a ABNT NBR 5738 — Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova — e rompidos conforme a ABNT NBR 5739 — Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos.
A ABNT NBR 8953 destaca, ainda, que os concretos com classe de resistência abaixo de C20 não são estruturais. Portanto, caso não sejam utilizados, devem ter o seu desempenho atendido conforme a ABNT NBR 12655 e a ABNT NBR 6118 — Projeto de estruturas de concreto.
Confira, na tabela abaixo, como é a classificados dos concretos nos grupos I e II de acordo com o fck.
Classe de resistência Grupo I | Resistência característica à compressão | Classe de resistência Grupo II | Resistência característica à compressão |
C20 | 20 | C55 | 55 |
C25 | 25 | C60 | 60 |
C30 | 30 | C70 | 70 |
C35 | 35 | C80 | 80 |
C40 | 40 | C90 | 90 |
C45 | 45 | C100 | 100 |
C50 | 50 |
Colaboração técnica
- Egydio Hervé Neto – Engenheiro civil especializado em tecnologia de concreto. Atua como consultor em obras com estruturas de concreto. É diretor da EHN Engenharia e Consultoria.
- Davidson Figueiredo Deana – Engenheiro civil e sócio-diretor da Ethos Soluções, empresa de assessoria em desenvolvimento tecnológico e processos construtivos racionalizados.