menu-iconPortal AECweb

‘Unitizing’, a evolução das fachadas cortinas

Sinônimo de sofisticação, as torres envidraçadas invadiram a paisagem das cidades

Publicado em: 10/02/2010

Texto: Redação AECweb

Sinônimo de sofisticação, as torres envidraçadas invadiram a paisagem das cidades em todo o mundo

‘Unitizing’, a evolução das fachadas cortinas

Redação AECweb

No Brasil, as fachadas cortinas evoluíram das estruturas em aço para o alumínio, e os sistemas se tornaram mais complexos até chegar ao unitizado, que pode receber vidro, painéis de alumínio composto (ACM) ou mesmo pedra. Testemunha dessa evolução, o consultor Antonio B. Cardoso, autor do livro ‘Esquadria de Alumínio no Brasil – Histórico, Tecnologia, Linhas Atuais, Gráficos de Desempenho’, lembra que os caixilhos e fachadas de alumínio foram introduzidos no mercado brasileiro na década de 60, coincidindo com a construção de Brasília. Na época, o novo material conquistou rapidamente espaço por apresentar vantagens que outros não conseguiam, como vedação, praticidade, leveza e acabamento.

“Já no início dos anos 70, o aço foi eliminado totalmente da fachada e o perfil de alumínio extrudado, identificado como coluna, passou a cumprir função estrutural”, destaca Cardoso. A coluna era sempre usada pelo lado externo da fachada, dando um efeito verticalizado de marcações e escondendo um pouco a planicidade do vidro. “Dez anos depois, a arquitetura mais avançada, optou por mostrar mais vidro – material que também teve considerável avanço tecnológico, incorporando recursos termoacústicos e de segurança, através do vidro laminado. Consequentemente, toda a estrutura da fachada ganhou um novo design, passando a coluna para o lado interno da estrutura”, relata. Nascia, aí, as fachadas pele de vidro.

“Apesar de toda a evolução, essa fachada ainda não oferecia a segurança necessária com relação à vedação. Embora com duas camadas, a vedação entre os perfis era desencontrada, o que impedia a vulcanização das guarnições de EPDM. Outro detalhe, é que o vidro era encaixilhado, resultando em enorme dificuldade para sua substituição”, relembra o consultor. A chegada no mercado brasileiro do silicone estrutural para fixação do vidro na estrutura de alumínio permitiu solucionar alguns problemas de vedação e, ainda, garantiu às fachadas visual com maior aparência do vidro.

“Com este novo incremento, os projetistas aperfeiçoaram o sistema de vedação, incluindo uma terceira camada de guarnições entre os perfis, num só plano, de tal forma a permitir a vulcanização do EPDM colocados nos quadros que são fixados em colunas e travessas”, diz. No novo sistema, conhecido como ‘stick’, os quadros com os vidros colados são fixados na coluna e travessa pelo lado externo. Cardoso destaca que esse sistema facilitou a eventual troca do vidro. “Devido à concepção de projeto na obra, as fachadas ‘stick’ precisam, fundamentalmente, do balancim para sua execução, em todas as fases do processo de instalação na obra”.

Sistema Unitizado

O sistema de fachadas ‘unitized’ ou, unitizado, é a mais atual inovação tecnológica em fachadas cortinas. Foi empregado pela primeira vez no Brasil na obra edifício BankBoston, em São Paulo, em 2001. Enquanto que, no ‘stick’, boa parte da montagem da caixilharia é feita na obra, exigindo, inclusive, o uso de balancins, no ‘unitizado’ o caixilho é integralmente produzido na fábrica – com gaxetas, borrachas, acessórios e vidros colados. Assegura grande velocidade à obra pois, os módulos são instalados na medida em que é erguida a estrutura do prédio. O ‘unitizado’ é estanque e um eventual vazamento ocorrerá apenas no módulo - sem transmissão para outros pavimentos -, que poderá ser tratado individualmente. “Uma das causas de vazamento em fachadas é a dilatação dos materiais em épocas de muito calor. Enquanto que, no sistema ‘stick’ a dilatação entre colunas, travessas e caixilhos ocorre de maneira integrada, no ‘unitized’, o caixilho está confinado na dilatação do seu pé-direito, portanto, vai ser muito mais difícil entrar água”, explica Antonio B. Cardoso.

A primeira fase da instalação dos módulos é a da colocação das ancoragens. “Essa peça é colocada no frontal da viga, cujo papel é nivelar e estabelecer o prumo da fachada, assim como determinar, com boa aproximação, a medida do módulo, além de receber e prender as colunas de alumínio da fachada. Como auxílio para buscar o nível, em geral são utilizados calços na base da peça de ancoragem. Já para determinar o prumo, são feitos rasgos oblongos no sentido longitudinal da peça, facilitando a regulagem”, ensina. Na sequência, são colocados os módulos.

Segundo o consultor, o ‘unitizado’ poderia ser descrito como um sistema modular, onde o módulo tem uma coluna desmembrada em macho e fêmea, e a altura do módulo alcança o pé-direito da obra. A produção desse módulo já contempla a fixação da travessa horizontal na coluna tipo macho e fêmea, sendo que o vidro é colado diretamente nessa estrutura, formando o painel modular. “Os painéis são içados a partir da base da obra e levados mecanicamente até o vão, onde são instalados, lado a lado. Todo o processo é realizado sem necessidade do balancim. As operações de chegada e manuseio dos módulos são feitas pelo lado interno da obra, com o pessoal apoiado no piso”.

Aspecto excepcional do sistema ‘unitizado’ é a velocidade para o término da fachada e, conseqüentemente, da obra. “Como dizem os americanos, o sistema permite o envelopamento da fachada, envolvendo diferentes materiais, como o uso somente do vidro, este combinado com placas de ACM, ou, até mesmo, com pedras de acabamento. Essa combinação é feita na fase do projeto do módulo”, diz, acrescentando que “já chegamos a instalar, em média, 1000 m2 por semana de trabalho. Melhor ainda: se o tipo de fachada favorecer, podemos duplicar ou triplicar esse número. Para tanto, o fabricante tem que estar preparado com equipamentos e, acima de tudo, com pessoal experiente”, recomenda.

Especificação
Para qualquer que seja o sistema utilizado nas fachadas cortinas, é importante considerar os vários elementos que compõem a caixilharia e seu processo produtivo, como os selantes, os tratamentos de superfície, vidros, isolamento termoacústico e a necessidade de ensaios em laboratórios.

“Entre os selantes, temos o silicone e o silicone estrutural – também conhecido como ‘structural glazing’ que tem a função de fixar o vidro. Este tipo de silicone não é vendido aleatoriamente no mercado, pois sua aplicação passa por um controle rigoroso”, explica Antonio B. Cardoso, observando que os silicones podem ser acéticos ou de cura neutra.

Os silicones acéticos são assim chamados por liberarem, durante o processo, odor semelhante ao de ácido acético. Devem ser especificados para superfícies não porosas, principalmente para vedar vidro e alumínio. Já os neutros, não têm esse odor, e são utilizados em superfícies porosas, como alvenaria e concreto, mas podem também vedar vidro e alumínio. “Há, ainda, a fita estrutural para colagem do vidro no alumínio, com dupla face de colagem, constituída de espuma acrílica. Especialmente moldada para uso na construção civil, também passa por controle de comercialização”, diz ele.

Alumínio pintado ou anodizado?

A especificação cabe ao projeto arquitetônico, e sua aplicação por indústrias especializadas segue normas técnicas da ABNT. A pintura eletrostática a pó poliéster é um processo que utiliza tinta composta de resina e pigmentação de alta performance, com excelente resistência aos raios solares (U.V.) e aos ambientes mais agressivos como marinho e industrial. Cardoso alerta que “algumas empresas fabricantes de silicone dão garantia de adesão sobre pintura. Porém, há sistema de projeto em que, embora o alumínio sendo pintado, a colagem é feita sobre uma superfície anodizada, que é o outro processo de tratamento da superfície do alumínio com desempenho consagrado”.

A resistência ao fogo deve ser considerada no projeto da fachada e implica em todo um processo de corta-fogo feito entre os andares e entre a fachada e a lage, para evitar a propagação da chama. “Isto é calculado para um determinado tempo, para que seja possível a evacuação das pessoas”, comenta Cardoso.

O desempenho térmico depende basicamente do vidro utilizado. Em geral, são laminados refletivos, com baixa absorção térmica, para garantir o conforto ao usuário. “São utilizados, também, os vidros duplos - conhecidos como insulados -, que são ainda mais eficientes no comportamento térmico”, diz, e prossegue: “O fato de o vidro utilizado nas fachadas ser laminado, já contribui significativamente para o isolamento acústico. O laminado é constituído por duas ou mais chapas de vidro, intercaladas por película de polivinilbutiral (PVB). Além de torná-lo um vidro de segurança, também traz a contribuição acústica, em particular se essas lâminas forem de diferentes espessuras”, ensina.

Os ensaios em câmaras contribuem significativamente para o bom desempenho da fachada. “É o momento em que se tem contato com o projeto, materiais, usinagens, montagem e instalação. Em outras palavras, é ficar íntimo do produto”, afirma, destacando que durante os testes se reúnem os responsáveis pela obra – construtora, equipe do fabricante que vai realizar a fachada e o consultor. “Todos esses profissionais, cada um com sua experiência isolada, acabam formando um bloco positivo para consolidar esta etapa”, diz.

Cardoso recomenda que a contratação das esquadrias deve ser antecipada, ao contrário da prática atual de chamar o fabricante próximo à etapa de instalação da fachada. “Nos Estados Unidos, por exemplo, se define o fabricante antes mesmo da fundação do prédio. Temos que ter o tempo devido para projetar, testar e mudar, se for o caso, sem maiores prejuízos das partes”, conclui.

Redação AECweb



Colaborou para esta matéria:
 
Antonio Cardoso
Consultor de esquadrias de alumínio, Cardoso começou a trabalhar com esquadrias, ainda criança, nos tempos dos caixilhos de ferro. Como profissional, possui destaque no mercado brasileiro de esquadrias de alumínio e em vários segmentos, como acabamentos de superfície, acessórios, equipamentos e outros. Antonio B. Cardoso é autor do livro ‘Esquadria de Alumínio no Brasil – Histórico, Tecnologia, Linhas Atuais, Gráficos de Desempenho’.