Uso de argamassa para rejunte exige conhecimento
Mercado disponibiliza diferentes tipos de produtos, mas cabe ao profissional avaliar as alternativas para obter o melhor resultado
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Mais conhecidas e empregadas, as argamassas para rejuntamento à base de cimento são constituídas por cimento portland (geralmente branco), agregados minerais, polímeros, pigmentos inorgânicos e outros aditivos. Entretanto, existem ainda as argamassas com base epóxi, produto bicomponente composto por resina epóxi e endurecedor com cargas minerais. “Infelizmente, as argamassas com base epóxi ainda não são normalizadas no Brasil, enquanto as de cimento seguem as diretrizes da ABNT NBR 14992:2003 - Argamassa à base de cimento portland para rejuntamento de placas cerâmicas - Requisitos e métodos de ensaio”, ressalta a engenheira Helena Carasek, professora da Universidade Federal de Goiás.
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A profissional também explica que na categoria dos produtos à base de cimento aparecem no mercado várias denominações como flexível, para porcelanato, para piscinas e para assentamento e rejuntamento simultâneos. “Existem ainda outros materiais especiais como os rejuntes de base acrílica, os produtos já prontos e as argamassas de rejuntamento para renovação. Todas estas denominações ainda não são especificadas por normas técnicas”, destaca.
Especificação
Infelizmente, as argamassas com base epóxi ainda não são normalizadas no Brasil, enquanto as de cimento seguem as diretrizes da ABNT NBR 14992:2003 - Argamassa à base de cimento portland para rejuntamento de placas cerâmicas - Requisitos e métodos de ensaio
Aplicáveis em quase todas as situações, as argamassas à base de cimento são classificadas pela ABNT NBR 14992 em Tipo I (AR I) e Tipo II (AR II). “A argamassa do tipo AR I é para uso em ambientes internos e externos, com aplicação restrita a locais de trânsito não intenso de pedestres e em placas cerâmicas com absorção de água acima de 3%. No caso de revestimentos externos com AR I, não se pode exceder 20 m2 no piso e 18 m2 em paredes, limite a partir do qual é exigido o uso das juntas de movimentação. Já a argamassa do Tipo II, superior nas suas propriedades, também é recomendada para ambientes internos e externos, mas com trânsito intenso de pedestres e em placas com absorção de água baixa (inferior a 3%)”, detalha a professora.
Já o rejunte de base epóxi é mais caro e deve ser aplicado principalmente para preencher as juntas de placas cerâmicas em locais com necessidade de elevadas resistências química e mecânica. “Esse rejunte tem textura extralisa e impermeável, não permitindo a aderência de sujeiras. Por esta razão é mais resistente a manchas. Este produto também tem alta resistência à formação de fungos e, por isso, é altamente indicado para áreas com necessidade de assepsia total ou com presença de agentes químicos. Atualmente, devido a uma ‘moda’, esta alternativa é empregada também para as mesmas aplicações que os rejuntes de base cimento, apresentando um desempenho superior, porém com as desvantagens do alto custo e da dificuldade de aplicação”, diz Helena.
Em áreas molhadas, como no caso do boxe de chuveiro, deve ser feita a impermeabilização antes da aplicação das placas cerâmicas para garantir a total estanqueidade da parede. “As peças bem rejuntadas propiciam boa estanqueidade para as paredes, mesmo com a aplicação de uma solução porosa, ou seja, de base cimentícia. Nesse caso, é importante também que o serviço seja bem executado para não surgirem frestas mal preenchidas por onde a água passará”, recomenda a engenheira, afirmando que para bem especificar este material, além do conhecimento sobre os tipos de argamassa, o profissional tem de ter atenção à espessura das juntas, que devem ser definidas em função do tipo de placa cerâmica e também do modelo de rejunte que será empregado.
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Aplicação
O dimensionamento da junta de movimentação envolve determinar o seu posicionamento (local mais adequado), largura, profundidade e o seu material de preenchimento. A largura e quantidade (espaçamento) dessas juntas dependem das condições de exposição dos revestimentos cerâmicos na fachada, da movimentação da estrutura (base do revestimento) e vários outros aspectos
A aplicação do rejunte à base de cimento só deve ser iniciada, no mínimo, três dias após a colocação das placas cerâmicas. Momentos antes é preciso umedecer as juntas onde a solução será aplicada, principalmente no caso de ambientes expostos ao sol ou em regiões com clima muito quente e seco. Outra recomendação é manter as juntas limpas e desobstruídas. “Após misturar bem, o produto deve ser pressionado sobre as juntas de forma a garantir o perfeito preenchimento. Para tanto, podem ser usadas espátulas de plástico flexível, rodos de borracha, desempenadeiras especiais e até mesmo o chinelo do tipo ‘Havaianas’ – estas sandálias têm uma borracha flexível que permite uma aplicação adequada do rejunte no interior das juntas”, sugere Helena.
Após a aplicação e a retirada do excesso de argamassa é preciso frisar o rejunte com uma ferramenta de madeira com ponta arredondada, garantindo a total penetração do produto. Com uma esponja seca é feito o acabamento final e a limpeza grossa. Para uma boa execução, alguns cuidados são necessários:
- Colocar a quantidade de água indicada pelo fabricante;
- Misturar bem o produto, garantindo sua homogeneização;
- Verificar a necessidade de repouso após a mistura, geralmente de 10 a 15 minutos para que o polímero possa agir;
- Usar a argamassa após, no máximo, cerca de duas horas da mistura com a água, caso contrário iniciará a pega do cimento (este tempo depende também do clima);
- Atenção para a ferramenta de aplicação não arranhar as placas cerâmicas.
As juntas de movimentação, frequentemente chamadas de junta de dilatação, não são preenchidas com argamassa de rejuntamento e sim com selantes, geralmente de poliuretano. “O dimensionamento da junta de movimentação envolve determinar o seu posicionamento (local mais adequado), largura, profundidade e o seu material de preenchimento. A largura e quantidade (espaçamento) dessas juntas dependem das condições de exposição dos revestimentos cerâmicos na fachada, da movimentação da estrutura (base do revestimento) e vários outros aspectos”, diz a engenheira.
Manutenção
A manutenção básica é a limpeza das placas cerâmicas e do rejunte. Para tanto, deve-se utilizar produtos neutros e ferramentas não abrasivas. Alguns procedimentos inadequados de limpeza podem comprometer a vida útil do revestimento. “Um erro comum é a utilização de elementos ácidos que podem atacar o cimento, dissolvendo-o”, explica.
Caso exista uma sujeira de difícil remoção e seja inevitável o uso de componentes ácidos, devem-se ter alguns cuidados especiais:
- Fazer um teste em uma pequena região para verificar se a limpeza não comprometerá a integridade das placas cerâmicas e nem do rejunte;
- Saturar com água limpa toda a região que será tratada com produto ácido, isto evita que o composto penetre dentro das juntas e ataque a argamassa e o efeito do ácido será apenas superficial;
- Aplicar o produto na diluição indicada pelo fabricante, nunca concentrado; e após a limpeza com esfregação, retirar totalmente o material de limpeza, novamente com água limpa.
Helena indica também que é preciso fazer a revisão dos rejuntes periodicamente quanto a frestas, vazios e fissuras. “Nestes casos, a água pode entrar pelo rejunte e, além de produzir infiltrações, pode provocar o descolamento das placas cerâmicas. Portanto, é preciso preencher os vazios com uma nova argamassa de rejuntamento, garantindo a estanqueidade do revestimento”, afirma. Para manter sua cor, as argamassas coloridas dependem da qualidade do material de rejunte, da natureza (orgânica ou inorgânica), da quantidade e da cor do pigmento empregado na sua constituição, além das condições de exposição das juntas. Sob ação dos raios solares, alguns pigmentos são afetados, principalmente os orgânicos que podem ser destruídos pelos raios UV. Por exemplo, os rejuntes que sofrem despigmentação mais facilmente são os azuis, verdes e pretos.
É bom saber Dentre as diferentes argamassas à base de cimento existe no mercado a solução denominada flexível, que não faz parte da categoria normalizada e fica a cargo dos fabricantes indicarem suas características. “Estes produtos são classificados como tipo II da ABNT NBR 14992. Assim, toda argamassa de rejuntamento flexível é classificada como AR II, mas nem toda AR II é considerada flexível, pois depende da quantidade de polímeros. Essas argamassas, por terem mais polímeros, são flexíveis e muito interessantes para uso em fachadas de edifícios onde os revestimentos são submetidos a altas tensões devido às movimentações das placas cerâmicas”, comenta a professora.
Alguns tipos de placas cerâmicas pedem rejuntes especiais, como os porcelanatos devido às suas características de baixa absorção de água. “Para estes materiais são encontrados no mercado rejuntes próprios. Como as pastilhas, em que podem ser empregadas as argamassas de assentamento e rejuntamento simultâneos, mas isto não é obrigatório. Já para pedras e várias placas cerâmicas existem argamassas mais específicas para o assentamento (colante), mas não para o rejuntamento. Algumas pedras naturais, por exemplo, exigem cuidados especiais não com o tipo de rejunte e sim com sua aplicação, como passar uma fita-crepe nas beiradas das peças para protegê-las antes da colocação do rejunte. Outro cuidado é a escolha da argamassa adequada para juntas com larguras diferentes”, finaliza Helena.
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Colaborou para esta matéria
- Helena Carasek – Engenheira civil pela Unisinos, Mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Cursou Pós-doutorado no INSA-Toulouse, França. Ocupa o cargo de professora na Escola de Engenharia Civil e no Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Construção Civil e Estruturas da Universidade Federal de Goiás. Também é coordenadora do NUTEA - Núcleo de Tecnologia das Argamassas e Revestimentos - da Universidade Federal de Goiás (UFG) e coordenadora do GT-Argamassas da ANTAC – Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Tem mais de 200 artigos publicados em periódicos e anais de congressos, além de mais de 30 trabalhos orientados e defendidos de mestrado e doutorado. É autora de cinco capítulos publicados em diferentes livros e também escreveu um livro sobre argamassas. Participou de várias comissões de estudo de normalização da ABNT. É organizadora do I Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas, em 1995, em Goiânia, e em 2006, recebeu a mais alta condecoração do Estado de Goiás, a ‘Comenda da Ordem do Mérito Anhanguera’, por seu destaque em ensino e pesquisa.