Uso de vidro e estrutura metálica resulta em edifícios flexíveis e arrojados
Veja como deve ser feita a interface entre esses materiais, garantindo vedação, estanqueidade e segurança às edificações. É preciso considerar ações do vento, carregamento e outros esforços
A combinação entre vidro e aço garante excelentes resultados (crédito foto: Marcelo Aniello)
O vidro, quando incorporado ao aço, é um elemento-chave na arquitetura moderna. São inúmeros os projetos em que o material trabalha em perfeita sinergia técnica e estética com as estruturas metálicas. Ele está presente em coberturas de obras com modernos conceitos de vedação e nos fechamentos verticais de edifícios, vãos de lobbies ou átrios de shopping centers.
“Nos fechamentos verticais, os vidros podem ser aplicados nas tradicionais esquadrias de alumínio ou ainda em esquadrias com vidros agrafados, com furações e uso de peças e parafusos de aço inox tipo spider glass, responsáveis pela ligação mecânica do material diretamente na estrutura metálica”, observa Crescêncio Petrucci Júnior, diretor técnico da Crescêncio Consultoria e Engenharia.
Além dos vidros com furos, sistemas de fixações com peças pontuais conhecidas como path fiting, que utilizam o mesmo princípio das esquadrias com sistema spider glass, também estão disponíveis para uso. Nos dois modelos de fixação os vidros geralmente são do tipo temperado e laminado para suportar cargas pontuais e garantir bom nível de segurança. Projetos especiais podem demandar ainda vidros de controle solar ou serigrafados.
VIDRO E METAL
O mercado brasileiro oferece um amplo leque de opções de vidros e sistemas de fixação. Os critérios de escolha do material, no entanto, não estão necessariamente subordinados ao tipo de estrutura da edificação, mas sim às demandas específicas de cada projeto, tais como isolamento acústico, controle de radiação solar e de iluminação.
Se o vidro vai desempenhar papel estrutural em conjunto com a estrutura metálica, deve ser calculado de maneira diferenciadaRemy Dufrayer
Geralmente, as edificações construídas com estruturas metálicas apresentam maior amplitude de movimentação quando são impactadas pelo vento, carregamento e outros esforços. Por conta dessas características, cabe à esquadria – elemento de fixação dos vidros –, absorver esse efeito.
Segundo a NBR 7199 – Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações, todos os esforços que a estrutura sofrer em relação à variação não deverão ser transferidos ao vidro, sob pena de quebras. “A estrutura absorve as variações do edifício e não as transfere ao vidro, a não ser que o vidro seja projetado considerando isso. Se o vidro vai desempenhar papel estrutural em conjunto com a estrutura metálica, deve ser calculado de maneira diferenciada”, observa Remy Dufrayer, gerente de desenvolvimento de mercado da Cebrace.
APLICAÇÃO DIRETA
De modo geral, o vidro não é aplicado diretamente sobre o esqueleto de aço, cabendo à esquadria fazer a interface entre esses dois elementos. Embora possível, a aplicação direta do vidro na estrutura metálica é muito rara e tecnicamente pouco recomendada. “Isso porque a interface entre os materiais não é simples, já que vidro e aço não podem ter contato direto”, Dufrayer.
Nesses casos, devem ser utilizados materiais capazes de absorver as dilatações e movimentações distintas desses dois materiais, como EPDM (borracha de etileno-propileno-dieno) ou silicones estruturais que os acomodam quando submetidos a esforços.
Nesse tipo de uso também é preciso estar atento às tolerâncias de execução da estrutura, que determinarão o tamanho do desvio das medidas nominais que pode ocorrer durante o processo de fabricação e de montagem da estrutura. Essa informação é importante para determinar a amplitude que as peças de ligação entre o vidro e a estrutura metálica devem absorver.
INTERFACE
A perfeita interação entre as esquadrias ou o próprio vidro e o aço deve ser assegurada ainda na fase de projeto, quando é possível conhecer o comportamento dinâmico da estrutura metálica – ou seja, como ela se comportará em função das ações do vento e o carregamento que irá ocorrer durante sua vida útil. “O descaso com essas informações pode impor ao vidro e às esquadrias esforços não previstos que podem ocasionar danos e até mesmo a ruptura desses elementos”, alerta Petrucci Júnior.
Também é preciso prever a forma de isolamento entre os sistemas de esquadria e estrutura quando isso for necessário. Caso esses detalhes não sejam observados, a estrutura estará sujeita à corrosão ou deterioração a médio e longo prazoCrescêncio Petrucci Júnior
Com a tolerância de execução da estrutura conhecida, o projetista pode determinar o modelo e o tipo de ancoragem da ligação entre a esquadria ou o vidro e a estrutura metálica, evitando a necessidade de adaptações posteriores que podem comprometer o desempenho desse conjunto.
O tipo de perfil e o material a ser utilizado na estrutura metálica determinarão o melhor modelo de ancoragem para ligação entre os dois sistemas. “Também é preciso prever a forma de isolamento entre os sistemas de esquadria e estrutura quando isso for necessário. Caso esses detalhes não sejam observados, a estrutura estará sujeita à corrosão ou deterioração a médio e longo prazo”, lembra o consultor.
CUIDADOS NA OBRA
Observar as medidas corretas do vidro que será aplicado nas estruturas é um detalhe fundamental para garantir uma perfeita execução do sistema. Seja no canteiro ou na oficina de colagem, a armazenagem dos vidros deve ser feita de forma adequada – com cavaletes e de acordo com os requisitos da NBR 7199 – e seu manuseio, de modo cuidadoso e com os devidos equipamentos de proteção individual, evitando quebras do material e consequentes acidentes.
Durante a sua instalação, é recomendado proteger os vidros na etapa de pintura da estrutura metálica, evitando que os respingos de tinta danifiquem o produto. Em coberturas, o uso de sistemas de ancoragens incompatíveis com a estrutura pode causar deflexão da esquadria acima do limite previsto, comprometendo as vedações. A correção desse tipo de problemas prevê a desmontagem parcial e a substituição das peças. Já nos fechamentos verticais, problemas de tolerância de execução da estrutura metálica exigirão adaptações das ancoragens. “Em geral, elas serão mais grosseiras e feitas com acabamentos que podem comprometer a qualidade do sistema”, completa Petrucci Júnior.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
Crescêncio Petrucci Júnior – diretor técnico da Crescêncio Consultoria e Engenharia.
Remy Dufrayer – gerente de desenvolvimento de mercado da Cebrace.