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Vidro antichama ou corta-fogo? Conheça as diferenças

Embora ambas as soluções sejam capazes de proteger contra as chamas e a fumaça, cada uma delas é indicada para um cenário específico de incêndio

Publicado em: 19/09/2017Atualizado em: 28/09/2017

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Os vidros antichama e corta-fogo são indicados para fachadas, portas corta-fogo e proteção de objetos frágeis e documentos que não podem ser destruídos (ssguy/Shutterstock.com)

Os vidros antichama e corta-fogo têm a função de garantir a segurança dentro de edificações atingidas por incêndios. Apesar de os objetivos serem semelhantes, os produtos apresentam características distintas. Ambos são capazes de proteger contra as chamas e a fumaça, no entanto, o corta-fogo também apresenta a capacidade de bloquear a irradiação do calor.

Mas, para que cumpra suas funções, o vidro deve fazer parte de um sistema composto por esquadria, isolamentos e acessórios. “Conjunto que precisa ser todo certificado”, destaca o consultor Joel Carlos Ferreira de Souza, sócio-gerente da SSG Consultores. “Vidro, caixilho, vedações, fixação e a ancoragem devem ser mencionados no laudo do laboratório”, completa Clélia Bassetto, analista de normalização da Associação Brasileira de Distribuidores e Processadores de Vidros Planos (Abravidro).

Por exemplo, não é possível usar um tipo de componente no ensaio e especificar outro no produto final. “Pois, como os pontos de fusão são diferentes, podem ocorrer problemas futuros”, explica Ferreira.

USOS

Esses sistemas são indicados para fachadas, portas corta-fogo e proteção de objetos frágeis e documentos que não podem ser destruídos. A especificação depende, principalmente, dos requisitos do Corpo de Bombeiros e do tempo de resistência que o material precisará apresentar.

“No hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, caso aconteça um incêndio, os pacientes são retirados do edifício através de elevador pressurizado. Uma das laterais do hall dos elevadores é de esquadrias com vidro corta-fogo, sistema projetado para suportar por 90 minutos”, exemplifica Ferreira.

O antichama também é utilizado em fábricas, nos vãos que separam os escritórios da indústria. Com isso, o sistema evita que incêndio iniciado em algum equipamento atinja a área administrativa. “Esse tipo de vidro também pode ser aplicado nas compartimentações vertical e horizontal. Por exemplo, usados como viga de borda entre andares. Nesse caso, não é preciso conter o calor, pois os ocupantes já terão deixado a edificação”, comenta Ferreira.

FABRICAÇÃO E ESPESSURA

As características dos vidros resistentes ao fogo variam conforme o fabricante. O antichama é monolítico temperado com composição química diferente do vidro comum. “Já o corta-fogo é multilaminado, e a camada intermediária é composta por gel intumescente que, em contato com o fogo, reage e se expande”, explica Bassetto. No entanto, essas composições podem mudar dependendo do tempo de resistência exigido. “Existe o corta-fogo insulado, que apresenta câmara de vácuo para retardar a propagação de calor”, exemplifica.

O vidro antichama tem cerca de 6 mm e é do tipo borosilicato – com composição modificada para ter melhor resistência aos choques térmicos. Segundo determina a ABNT NBR 10636 – Paredes divisórias sem função estrutural – Determinação da resistência ao fogo – Método de ensaio –, o material deve atender a até 120 minutos de isolamento. Nesse sistema, a esquadria tem 50 mm de espessura e a fixação do vidro acontece por meio de fita cerâmica autoadesiva, calço cerâmico e baguete aparafusada. Visando a complementar a solução, todo o perímetro da esquadria é preenchido com manta cerâmica para cobrir a dilatação.

Já no corta-fogo, a espessura varia conforme o tempo de isolamento requerido:

Tempo

Uso interno

Uso externo

15 minutos

11 mm

14 mm

30 minutos

15 mm

19 mm

45 minutos

19 mm

19 mm

60 minutos

23 mm

27 mm

90 minutos

37 mm

40 mm

120 minutos

52 mm

56 mm

CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA

Para o antichama, os perfis são tubulares e do tipo ‘cadeirinha’. Por ser oca, a esquadria permite a passagem do calor
Joel Carlos Ferreira de Souza

No Brasil, como não existem ligas de alumínio comerciais que suportem incêndios, o caixilho é construído com perfis de aço carbono ou inox. “Para o antichama, os perfis são tubulares e do tipo ‘cadeirinha’. Por ser oca, a esquadria permite a passagem do calor”, fala Ferreira. No corta-fogo, os caixilhos também são tubulares, mas com massa de gesso isolante no interior dos perfis ou entre eles, dependendo do isolamento requerido.

Além da massa de gesso, alguns fabricantes usam solução semelhante aos thermobreaks, ligando um lado do perfil ao outro para evitar a transmissão de temperatura. Todo esse sistema precisa ser especificado em conjunto, pois, no caso de incêndios, acontece grande dilatação entre o caixilho e o vidro. Caso essa reação seja desconsiderada, há risco de colapso. “Isso ocorre porque o vidro resfria mais rápido do que o perfil”, fala Ferreira.

TRANSPARÊNCIA

O antichamas é transparente o tempo todo. Durante o incêndio, esse tipo de vidro fica perto do ponto de escorrimento, mas, mesmo assim, permite que seja possível ver o que acontece do outro lado. “Por outro lado, no corta-fogo a primeira lâmina trinca e o gel vai se consumindo e tornando o vidro fosco”, afirma Ferreira. Depois de certo tempo, a segunda camada se quebra e assim sucessivamente.

Como são produtos importados, o custo é alto. Além do vidro, todos os componentes do sistema – perfis e vedação – devem ser considerados no orçamento
Clélia Bassetto

INVESTIMENTO

No Brasil, não há a fabricação de vidros antichama e corta-fogo, nem de perfis corta-fogo. “Como são produtos importados, o custo é alto. Além do vidro, todos os componentes do sistema – perfis e vedação – devem ser considerados no orçamento”, ressalta Bassetto.

TEMPERATURAS MÁXIMAS

Por meio do laudo laboratorial, é possível estabelecer a resistência do vidro com relação à estanqueidade, integridade, radiação e isolamento térmico. “Os fabricantes precisam fornecer informações sobre as análises com as temperaturas praticadas”, diz Bassetto.

“No ensaio que realizei no IPT, após duas horas, o antichama suportou temperatura variando entre 950 °C até 1020 °C”, comenta Ferreira. Caso o limite de calor seja extrapolado, pode acontecer o colapso total do sistema, assim como ocorre com a alvenaria e todos os demais materiais que compõem a edificação.

NORMAS TÉCNICAS

Como os dois tipos de vidros são relativamente novos no Brasil, as normas estão sendo revisadas para incluí-los. Exemplo é a ABNT NBR 11742 – Porta corta-fogo para saída de emergência, que, anteriormente, contemplava somente as soluções de aço. No entanto, o documento foi atualizado para incluir as portas de vidro e entrará em consulta pública nos próximos meses.

“Outra é a ABNT NBR 14925 – Unidades envidraçadas resistentes ao fogo para uso em edificações, que não faz distinção entre antichama e corta-fogo. O documento está sendo revisado por grupo sediado no IPT para diferenciar as duas soluções”, informa Ferreira.

O problema das normas nacionais é que elas são restritivas/impositivas, o que não acontece com os documentos internacionais. “Isso não é bom porque, toda vez que há uma evolução do sistema, a norma deixa de ser atendida. O ideal é aferir desempenho, assim como acontece em outros países, que dizem o tempo que o caixilho precisa aguentar e não como ele deve ser produzido. Com isso, as normas internacionais permitem o uso de esquadrias de alumínio e até de madeira com densidade absurdamente alta que resistem cerca de 30 minutos de incêndio”, finaliza Ferreira.

Leia também: Vidro antivandalismo dificulta o arrombamento e aumenta proteção contra furtos

Colaboração técnica

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Clélia Bassetto – Analista de normalização da Abravidro, possui doze anos de experiência na área. Coordena as atividades para a elaboração e revisão das normas nas comissões de estudo do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), órgão responsável por desenvolver e atualizar as normas técnicas relacionadas aos vidros planos sob responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Também ministra palestras para a divulgação das normas do setor.
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Joel Carlos Ferreira de Souza – Administrador de empresas e sócio-gerente da SSG Arquitetura e Consultoria. Respondeu pela área industrial e técnica da serralheria do Liceu de Artes e Oficio entre 1979 e 1998. Participa de comissões de elaboração de normas técnicas na área de componentes metálicos para construção civil, normas de componentes corta fogo e para chamas e no desenvolvimento de programas de qualidade. A partir de 1993, assume a direção técnica e gerencial da SSG Consultores, que se torna empresa especializada em componentes para construção civil. Hoje, além do segmento de consultoria de projetos de esquadrias, atua com maior afinco no desenvolvimento de produtos especiais com vidro para chamas e corta fogo de fabricação da Schott e esquadrias com sistema próprio para os vidros para chamas e com sistema da Stalprofil para os vidros corta fogo.