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Vidro estrutural, jóia transparente

Projeto cuidadoso e alta tecnologia asseguram ao sistema resistência e segurança, com resultado estético sofisticado.

Publicado em: 12/04/2011Atualizado em: 06/12/2019

Texto: Redação AECweb

Entrevista: Maurício Margaritelli

Vidro estrutural, jóia transparente

Redação AECweb

Transparência, leveza e estética incomum são os principais argumentos das estruturas em vidro, que começam a invadir o lobby dos edifícios comerciais de alto padrão no Brasil. Constituído por colunas, vigas e fachadas, o sistema se viabiliza com o uso de silicone estrutural e ferragens específicas – às vezes, busca o reforço de cabos de aço. O engenheiro Maurício Margaritelli, titular da T2G - Technical Glass Group, empresa especializada no desenvolvimento de projetos e instalação de soluções em vidro, fala ao AECweb sobre a performance do material e as exigências técnicas que dão segurança à obra.

AECweb – Por que criar uma empresa vinculada a projetos de vidros estruturais?
Margaritelli - Atuando durante muitos anos como executivo de indústria multinacional de vidros, percebia a carência no mercado de uma empresa especializada em projetos de vidros estruturais, na qual a caixilharia e a ferragem fossem também tratadas, porém como sistemas complementares.

AECweb –  Como se comporta o sistema em vidro estrutural?
Margaritelli - O envidraçamento é classificado como estrutural quando substitui as estruturas de suporte padrão das fachadas, ou seja, concreto e aço. O vidro se comporta estruturalmente, resistindo aos esforços de vento e de peso próprios da fachada. Essa condição é obtida através de colunas e vigas de vidro ou de cabos de aço, e sempre contando com o vidro da fachada como elemento estrutural. Da mesma forma que se faz com as demais estruturas, as vigas de vidro podem ser engastadas ou biapoiadas - lógico que respeitando os limites de resistência e de flexibilidade do material.

AECweb – O vidro tem a mesma resistência do concreto ou do aço?
Margaritelli - É difícil fazer essa comparação, sem considerar o fato de que cada material tem comportamento próprio de compressão, tração e resistência a impactos. O vidro suporta cargas equivalentes a uma estrutura de aço ou de concreto. Há situações em que o vidro não poderá substituir essas outras estruturas. É o caso de grandes vãos, maiores de 30 metros, em que as vigas de vidro já não respondem como o aço e o concreto. Isto só seria possível com o reforço de cabos de aço. Porque há a limitação de fabricação do material, que exigirá muitas ligações – a fragilidade do sistema está nas ligações e não no vidro.

Vidro estrutural, jóia transparente

AECweb – Quais as dimensões das chapas de vidro?
Margaritelli - A chapa padrão de vidro float tem 3,21 m x 2,40 m e a chamada ‘jumbo’ chega a 6,00 m x 3,21 m. Já o vidro laminado e temperado, que é a base do sistema estrutural, chega a 4,50 m x 2,40 m no Brasil. No exterior, se consegue chapas maiores de até 7,00 m x 2,50 m. O gargalo está na fase de têmpera, por conta do tamanho do fornos existentes aqui. Como a demanda por vidro estrutural ainda é pequena, a indústria nacional de transformação entende que não vale o investimento em fornos maiores.

AECweb – Como são tratadas as juntas entre as chapas de vidro?
Margaritelli - Em fachada de vidro, é obrigatório fazer o cálculo de pressão de ventos, portanto, nem vou me ater a isso. Já a vedação dos encontros dos vidros é feita com silicone estrutural. A ligação dos vidros às estruturas – sejam elas de vidro, aço ou concreto - é feita com alguns tipos de acessórios, como o tipo ‘spider’ convencional que são peças em aço inox ou aço carbono, além daqueles mais atuais, bonitos e esbeltos. Existem ligações em outros materiais, como o Flexiglass que é transparente, dando ótimo resultado estético para o conjunto. Estou num projeto de grande dimensão, com 18 m de altura e 700 m de área de fachada, todo em vidro, inclusive colunas, que usará as ligações transparentes. É o lobby de entrada de um edifício comercial de alto padrão, em São Paulo, que está em fase de fundações.

AECweb – Quais os outros cuidados com as ligações?
Margaritelli - É preciso que as ligações respeitem o limite de tensão do vidro. Na têmpera, há uma tensão muito grande acumulada nas bordas e na furação, por este motivo deve-se respeitar distâncias seguras entre as bordas e os furos, assim como a ferragem deve prever a dissipação de energia necessária para fixação no botão que liga o vidro à estrutura. Para estruturas mais pesadas, deve ser feita uma análise de tensão intrínseca ao vidro, nas proximidades da furação e do elemento de fixação. Em geral isto é feito por análise de elementos finitos e indicará o quão perto se chega ao limite de resistência do material.

Vidro estrutural, jóia transparente

AECweb – O vidro pode estar em contato com o metal?
Margaritelli - Além do papel que cumpre nas ligações, as ferragens devem respeitar e assegurar a flexibilidade do vidro. Por exemplo: uma ferragem ‘spider’ tem que dissipar um pouco a energia transferida para a estrutura. E, se a estrutura for de vidro, o cuidado é maior porque na coluna também tem furos que vão sofrer tensões, assim como os vidros ‘spider’ da fachada. É preciso inserir, necessariamente, um elemento intercalante – borracha - entre o vidro e qualquer elemento metálico que o agrida, que fará essa distribuição de energia por dentro do furo e pela superfície plana da fachada. Mas não pode ser qualquer borracha.


AECweb – O vidro estrutural pode quebrar?
Margaritelli - Se a borracha romper e o parafuso encostar no vidro, há risco de quebra. Na fachada estrutural, com coluna e viga de vidros, não tem apenas um elemento de estruturação: se quebrar uma coluna de vidro estrutural, a fachada não vai cair. O próprio envidraçamento com vidro laminado temperado, silicone estrutural e as ligações cumprem o papel de estruturação. Quando o vidro laminado temperado fragmenta, não perde totalmente a resistência. Outro ponto importante: além do poliviilbutiral (PVB) usado na laminação, hoje tem o SentryGlas, material da DuPont que aumenta a resistência do conjunto temperado laminado, enquanto o PVB reduz. Isso contribui muito para o projeto ousar e descarregar tensão para os elementos do sistema.

AECweb – Qual o nível de segurança possível para um obra nesse sistema?
Margaritelli - Vai depender de cada obra, de sua altura e do entorno. Para se ter uma idéia de grandeza, numa obra de piscina em vidro, onde há uma pressão muito grande sobre o material, trabalhamos com fator de segurança 4. Ou seja, o vidro resiste quatro vezes mais à tensão a que está submetido. Para fachada convencional, podemos pensar em fator de segurança de 60%. Já para as colunas, o mínimo tem que ser 100%, ou seja, estarão submetidas à metade da força a que resiste. Nas vigas, o mínimo é 3. Essa segurança já está acima das cargas estipuladas por normas técnicas.

AECweb – Qual o melhor argumento em favor do vidro estrutural?
Margaritelli - Esse sistema construtivo incorpora, a um só tempo, tecnologia e resultado estético sem igual. Uma construção toda em vidro é incomparável em leveza, transparência e sofisticação. Para o empreendedor, é a valorização do imóvel: ele tem em mãos, uma jóia. Está se tornando uma prática a construção de todo o prédio de acordo com as exigências das certificações de impacto ambiental, como o LEED, e o lobby com envidraçamento estrutural, verdadeiro palácio. E que pode utilizar, também, vidro de controle solar. Temos feito vários prédios comerciais de alto padrão seguindo essa premissa, como o Rec Berrini, projeto de Aflalo & Gasperini, executado pela Hochtief.

Vidro estrutural, jóia transparente

AECweb – As escadas e pisos de vidro pedem os mesmos cuidados?
Margaritelli - Sim, porém esses elementos construídos em vidros, apesar de serem tecnologias mais conhecidas no Brasil, exigem atenção, especialmente as escadas. O país tem condições e produz os vidros necessários e as ferragens para projetos e instalação das escadas mais ousadas. Procuramos desenvolver ferragens para suprir as limitações da precisão na fase de transformação do vidro. São vários os projetos realizados.

Redação AECweb



Vidro estrutural, jóia transparente Maurício Margaritelli: Engenheiro responsável pela criação, em 2005, da empresa T2G Technicall Glass Group. Atuou como executivo da Pilkington Brasil desde 1995, empresa onde ocupou várias funções técnicas e gerenciais, tendo atuado ao mesmo tempo nos cargos de gerente nacional de vendas da CEBRACE e na gerência da franquia Blindex, além de ser o responsável técnico pela empresa.