Ações de construtoras têm alta com ajuda do governo
Índice especializado da Bovespa mostra que o setor cresceu 170% este ano - três vezes mais do que o Ibovespa
01 de setembro de 2009 - As ações de construtoras estão em um excelente momento. É possível verificar isso a partir do Imob, o índice imobiliário da Bolsa de São Paulo, elaborado pela Bovespa: ele valorizou-se em 171% desde o início do ano, contra 50% do Ibovespa.
O índice inclui algumas das principais construtoras do país, como Gafisa, Rossi, Abyara e MRV, e também companhias que administram imóveis, como a BR Malls, dona de diversos shopping centers pelo país. Alguns papéis específicos têm números ainda mais impressionantes. É o caso da construtora paulista Tenda, cujas ações subiram 340% até ontem.
Não dá para ignorar as agruras do passado: o setor imobiliário esteve entre os que mais sofreram com a crise de crédito, e por conta disso muitos papéis viraram pó - expressão usada pelo mercado para descrever a situação de uma ação negociada a uma parcela muito pequena de seu preço inicial. Foi o caso da própria Tenda, que no auge chegou a desvalorizar-se em mais de 90%.
Naquele momento, as construtoras foram duplas vítimas da crise. Sofreram por afinidade, porque o fato gerador da crise - a inadimplência nas hipotecas "tóxicas" dos Estados Unidos - ocorreu em seu setor de atuação.
Mesmo sabendo que o mercado brasileiro é completamente diferente do americano e que não havia chance de algo semelhante acontecer por aqui, os investidores venderam as ações, disparando uma queda acentuada. E sofreram porque o crédito secou, tornando difícil o dia a dia das empresas.
"As construtoras são muito dependentes do crédito", observa o economista Fabio Tadeu Araújo, sócio da consultoria Brain Bureau de Inteligência Corporativa. A dependência é tanto na relação com o consumidor, que depende de empréstimos imobiliários para adquirir sua residência, quanto para financiar seus empreendimentos.
No primeiro caso, não houve grande alteração, porque o governo agiu rapidamente para amenizar o risco de uma quebradeira. Mas o crédito dos bancos com as construtoras secou em meados do ano passado, levando algumas empresas a uma situação bem difícil. Assim, o preço dos papéis desabou.
Por trás da alta recente está um grupo de fatores que inclui a queda dos juros, a mão dos investidores estrangeiros, que têm apostado no segmento, e também o apoio que o governo federal tem dado aos programas habitacionais, em especial o Minha Casa Minha Vida.
"Foi muito importante para esse segmento porque, pela primeira vez em 30 anos, devolveu a habitação ao centro das políticas públicas", diz Araújo.
Tudo isso resultou num cenário dos mais positivos. "O investment grade foi muito importante para o setor", opina Mário de Almeida, gestor de investimentos da corretora Gradual Investimentos, numa referência à classificação de risco obtida pelo Brasil.
"O investidor brasileiro pode não ter dado muita importância, mas o estrangeiro já viu isso acontecer antes. Em países como a Espanha e o México, o grau de investimento foi seguido por um boom imobiliário", diz.
Almeida diz que os investidores nacionais precisam dar mais atenção ao setor. "Muitos só querem saber de Petrobras e Vale e não dão atenção a outras empresas que têm um bom potencial." Faz sentido, por uma questão histórica: a bolsa brasileira sempre foi mais voltada para a indústria, e a presença das construtoras só começou a ser vista nos últimos quatro ou cinco anos.
O processo que fez com que as construtoras "bombassem" na bolsa não acabou, embora deva se tornar menos intenso. "O mercado imobiliário não vai mais ter aquele avanço maluco que tivemos nos últimos anos, mas vai continuar crescendo na casa dos dois dígitos", observa Fábio Araújo, que também espera uma nova fase de fusões e aquisições no setor.
Ele enxerga nesses movimentos resultados sociais importantes. "O Brasil mudou definitivamente de patamar no setor imobiliário. Agora dá para sonhar em acabar com o déficit habitacional em uns 12 anos, ou até menos do que isso."
Fonte: Gazeta do Povo – PR