Alta de salários do setor de construção provoca inflação
Aceleração do INCC foi a principal causa para o resultado acima das previsões
09 de junho de 2009 - O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), encerrou o mês de maio com alta de 0,18%, resultado acima da variação de abril (0,04%) e da expectativa média do mercado, que esperava uma deflação no período de 0,01%.
A principal causa para o resultado acima das previsões foi a aceleração do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que registrou alta de 1,39% em maio, após uma deflação de 0,04% em abril.
O INCC responde por 10% do IGP-DI, mas sua variação contribuiu com 0,14 ponto percentual para a alta de maio, observou o analista da Rosenberg & Associados, Francis Kinder. No mês, o item mão de obra subiu 3,49% e foi compensado parcialmente pela queda de 0,41% do item materiais, equipamentos e serviços.
O coordenador de Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Salomão Quadros, afirmou que a alta deveu-se a dois fatores. Um deles foi o atraso no reajuste salarial do setor da construção no Rio de Janeiro (6,1%), que normalmente ocorre em março. A mudança nos salários coincidiu com o reajuste da construção civil de São Paulo (5,91%).
Outro fator foi a mudança na metodologia de cálculo da inflação em mão de obra na construção, que desde março passou a considerar apenas as praças de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e Brasília (foram excluídos Goiânia, Fortaleza, Belém, Curitiba e Florianópolis).
"Rio e São Paulo passaram ter um peso maior no índice, o que explica a variação mais forte em mão de obra, porque os reajustes salariais em si foram menores que no ano passado, quando ficaram na faixa dos 8%", ponderou Quadros.
Em maio de 2008, quando o INCC subiu 2,02%, o item mão de obra teve alta de 2,5%. A variação do grupo mão de obra também foi menos intensa em maio de 2007 (1,81%) e de 2006 (2,4%), observou o economista da LCA Consultores, Fábio Romão.
"Além disso, uma parte da categoria tem o reajuste salarial vinculado ao salário mínimo e o setor é um dos únicos que está em fase de contratação, o que permite acordos de data-base com ganho real", afirmou Romão.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), de janeiro a abril, o setor da construção criou 43,7 mil vagas com carteira assinada (todas as contratações no país totalizaram 48,5 mil no mesmo período).
Romão disse ainda que a alta em mão de obra foi em parte compensada pela queda nos preços de materiais que tiveram o IPI reduzido. "O efeito do IPI foi mais sentido a partir de meados de maio, porque antes as lojas ainda trabalhavam com estoque antigo", disse o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), Cláudio Elias Conz. Ele observou que os 30 itens com IPI reduzido registraram aumento de 15% nas vendas; o setor como um todo cresceu 4,5%.
Outro fator que favoreceu a alta do IGP-DI em maio foi a deflação menos intensa do Índice de Preços por Atacado Industrial (IPA Industrial), de 0,32% em maio, ante 0,58% em abril. Esse resultado foi compensado pela alta mais fraca no IPA agropecuário (de 0,58%, ante 1,36% em abril).
Com isso, o IPA encerrou o mês com deflação de 0,1%, mesma variação observada no mês anterior. O economista da Tendências Consultoria Integrada, Gian Barbosa, afirmou que os preços no atacado poderiam ter ficado mais altos, não fosse a apreciação cambial de 10,6% em maio.
"O grupo de intermediários sofreu impacto da valorização do petróleo e derivados; o mesmo aconteceu com as commodities agrícolas. O efeito do câmbio permitiu que a inflação se mantivesse sob controle", disse. No mês, o IPA de bens intermediários teve queda de 0,41%, ante deflação de 1,04% em abril.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) também registrou desaceleração, alcançando alta de 0,39% em maio, ante 0,47% em abril. A maior contribuição para esse resultado decorreu do grupo alimentação, que fechou o mês com deflação de 0,3%, após haver subido 0,64% em abril.
Outros dois dos sete grupos que compõem o IPC apresentaram decréscimo nas taxas. Tiveram desaceleração os grupos saúde e cuidados pessoais (0,61% ante 0,99%) e transportes (-0,19% ante -0,14% em abril).
Francis Kinder, da Rosenberg, considerou que os preços no atacado devem se manter controlados, dada a expectativa de redução de preços do minério de ferro em junho. A consultoria prevê para o IGP-DI deste mês alta de 0,2%; a Tendências projeta alta de 0,3% e a LCA, alta de 0,36%.
"Mesmo que ocorra uma alta em junho maior que 0,2%, no acumulado de 12 meses os IGPs continuarão cedendo", afirmou Kinder, observando que em junho de 2008, o IGP-DI havia chegado a 1,89%, uma alta que não se repetirá neste mês.
No acumulado de 12 meses, o IGP-DI registra variação positiva de 2,99%. O IPA-DI acumulou 1,18%, ante 3,53% no mês anterior, com agrícolas em -1,52% (0,34%) e industriais em 2,24% (4,75%). O IPC-M desacelerou para 5,55% (6,05%) e o INCC caiu para 8,98% (9,65%).
Fonte: Valor Econômico