Após queda forte, consumo de máquinas sai do negativo
Analistas advertem que essa retomada é decorrente de uma normalização após o tombo no primeiro trimestre
13 de agosto de 2012 - Após um início de ano marcado por uma brusca queda do investimento em máquinas e equipamentos, o consumo aparente de bens de capital teve alguma recuperação no segundo trimestre. Os economistas consultados pelo Valor divergem em relação à magnitude desse aumento, mas consideram que a produção nacional (descontada a exportação) somada à importação desses itens deixou forte variação negativa no primeiro trimestre para voltar a crescer entre abril e junho, sempre na comparação com os três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais. As contas, contudo, variam de uma fraquíssima alta de 0,1% até já expressivos 5,7% de recuperação no segundo trimestre frente ao primeiro.
Analistas advertem que essa retomada é decorrente de uma normalização após o tombo no primeiro trimestre, já que crescimento mais intenso dos investimentos só deve ser visto nos últimos três meses do ano.
Pelos cálculos de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, a absorção doméstica desses itens avançou 5,7% no segundo trimestre sobre o primeiro, na série com ajuste sazonal, após queda de 10% no trimestre anterior, em função da mudança de padrão na emissão de poluentes por caminhões desde janeiro. Essa alta recente junto com uma pequena recuperação nas vendas de veículos pesados e ao aumento - também dessazonalizado pela LCA - de 6% nas importações entre o primeiro e o segundo trimestres, faz Borges projetar alta próxima de 1% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida do que se investe em máquinas e em construção civil dentro do Produto Interno Bruto (PIB) no período.
Os cálculos de Fernando Rocha, sócio e economista da gestora de recursos JGP, mostram uma alta mais moderada, embora ainda forte. Puxada principalmente pelo aumento de 3,6% da produção de bens de capital no período, a demanda interna por esses itens avançou 3% no segundo trimestre, sempre em relação ao primeiro, com ajuste. Ainda assim, afirma Rocha, como o desempenho da construção civil - que é contabilizada como investimento no PIB - foi mais fraco, a formação de capital fixo ainda deve recuar algo como 0,5% no segundo trimestre, após queda de 1,8% nos primeiros três meses do ano passado.
Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda do investimento no PIB ainda será forte entre abril e junho, de 3,5%, acentuando as perdas em relação ao recuo de 2,1% observados nos três primeiros meses do ano, na mesma base de comparação. Para Rocha, o segundo trimestre marcará o ponto mais baixo da série e daí em diante haverá recuperação. No fim do ano, estima, o investimento deve crescer 1,7% sobre o quarto trimestre do ano passado.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, faz avaliação semelhante. Para ele, o investimento deve ter crescido entre 0,5% e 1% entre abril e junho. "O quadro ainda é de fraqueza dos investimentos e só deve haver recuperação consistente no quarto trimestre, após a atividade econômica dar sinais mais evidentes de retomada", afirma. De acordo com os cálculos do Itaú Unibanco, a demanda doméstica por bens de capital cresceu 0,1% no segundo trimestre, após queda de 7,5% nos primeiros três meses do ano.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, tem prognóstico menos otimista e, em sua visão, o investimento deve continuar decepcionando no segundo semestre, um dos principais fatores que explicam sua projeção de apenas 1,5% para o PIB em 2012.
A MB estima que, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, em uma comparação dessazonalizada, a demanda interna por bens de capital cresceu 0,3%, após forte recuo de 8,4% no período anterior. Para Vale, o dado, apesar de ter deixado o patamar negativo, é sinal de um trimestre com investimento ainda parado.
Apesar da pequena retomada no segundo trimestre, nos primeiros seis meses do ano a demanda doméstica por bens de capital encolheu 10,2% sobre o mesmo período de 2011, maior tombo nessa base de comparação desde 2007, segundo os cálculos da MB, com exceção de 2009, ano em que a crise atingiu em cheio a demanda por bens de capital e a absorção doméstica desses itens caiu 20,5% no acumulado de janeiro a junho em relação à primeira metade de 2008.
No primeiro semestre deste ano, período em que a produção total da indústria encolheu 3,8% em relação à primeira metade de 2011, o segmento de bens de capital foi o destaque negativo, com produção 12,5% menor. A importação de bens de capital, por sua vez, seguiu crescendo, embora em ritmo bem menor que o observado em outros anos. A alta, em volume, foi de 3,7% na primeira metade do ano frente igual período do ano passado, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), variação vista sem entusiasmo por Rodrigo Branco, economista da entidade. Em 2011, as compras externas de máquinas haviam crescido 26,8% nessa comparação, após alta de 24,3% na primeira metade de 2010.
Vale observa que o resultado negativo no primeiro semestre não se deve somente à entrada em vigor das novas normas de emissão de poluentes para caminhões, que antecipou a fabricação de veículos pesados no ano passado e a paralisou no início do ano. O ramo equipamentos de transporte, onde estão os caminhões, registrou recuo de 16,8% nos primeiros seis meses do ano, mas também houve queda na produção de bens de capital para a construção civil (menos 14,2%), para fins industriais (menos 1,7%) e para fins industriais seriados (menos 2,8%).
"Ninguém sabe o que vai acontecer com a Europa, há o risco de um colapso da economia mundial e o investidor fica travado", diz, acrescentando que a indústria não deve deslanchar na segunda metade do ano, mesmo com a expectativa de novas medidas para dinamizar o setor.
Já Aurélio Bicalho, do Itaú, considera que ao longo do terceiro trimestre a economia deve mostrar reação, com ajuste de estoques na indústria, aumento da produção e melhora da confiança dos empresários. Com base nesses fatores, afirma, o investimento também deve reagir, mas a resposta ficará concentrada nos últimos três meses do ano.
Fonte: Valor Econômico