As vantagens de comprar um imóvel na planta
A burocracia para o financiamento é a garantia de regularidade do imóvel e de sua construção, mas também exige melhor programação do cliente
8 de setembro de 2009 - As taxas baixas de juros e o financiamento alongado são as vantagens anunciadas para convencer um cliente a comprar um imóvel na planta. O que poucos sabem é que essa também é uma possibilidade para quem quer construir uma casa em terreno próprio.
Trinta anos para pagar o material, financiamento total da obra em alguns casos e juros anuais de 8,4% a 12% são possibilidades em bancos públicos e privados. Essas condições em geral são melhores que as das linhas de crédito para compra de material de construção.
Obter crédito para construir uma casa "do zero", porém, é bem mais complicado. O financiamento exige do consumidor toda a documentação e a organização que normalmente cabem à construtora, como alvará de construção, memorial especificado e cronograma da obra.
"É preciso contratar um engenheiro (ou arquiteto) para fazer o projeto e o memorial descritivo e conseguir o alvará na prefeitura", avisa Nédio Henrique Rosseli, gerente regional de habitação da Caixa Econômica Federal. "Além disso, a pessoa tem de recolher o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) dos funcionários da obra."
A burocracia para o financiamento é a garantia de regularidade do imóvel e de sua construção, mas também exige melhor programação do cliente.
Conseguir um alvará na prefeitura pode levar de três a seis meses, de acordo com arquitetos procurados pela reportagem, apesar dos 15 dias anunciados pela prefeitura. E só depois do alvará é que se pode dar início ao financiamento.
Ele traz consigo duas garantias sobre a obra: a primeira é a de que o projeto foi avaliado em relação a viabilidade e custo.
A segunda é a de que a obra será acompanhada pela vistoria mensal feita por um engenheiro do banco, que verifica o andamento da construção conforme o cronograma.
Ajustes
Dessa vistoria depende a liberação do crédito. "Se você não tiver um fundo para ajustes do cronograma, poderá ter problemas na construção", alerta o empresário Bruno Candido de Oliveira, 25, que financiou a construção de sua casa.
No caso, o cronograma ficou a cargo do arquiteto responsável pelo projeto, mas quem tocou a obra foi um engenheiro - e havia incompatibilidades entre a execução e o plano.
Quando o engenheiro do banco fez a avaliação mensal, notou o descompasso e bloqueou o depósito do mês seguinte. Para colocar a casa em ordem, Oliveira precisou lançar mão de reservas pessoais e ainda fez um empréstimo.
Algumas linhas não financiam 100% da obra; o orçamento, então, deverá prever o investimento extra necessário para que a obra seja concluída no prazo do cronograma.
Aprovação: alvará na prefeitura demora cerca de 4 meses
Para dar início à construção, o primeiro passo é obter aprovação do projeto na subprefeitura. O alvará de aprovação de edificação nova demora dez dias, e o alvará de execução, outros cinco. O prazo pode se estender com novos pedidos de documentação pela prefeitura. "Em geral demora de três a cinco meses", diz Paulo Afonso Costa, diretor do Sasp (sindicato de arquitetos). Os alvarás custam R$ 461,75, somados a R$ 2,78 por m2 de obra e à taxa de expediente, que parte de R$ 13,10 .
Cartões financiam material em até 60 vezes
Como alternativa à burocracia das linhas que exigem projeto e engenheiro responsável pela obra, os bancos têm cartões de compra específicos para materiais de construção -alguns servem também para adquirir móveis planejados.
Suas taxas, entre 1,57% e 3,99% mensais, são inferiores às do empréstimo bancário pessoal ou de financeiras, que cobram de 4% a 7% ao mês. Mas são maiores que as do financiamento para a construção do imóvel próprio.
Seu prazo é restrito: no máximo cinco anos para saldar a dívida -mas as amortizações começam seis meses após a compra. "É a forma mais prática, não precisa de projeto e serve tanto para construir como para reformar", compara Nédio Henrique Rosseli, da Caixa.
A liberação de crédito é vinculada à análise da ficha do cliente, que terá seis meses para usar o dinheiro em lojas credenciadas. "Conseguimos o crédito levando CPF, carteira de identidade e comprovantes de renda e endereço", detalha a assistente administrativa Dayane Costa, 22.
O benefício pode ser solicitado mais de uma vez. É o caso de Raquel Martins, 35. A gerente de administração já havia financiado parte da reforma de sua casa com o cartão da Caixa, e agora, grávida de dois meses, decidiu retomar as obras com outro cartão adquirido no mesmo banco.
"Ainda consegui descontos nas compras", avalia Martins. "Os cartões são pagamento à vista para nós", explica Márcia Salvatore, dona do depósito Centre Ville.
Além de negociar preços, há a vantagem de poder gastar o dinheiro no local desejado. Os cartões são aceitos não apenas em lojas de grande porte, e a compra pode ser dividida em vários locais. Ao fazer o orçamento, é importante verificar tarifas de frete.
Fonte: Folha de São Paulo, Cristiane Capuchinho