Atraso na entrega de obras cresce com boom imobiliário
O número de reclamações aos órgãos de defesa do consumidor aumenta e o de ações contra construtoras, também
19 de outubro de 2010 - O operador de bolsa de valores Roger Prado comprou um apartamento na planta em 2008. "Eu tenho dois filhos adolescentes, minha esposa está grávida atualmente e aqui está ficando um espaço pequeno. Foi o que nós decidimos a comprar esse apartamento", afirma.
Mas o sonho de melhorar de vida virou um pesadelo. O prazo para entregar o apartamento era janeiro deste ano. Houve um atraso e o prazo foi adiado para julho, que já passou. No local, uma torre já foi erguida e a outra ainda está bem no início.
A promessa é que o prédio fique pronto no ano que vem, 22 meses depois. "Se o imóvel já estivesse pronto, eu já estaria morando lá, e poderia estar alugando o outro que moro e ajudando a pagar o imóvel lá", diz Roger.
A construtora alega que teve problemas com falta de mão de obra qualificada. O caso de Roger vem se repetindo com o boom imobiliário. No ano passado, 60% dos prédios em São Paulo foram entregues com atraso de seis meses a dois anos.
O advogado Marcelo Tapai entrou com 30 ações na Justiça contra construtoras em 2009. Agora são sete vezes mais. "Eu tenho já propostas, cerca de 200 processos só sobre atraso de obra", diz.
O sindicato da indústria da construção civil diz que as complicações não afetam todo o setor, mas já está tomando providências. "O Sinduscon está preocupado com o assunto volume de construção e pra isso está desenvolvendo, incentivando cursos, desenvolvendo novas técnicas para aplicar no mercado e minimizar esses eventuais problemas de atrasos e de obra que podem estar realmente ocorrendo pela alta demanda", diz Odair Senra, vice-presidente do Sinduscon - SP.
Em todo país, as reclamações aos órgãos de defesa do consumidor só aumentaram nos últimos três anos, principalmente por causa de problemas de contrato. Na hora de assinar, leia e exija que conste o prazo de entrega do imóvel e uma cláusula prevendo multa para a construtora em caso de atraso, e um cronograma detalhado da obra, com todas as etapas listadas, para acompanhar e ver se há atrasos.
A dica é se munir com uma papelada enorme. Assim, se a obra atrasar, fica mais fácil se defender.
"Ele precisa guardar o contrato, todo o material publicitário, o cronograma de execução e também todos os gastos que ele teve no pagamento, assim como gastos que ele está tendo por não poder usar o imóvel. Então, por exemplo, aluguéis, que eventualmente ele ia vender e perdeu um negócio, ele documenta para que, depois, ele possa exigir", afirma Roberto Pheiffer, diretor executivo do Procon-SP.
Fonte: Jornal da Globo - RJ