Atrasos na entrega de imóveis fazem compradores irem à Justiça
Incerteza sobre prazos atrapalha vida financeira e pessoal. Construtoras se explicam e especialistas dão dicas para evitar problemas.
15 de junho de 2011 - Há um ano e meio, a assistente administrativa Gleice dos Santos Carvalho, 30, fez as malas e decidiu sair de casa. Resolveu se separar do marido para tentar convencê-lo a usar as economias da família e realizar o sonho de comprar uma residência própria, só para eles e a filha, longe das discussões que atrapalhavam a rotina no sobrado que dividiam com a sogra dela em Diadema (SP).
"Quando casei, estava grávida, e a minha sogra ofereceu a casa para nós. Todo dinheirinho investimos para construir um andar de cima na casa dela, para termos um espaço nosso. Mas não estava dando certo", diz Gleice. A reconciliação com o marido veio 3 meses depois da separação, mas o final feliz do casal ainda parece distante: o imóvel, comprado na planta em Mauá (SP) e que deveria ter sido entregue em outubro do ano passado pela construtora Tenda, ainda se resume a blocos de concreto.
A construtora alega que o atraso se deu por "fatos alheios ao controle da companhia", como período de chuva acima da média normal e do crescimento significativo do setor da construção civil que resultou em escassez de mão de obra. Problema sentido por toda a indústria e chamado de "dores do crescimento" pelo presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi), João Crestana.
O problema, segundo representantes das construtoras ouvidos pelo G1, é que o mercado cresceu muito rapidamente, e não houve capacidade para dar conta da elevação repentina da demanda - gerando filas no cronograma das obras, falta de material e trabalhadores e atrasos nas entregas.
As construtoras alegam que o problema mais grave ocorreu há mais de dois anos e que já foi contornado, com a revisão de projetos e prazos. Segundo o vice-presidente de Imobiliário do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), as empresas foram orientadas a terem transparência e comunicação constante com os clientes. mostrando que pode atrasar.
Mas isso nem sempre acontece, e, para piorar a situação de Gleice Carvalho, a comunicação com a construtora, segundo ela, é quase nula: Gleice só recebe notícias sobre o empreendimento nas visitas que faz religiosamente ao local desde o início das obras, pelo menos de 3 em 3 meses, para tirar fotos e questionar funcionários em busca de alguma pista. "Eles até já me conhecem lá. Dizem que a obra é terceirizada e a equipe já foi trocada várias vezes", desabafa.
Fonte: G1