Aumento dos materiais importados acende sinal amarelo na construção
A demanda crescente por materiais de construção, aliada à valorização cambial no país, começa a mostrar o seu lado negativo
24 de setembro de 2010 - Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que, em 2010, as importações de insumos vão alcançar R$ 5,1 bilhões, superando as exportações, que devem chegar a R$ 2,8 bilhões.
Os números não são alarmantes perto do total de vendas deste ano, que deve ultrapassar os R$ 95,8 bilhões de 2009, mas mostram uma tendência do setor, de acordo com Fernando Garcia, professor e consultor da FGV.
"O Brasil está sendo inundado por produtos chineses, principalmente, na parte elétrica, que, antes da crise, eram enviados para os EUA".
Outros segmentos que também acenderam a luz de alerta sobre uma possível desindustrialização incluem os fabricantes de vidros, cerâmicas e lâmpadas.
"Algumas multinacionais têm, inclusive, estudado a possibilidade de desmobilizar a produção no país e começar a exportar os produtos de sua sede", afirma Melvyn Fox, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat).
Segundo ele, uma das principais causas para essa desindustrialização é a pouca competitividade dos preços brasileiros, devido à carga tributária.
Mesmo com a política de desoneração de encargos, a arrecadação aumentou 2,5% em 2009 chegando a R$ 45,9 bilhões.
"É por isso que a Abramat vai lutar pela desoneração completa e permanente do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) e que seja estendido para todos os materiais de construção", diz Fox, acrescentando que o imposto volta a valer a partir do dia 1° de janeiro de 2011.
Segundo uma projeção feita pela FGV, com o fim do IPI, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teria um salto de R$ 38,1 bilhões, em 36 meses, e seria registrado um aumento de R$ 2,6 bilhões na compra de materiais de construção.
Em outra simulação, a FGV indica que o PIB do Brasil pode crescer a uma taxa de 4% ao ano, nos próximos 10 anos, caso não haja ampliação dos investimentos em construção.
Mas se os aportes no setor aumentarem R$ 100 bilhões em relação ao investimento de 2009, que foi de R$ 244 bilhões, a taxa de crescimento brasileiro passaria para 5% ao ano.
Isso significaria, ao fim de 2020, um PIB R$ 500 bilhões maior, montante próximo ao valor da economia do estado do Rio de Janeiro.
De acordo com Ana Maria Castelo, professora da FGV, os indicadores de janeiro a julho já mostram que a cadeia da construção superou os números do mesmo período de 2008 - que registrou o melhor momento do setor.
"O faturamento real dos materiais tem crescido 1% a mais que há dois anos e já chega a R$ 8,5 bilhões mensais."
Garcia acrescenta que, apesar de bom, o momento assusta, devido à combinação de taxa de desemprego baixa e a capacidade industrial instalada no limite.
"Isso significa que vamos precisar de novos investimentos e daqui a um tempo o modo produtivo vai ter de mudar: usaremos menos mão de obra, que é um dos principais gargalos do setor, e mais tecnologia."
Fonte: Brasil Econômico - SP