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Boom imobiliário rodeia as marginais

Texto: Redação AECweb

De 29.788 unidades residenciais lançadas na cidade de SP, 8% estão a até 500 metros dos rios Pinheiros e Tietê.

24 de fevereiro de 2011 - A cidade de São Paulo teve 29.788 unidades residenciais lançadas entre janeiro e novembro de 2010. Dessas, 8% estão a até 500 metros dos rios Pinheiros e Tietê - onde, para especialistas, não deveria haver construções.

As várzeas dos rios são importantes para o escoamento adequado da água das chuvas, dos próprios rios e dos seus afluentes. Com as construções aumentando nas margens, o risco de enchentes também cresce.

Os novos prédios chegaram até o Pinheiros e o Tietê por causa do boom imobiliário e do esgotamento de terrenos livres nas áreas nobres.

"O boom inflacionou o preço da terra. Áreas que não eram valorizadas passaram a ser alvo das construtoras. Hoje, áreas de várzea são ocupadas por prédios de classe média alta. Com isso, a gente vê cada vez mais bairros de classe média afetados por enchentes", diz Roberto Braga, especialista da Unesp em planejamento territorial.

As enchentes, para Braga, têm uma relação direta com o boom. Porém, a ligação está na forma como a expansão imobiliária é feita, e não com a quantidade de novos imóveis, em números absolutos.

"Seria necessário pensar na drenagem da água ao construir a cidade. E isso não é feito adequadamente", completa o geógrafo Eduardo José Marandola, pesquisador da Unicamp.

São Paulo está erguida sobre uma bacia de 281 rios, córregos e ribeirões, fora os lençóis freáticos. O Tietê, por exemplo, é um rio espraiado, que precisa de espaço para correr, pois não tem profundidade nem calha definida.

"A marginal Tietê e as construções próximas a ela estão na área que é do rio, logo, estão mais suscetíveis a enchentes", diz Marandola.

O engenheiro Paulo Andrade, que comprou um apartamento de R$ 550 mil nas margens do entroncamento dos rios Pinheiros e Tietê, sabe disso.

Mesmo com bombas de drenagem instaladas nas garagens, houve alagamento em um subsolo do edifício.

"Quando comprei o apartamento, pensei que a proximidade do rio poderia ser um problema. Mas me garantiram que não seria", conta.

O imóvel dele é uma das 2.394 unidades lançadas perto das marginais em 2010.

Rumo ao risco

A matemática do boom imobiliário tem outro resultado desastroso: com o encarecimento da terra, populações de baixa renda seguem cada vez mais para a periferia e, consequentemente, para áreas de risco de enchentes e de desmoronamentos.

"E a infraestrutura necessária para essas populações também vai junto", completa a engenheira agrícola Andrea Ferraz Young, que estuda populações na Unicamp.

Além disso, mais prédios na cidade significam mais impermeabilização do solo.

Sem ter como escoar sobre tanto cimento, as águas das chuvas viram enchente.

Fonte: Folha de S. Paulo - SP

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