Brasília ganha o primeiro bairro verde
“Noroeste” tem a proposta de ser bairro mais moderno da cidade
Um dos maiores empreendimentos dos últimos dez anos no Distrito Federal deve começar a sair do papel já na semana que vem. A Terracap, empresa pública que gerencia a venda de terrenos para construção em Brasília, deve lançar na próxima segunda-feira, o edital de licitação dos primeiros terrenos do setor Noroeste. A empresa espera o retorno do governador José Roberto Arruda à cidade para oficializar o lançamento imobiliário.
Ao todo serão 20 quadras, distribuídas em 11 lotes, equipadas com novos modelos de habitação que respeitam a natureza. A primeira licitação será de 55 projeções residenciais e 35 comerciais. Esse número é 25% da área total disponível para a venda - 220 projeções residenciais e 140 comerciais. Anúncios anteriores da própria Terracap estimavam que a venda desses terrenos deverá render cerca de R$ 1 bilhão aos cofres da empresa.
O bairro será destinado às classes A e B. Especialistas estimam que o metro quadrado no Noroeste custará de R$ 8 mil a R$ 10 mil, em média. Assim, um apartamento de 100 m, por exemplo, custaria entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão, valor acima da média cobrada no Plano Piloto ou no Setor Sudoeste - considerado um bairro com imóveis semelhantes.
Área de preservação
O rigor aplicado às construções na área tem uma razão legal: o terreno de quatro milhões de metros quadrados fica na Área de Preservação Ambiental (APA) do Planalto Central, com gestão do governo federal e terá que ser licenciado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).
O fato de o Noroeste estar localizado próximo a reservas ambientais como, por exemplo, o Parque da Água Mineral, obrigou que os projetos de urbanização da área passassem pelo crivo do órgão responsável pela preservação ambiental para garantir a manutenção das características naturais da área. A proposta do governo do Distrito Federal é transformar a área no primeiro bairro verde, com construções ecologicamente corretas.
A primeira obrigação que o governo terá que cumprir é a criação de uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) entre o Noroeste e o Eixo Monumental. Esse parque receberá o nome de Cruls - homenagem à missão que desbravou o Planalto Central no século 19, comandada pelo belga Luiz Cruls. Além disso, o bairro vai contar com o Parque Burle Marx, cujo projeto está bastante adiantado, e deve começar a ser construído ainda este mês.
"O Noroeste será o bairro mais moderno de Brasília. Nossa proposta é que seja ecológico, com reaproveitamento de água da chuva, usina de lixo, central de gás para abastecimento das residências e ciclovias", afirma o presidente da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), Antonio Gomes.
Edifícios modernos
As exigências feitas pelo Ibama obrigarão o governo e as construtoras vencedoras das licitações a cumprirem uma série de recomendações para minimizar o impacto ambiental. A primeira delas é a utilização inteligente da energia elétrica. Os prédios contarão com sistema de aquecimento solar para reduzir o uso da rede elétrica convencional.
Outra preocupação do governo é com as redes de captação de água pluvial e esgoto do bairro. A água da chuva terá sistemas de coleta para que possa abastecer as lagoas do Parque Burle Marx. Esse sistema evitará o desperdício de água e a erosão do terreno. A água utilizada pelos moradores, que antes iria direto para o esgoto, também terá um destino diferente. Parte será reciclada e utilizada para a irrigação da área verde dos prédios.
"Vamos nos amparar no projeto de Brasília, mas com novas tecnologias e metodologias de construção. O que há de mais moderno será usado e pensado para construir o bairro", afirma o presidente do Conselho Regional de Corretores de imóveis (Creci), Luiz Carlos Attié. Outro cuidado que o projeto contempla é o recolhimento de lixo produzido, que deverá ser obrigatoriamente separado entre lixo seco e orgânico. Uma rede de canos sairá de todos os edifícios e levará o lixo, por meio de um sistema de sucção, para as centrais de detritos, que ficará fora do bairro, o que exclui a circulação de caminhões de lixo dentro da área, diminuindo a poluição sonora e o tráfego local.
Infra-estrutura em xeque
Da mesma maneira que as construtoras terão de usar recursos mais modernos na construção dos prédios, o próprio governo do Distrito Federal terá que se enquadrar em exigências para tentar não repetir erros comuns em Brasília, como a falta de estacionamentos, excesso de lojas e funcionamento de bares causando muito barulho em áreas residenciais.
Uma das inovações é a obrigatoriedade da existência de estacionamentos subterrâneos nas quadras comerciais. As lojas serão separadas dos bares e restaurantes, que serão construídos longe dos prédios residenciais para evitar o incômodo sonoro, que hoje é comum nas asas Sul e Norte.
O governo aposta que o novo setor será o bairro mais verde de toda Brasília. Os parques serão integrados às quadras comerciais. O Ibama ainda promete monitorar os estudos e projetos de infra-estrutura do bairro, bem como as áreas e planos de preservação que deverão ser criados para conservar a fauna e a flora do Cerrado.
O projeto já conta com a licença de instalação concedida pelo Ibama do Distrito Federal, que estabelece algumas exigências ambientais e permite que a Terracap contrate empresas para começar as obras de infra-estrutura do bairro, como redes de água, esgoto, drenagem e pavimentação, simultaneamente à construção dos prédios. A licença de instalação permite que as obras de infra-estrutura do novo bairro sejam concluídas em até seis anos, mas a Terracap pretende agilizá-las e completá-las em cinco.
Fonte: Gazeta Mercantil, 08/jan