Casa feita com tubos de papelão pode ser alternativa na construção civil
Pesquisa é inédita no Brasil e já vem sendo desenvolvida
17 de janeiro de 2011 - O uso da garrafa PET na construção civil já é conhecido. Mas quem já ouviu falar em residências feitas com tubos de papelão? A arquiteta Gerusa Salado está desenvolvendo um estudo na Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP), sobre o uso da celulose como elemento estrutural das edificações. E garante que o material pode ser utilizado em empreendimentos terrestres. A pesquisa, que já vem sendo desenvolvida no Japão, é, segundo ela, inédita no Brasil.
A eficácia do uso do papelão na construção já foi testada com uma célula-teste de 27 metros cúbicos, feita com tubos de papelão. Em uma de suas paredes, há uma janela. Na outra, uma porta. Gerusa explica que as outras duas paredes são "paredes cegas", ou seja, sem qualquer tipo de abertura. De acordo com Gerusa, a estrutura se mostrou resistente às fortes chuvas ocorridas em São Paulo. “Esta construção experimental está exposta há 70 dias e, diante das tempestades que aconteceram recentemente aqui no interior de São Paulo, podemos afirmar que ela se mostrou bastante eficaz. No entanto, diante dos desastres que aconteceram no Rio, essa estrutura não oferece ainda a garantia de resistência, uma vez que nem o concreto armado ofereceu”, argumenta.
Entre as vantagens do papelão, está, além da garantia de sustentabilidade ao empreendimento, o fato de o material dispensar fundações profundas graças à sua baixa densidade. De acordo com a pesquisadora, o processo de construção é fácil e rápido e, por isso, dispensa mão de obra especializada. “O papelão é um material fácil de ser encontrado no Brasil e, por ter a capacidade de ser reciclado várias vezes, não precisa de um grande processo de transformação para a reciclagem. Basta triturá-lo e misturar com água. Como optamos pelo uso de tubos, que são mais resistentes do que as chapas, a instalação dos sistemas hidráulico e elétrico também se torna mais fácil, não havendo a necessidade de quebra-quebra de paredes”, explica.
O projeto, entretanto, ainda não passou pelos testes de conforto ambiental. Em relação ao fogo, ela alerta que o material ainda precisa ser avaliado em relação ao tempo que o papelão pode levar para ser incinerado e se o fogo pode se extinguir sozinho. Os testes são realizados em laboratório e seguem normas técnicas nacionais e/ou internacionais. “Sabemos que todos os materiais de construção são passíveis ao fogo, mas neste caso, precisamos averiguar se o tempo de propagação de um incêndio acidental possibilita que os usuários desocupem a edificação”, diz Gerusa.
O intuito das investigações, segundo Gerusa, é que a estrutura possa vir a ser utilizada na construção como uma alternativa à alvenaria. A pesquisadora toma como base para sua pesquisa sobre a estrutura de papelão, já utilizada em sua tese de mestrado, os trabalhos do arquiteto japonês Shigeru Ban, responsável pelo projeto do Pavilhão Japonês na Feira Internacional de Hannover (Alemanha) no ano de 2000, que tinha 3,1 mil m² e uma estrutura constituída de uma casca gigantesca de formato irregular e orgânico, feita a partir de uma trama de tubos de papelão.
Fonte: Globo Online - RJ