Casa própria livre da alta dos juros
Principal motor do crédito imobiliário, poupança tende a se esgotar em 2012. Saída é captação privada.
30 de dezembro de 2010 - O consumidor pode respirar aliviado: prazos e juros dos financiamentos imobiliários continuam intocados, ao menos por enquanto. A casa própria escapou do arrocho no crédito promovido pelo Banco Central para não inviabilizar uma das prioridades do futuro governo Dilma Rousseff, que é a construção de 2 milhões de residências dentro do programa Minha casa, minha vida. Esse cenário, porém, deverá sofrer um revés. Por causa da forte demanda, especialistas projetam para 2012 o esgotamento da principal fonte de recursos para esses financiamentos, a poupança. Como forma de incentivar a captação de recursos privados a autoridade monetária livrou as Letras Financeiras - títulos de renda fixa emitidos pelos bancos - do recolhimento de compulsório.
Quem não sair do aluguel dentro dos próximos dois anos terá de desembolsar mais dinheiro para ter uma residência. Em 2012, o custo desses empréstimos, de acordo com os cálculos de Luiza Rodrigues, economista do banco Santander, vão passar de 10% para 14% ao ano. Na ponta do lápis, atualmente, um consumidor que adquiriu um apartamento de R$ 500 mil paga R$ 3.383 ao mês em prestações. Em dois anos, essa mesma operação custará 32,9% mais, a mensalidade vai subir para R$ 4.497. ´O problema é que a concessão de crédito está crescendo 51% ao ano. Já a poupança - a principal fonte de recursos para o crédito imobiliário - avança a 20% ao ano. Se essa diferença perdurar, não vão haver recursos para continuar a expandir o crédito imobiliário`, explica Luiza.
Luiz Antônio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), diz que até 2013 o setor imobiliário precisa encontrar fontes de recursos alternativas para bancar a casa própria. A previsão é que serão necessários pelo menos R$ 100 bilhões para suprir a diferença entre a demanda por esse crédito e o volume de poupança disponível. ´É um assunto muito técnico. As diferenças podem ser sanadas. A Abecip está preparando um longo estudo, com a colaboração de economistas e advogados. Vamos discutir com o governo o que precisa ser adaptado à nossa realidade e provar a importância de se ter bem rápido captação de longo prazo. Temos que pensar grande`, reforça França.
Aquecimento
Dados do Banco Central revelam que os consumidores tomaram emprestado neste ano R$ 129,1 bilhões para comprar casas e apartamentos. É a linha de crédito que mais cresceu em 2010. ´Por muito tempo não havia recursos para emprestar. Como agora eles estão disponíveis e o país passa por um momento no qual a oferta e a demanda estão fortes, o crédito vai continuar a se expandir intensamente`, avalia Luiza. O crédito imobiliário, que hoje representa 4% do Produto Interno Bruto (PIB), deve saltar para 11% nos próximos dois anos.
Fonte: Diário de Pernambuco - PE