Com aumento da produção, preço do aço volta a cair
Retorno veloz ao quadro de declínio dos preços, depois de uma alta rápida, ressalta a natureza tênue e irregular da recuperação econômica
15 de setembro de 2009 - A cotação do aço voltou a cair depois de um período efêmero de expansão da demanda, num sinal de que ações para retomar a produção podem ter sido exageradas.
O aço laminado a quente, um produto que serve de referência no setor e geralmente é usado em carros, construções e eletrodomésticos, custava entre US$ 600 e US$ 620 a tonelada em agosto. Agora é possível encontrá-lo por US$ 550 a US$ 570, um declínio de uns 8%, segundo a World Steel Dynamics, uma empresa de pesquisa do mercado siderúrgico.
O declínio do aço tem consequências mais amplas, como afetar o preço do minério de ferro e do frete marítimo. E as siderúrgicas, com sua exposição a uma ampla variedade de mercados finais, de pessoas físicas a consumidores industriais, são geralmente um indicador antecedente da situação econômica.
Quando vários governos, especialmente o da China, lançaram pacotes de estímulo econômico, as siderúrgicas enxergaram uma oportunidade de reiniciar a produção. A ArcelorMittal reabriu suas usinas nos EUA, Europa e em outros lugares. A Baosteel Group, maior siderúrgica da China, começou a aumentar a produção para atender à demanda crescente por bens de consumo final.
As vendas de eletrodomésticos na China subiram 12% em julho frente ao mesmo mês do ano anterior, enquanto as vendas de automóveis subiram 52%.
O retorno veloz ao quadro de declínio dos preços, depois de uma alta rápida, ressalta a natureza tênue e irregular da recuperação econômica mundial, em que alguns países e mercados se mostram mais sadios enquanto outros continuam estagnados ou enfraquecidos. Revela também a incerteza sobre se a demanda real está mesmo se recuperando ou clientes e produtores simplesmente estão reabastecendo os estoques.
Thomas Ludwig, diretor-presidente da distribuidora alemã de aço Klockner & Co, que vende e processa o produto na Europa e América do Norte, disse que a demanda real ainda está fraca e boa parte da produção foi aproveitada para preencher estoques esvaziados. No ano, até o momento, a empresa comprou 1,7 milhão de toneladas de aço a menos que no mesmo período do ano passado. Entre os principais mercados da empresa estão África do Sul e China.
Ele disse que a demanda por aço pode aumentar no segundo semestre. Mas alertou, no entanto, que as siderúrgicas podem mostrar mais disciplina, de modo a garantir que o preço e a produção não ultrapassem qualquer demanda ainda prevista para este ano. "Reajustes agressivos demais em meio a uma demanda ainda relativamente fraca podem sufocar a recuperação", destacou Ludwig.
No último mês, os compradores de aço disseram que várias siderúrgicas têm tentado aumentar os preços. Segundo eles, empresas como a ArcerlorMittal e a AK Steel Holding Corp. querem emplacar um reajuste de US$ 40 a US$ 60 na tonelada curta (907,2 kg) de aço laminado a quente. Ainda não está claro se esses reajustes serão aceitos.
A ArcelorMittal, sediada em Luxemburgo, e a AK Steel, de West Chester, no Estado americano de Ohio, não quiseram comentar os reajustes. Em geral, as siderúrgicas optaram pela discrição sobre seus rumos, mas é evidente que essas empresas mantêm as negociações em aberto e esperam para ver qual rumo os mercados tomarão.
"Temos um relacionamento excelente com nossos clientes. Continuaremos a realizar diálogos construtivos com cada um deles sobre preço, de acordo com as condições do mercado", destacou Adam Warrington, porta-voz da ArcelorMittal.
Diferentemente de outras recessões, as siderúrgicas agiram rapidamente desta vez, cortando a oferta bem antes de o preço cair. A ArcelorMittal, a maior sideúrgica do mundo em produção, cortou o volume produzido em 30% durante vários meses desde o ano passado.
A empresa russa Severstal OAO, a indiana Tata Steel Ltd., a americana U.S. Steel e praticamente todas as outras siderúrgicas do mundo fecharam usinas e demitiram metalúrgicos para conter a produção.
"As siderúrgicas exageraram" ao fechar usinas tão rápido no ano passado e começo de 2009, disse Dave Phelps, presidente do Instituto Americano do Aço Internacional, uma associação que representa produtores e compradores americanos e estrangeiros de aço. "Elas diminuíram demais a produção."
Mas siderúrgicas americanas aumentaram a produção em todas as últimas 11 semanas, segundo o Instituto Americano do Ferro e do Aço, um grupo setorial.
A produção crescente de aço gerou maior demanda - e também preços -pelas matérias-primas do aço, especialmente o minério de ferro. O preço do ferro à vista subiu de US$ 60 a tonelada em março para US$ 110 em julho. Desde então esses preços caíram para uns US$ 90 a tonelada.
O preço do frete marítimo tem seguido a mesma tendência. Para os navios que navegam do Brasil à China, o frete caiu para cerca de US$ 29 por tonelada, ante US$ 40 no início de julho.
Fonte: Valor Online