Com R$ 1 bi em caixa, Rossi monta plano ousado
Empresa vai focar os lançamentos no segmento popular
13 de novembro de 2009 - A Rossi passou por um teste importante no último ano. Alvo constante de críticas por conta da presença da família na gestão, a empresa tratou de acelerar a sua profissionalização.
Conseguiu captar quase R$ 1 bilhão em uma oferta de ações na bolsa, dinheiro que garante fôlego para um plano de expansão ousado e um novo desafio: caminhar cada vez mais para o mercado de baixa renda e reviver os tempos de Plano 100, programa que a lançou no segmento popular nos anos 90 - só que com uma empresa muito maior e um mercado muito mais competitivo.
A Rossi Residencial deve fechar 2009 com praticamente o mesmo volume de vendas (R$ 1,6 bilhão) e lançamentos (R$ 2 bilhões) do ano anterior - enquanto os concorrentes diretos, MRV, PDG Realty e Gafisa estão avançando. Mas, para sinalizar ao mercado que vai subir um degrau e atingir um novo patamar, divulgou uma projeção de lançamentos ambiciosa para os próximos dois anos. Vai lançar entre R$ 3,1 bilhões e R$ 3,5 bilhões no próximo ano e entre R$ 4,4 bilhões e R$ 4,8 bilhões em 2011, quando chegará no patamar de 40 mil unidades populares. Para efeito de comparação, a PDG Realty anunciou lançamentos de R$ 4,55 bilhões em média para 2010 e a MRV projeta vendas médias de R$ 4 bilhões.
Um passo nessa direção foi dado no terceiro trimestre. A empresa lançou entre julho e setembro R$ 1,1 bilhão - no primeiro semestre havia lançado apenas R$ 300 milhões. Até agora, somente a PDG Realty anunciou lançamentos acima de R$ 1 bilhão no período.
Apesar do aumento gradativo da velocidade de vendas nos últimos quatro trimestres - de 13,5% nos últimos três meses do ano passado para 20,8% entre julho e setembro deste ano - as vendas contratadas não evoluíram na mesma velocidade dos lançamentos. No terceiro trimestre, a Rossi fechou com vendas contratadas de R$ 517 milhões, queda de 4% em relação ao mesmo período de 2008.
O número coloca a Rossi aquém do grupo das cinco maiores. Nesse time, que inclui Cyrela, MRV, PDG, Gafisa e Rossi, a empresa que carrega o sobrenome da família se destaca em outros quesitos, como liquidez dos papéis na bolsa, por exemplo, mas tem vendas pelo menos R$ 200 milhões abaixo das concorrentes diretas. Para os analistas, trata-se de uma empresa boa operacionalmente, que está melhorando a gestão - embora ainda haja um ou outra ressalva -, mas que precisa se igualar com as concorrentes no quesito vendas.
A contratação de Cássio Audi para a diretoria de relações com investidores no fim do ano passado foi muito bem vista. Cássio, que veio do mercado de bens de consumo, substituiu Sérgio Rossi Cuppoloni, filho de Edmundo Rossi, um dos fundadores.
Hoje, quatro membros da família - da primeira e da segunda geração, Rafael filho de João, além de Sérgio e Edmundo- estão no conselho, que também conta com a presença de Eduardo Levy, ex-presidente da Bovespa, como conselheiro profissional. Hoje, resta apenas Renata Rossi no dia-a-dia da empresa, como diretora de recursos humanos. "Nós queremos que ela esteja", afirma Heitor Cantergiani, presidente da empresa que está no grupo há mais de 20 anos e ocupa o cargo há quase oito.
Cantergiani destaca o aumento das margens da companhia nos últimos trimestres. A margem líquida saiu de 10% no terceiro trimestre do ano passado para 14,3% este ano - está acima da Gafisa, mas abaixo de PDG, duas do grupo das cinco que já soltaram balanço. O lucro líquido fechou em R$ 61,8 milhões, alta de 73,7% acima do terceiro trimestre de 2008.
O aumento do lucro deve-se ao controle das despesas administrativas e comerciais, cujo percentual sobre o volume lançado caiu de 6% para 2,8% do segundo para o terceiro trimestre. "Estamos registrando recordes de crescimento e rentabilidade", diz Cantergiani.
Assim como todo o setor, a Rossi pretende concentrar sua atuação no segmento popular. Hoje, 45% do negócio está na baixa renda e a ideia é atingir 60% dos lançamentos no setor. "Temos experiência para isso, da época do Plano 100", diz.
A Rossi faz questão de enfatizar a diversificação geográfica como um diferencial. Já tem seis escritórios regionais e vai abrir mais dois: no oeste paulista e em Manaus. Está em 65 cidades e pretende chegar a 110 em dois anos.
Fonte: Valor Econômico - SP