Com rendimento médio de 28%, fundos imobiliários crescem
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Negociação aumentou 37% na Bolsa. Analistas alertam para riscos
29 de agosto de 2012 - O investidor brasileiro está descobrindo os fundos de investimento imobiliário (FII) como uma alternativa mais rentável aos fundos de renda fixa, afetados pela redução da taxa básica de juros, a Selic. O reflexo pode ser visto na movimentação financeira dos 78 fundos imobiliários, com cotas negociadas na BM&FBovespa. Eles giraram R$ 243 milhões em julho, um crescimento de 37,2% em relação a junho, quando foram movimentados R$ 177 milhões. No ano passado, houve 77 mil negociações de cotas de FIIs na Bolsa. Este ano, até julho, já foram 108 mil negócios.
Um estudo feito pela Rio Bravo Investimentos, uma das pioneiras nesse tipo de aplicação no Brasil, mostra que nos últimos sete anos o retorno anual dos FIIs tem superado o CDI e o Ibovespa. O levantamento, feito com 15 fundos que existem desde 2005, revela que ofereceram rentabilidade média anual de 28,3%, contra 12,6% do CDI e 10,9% do Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas do pregão.
- Os fundos imobiliários têm perfil de uma aplicação de renda fixa, já que tendem a oferecer um retorno constante, mas com características de renda variável, uma vez que as cotas são negociadas na Bovespa e variam diariamente - diz Pedro Junqueira, sócio da consultoria Uqbar, de educação e informação financeira.
A Uqbar elaborou, a pedido do GLOBO, um ranking com os dez fundos que ofereceram as maiores rentabilidades nos últimos 12 meses. Descobriu que os retornos variaram de 44,5% a 101% no período, bem acima do que ofereceram os fundos de ações atrelados ao Ibovespa, que perderam 3,94%, em média, no período e os fundos DI e de renda fixa que tiveram ganhos de 10,59% e 12,11%, respectivamente, entre julho de 2011 e julho de 2012.
Com o crescimento da procura por estes fundos, a BM&FBovespa anunciou, na semana passada, a criação do Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX), a ser lançado no dia 3 de setembro. O índice será composto pelas cotas dos fundos listados em Bolsa e servirá para o investidor acompanhar o rendimento médio da aplicação.
- Atualmente o patrimônio líquido dos fundos está em torno de R$ 20 bilhões. Acredito que em dois ou três anos ele poderá subir para até R$ 100 bilhões - diz André Freitas, diretor da área de fundos imobiliários da Credit Suisse Hedging Griffo (CSHG).
Rendimento vem do aluguel
Para o brasileiro, o investimento em imóvel sempre foi sinônimo de segurança. Nos tempos de inflação alta, era uma forma de proteger o dinheiro da desvalorização diária. Os especialistas dizem que os fundos são uma forma mais sofisticada de aplicar nesse mercado. E consideram que esta aplicação oferece mais vantagens do que comprar um apartamento ou casa para ter uma renda extra com o aluguel. Mas eles também alertam que os FIIs apresentam os mesmos riscos da compra de um imóvel para alugar.
- Entre as vantagens, está a administração feita por um gestor profissional, que vai procurar as melhores oportunidades comprando fatias de shoppings centers, hotéis, hospitais, galpões de logística. O rendimento vem do aluguel. E há ainda a chance de ganho com a valorização do imóvel, que se reflete nas cotas - explica Arthur Vieira de Moraes, da Indusval e Partners Corretora e especialista no setor.
Hoje já é possível aplicar num FII com cerca de R$ 100, valor mínimo de uma cota. As compras são feitas na Bolsa, via corretoras. Em média, o pequeno investidor paga uma taxa de corretagem de 0,5%, lembra José Diniz, diretor de investimentos imobiliários da Rio Bravo. Também é possível comprar cotas em emissões primárias, quando um novo fundo é lançado. Nesse caso não há taxa de corretagem, mas sim de estruturação e de distribuição, entre 2% e 3%.
- Outra vantagem é a isenção do Imposto de Renda sobre o rendimento. Se ele recebe o aluguel de um imóvel paga Imposto de Renda, entre 7,5% e 27,5%, dependendo do valor - explica Diniz.
Inadimplência é risco
O produtor cultural Emiliano Felipe Pedro, de 38 anos, fez seu primeiro investimento num FII em fevereiro deste ano, orientado por um consultor. Ele havia comprado um imóvel na Rua Augusta, em São Paulo, para abrir um empreendimento cultural. O negócio não vingou e ele vendeu o imóvel com um bom lucro.
- Apliquei R$ 50 mil em um fundo tive um retorno de 20,44%. Decidi investir mais R$ 7 mil - diz o produtor.
O professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, Samy Dana, alerta que os fundos imobiliários têm risco de inadimplência do aluguel, vacância e desvalorização do imóvel, assim como um imóvel comum:
- Portanto, não dá para dizer que a rentabilidade passada vai se repetir no futuro. Há risco como qualquer outro investimento. Além disso, os imóveis têm um ciclo de valorização, como as ações na Bolsa. E nos últimos anos eles já subiram muito. Portanto, é preciso escolher muito bem o gestor e observar em quais ativos o fundo investe - diz.
Fonte: O Globo