Construção bate recorde e abre 51 mil empregos em Minas Gerais
Desempenho acima de um dígito acontece após 24 anos, graças à expansão do crédito imobiliário e da renda
16 de dezembro de 2010 - O setor da construção civil em Minas Gerais voltou a crescer acima de um dígito após 24 anos, devendo encerrar 2010 com um incremento de 12% em relação a 2009. A expectativa é que o mercado se mantenha aquecido no ano que vem, com crescimento de pelo menos 6% frente a 2010. Neste ano, o desempenho do Estado deve ser superior à média nacional, estimada em 11%.
O número de lançamentos imobiliários em Belo Horizonte entre janeiro e outubro deste ano é um termômetro do que vem ocorrendo no setor. O resultado foi o melhor desde 1994, início do Plano Real, totalizando 4.782 unidades lançadas - alta de 17% na comparação com igual período do ano passado.
Os dados e projeções são do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), que divulgou um balanço anual do setor. De janeiro a outubro de 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil no país aumentou 13,6% se comparado ao mesmo período de 2009. Em Minas, a elevação foi de 13,7% somente no primeiro semestre deste ano.
O resultado acima dos números nacionais deve-se à grande quantidade de obras realizadas no Estado, sobretudo na capital. Exemplo disso foram a inauguração de shoppings centers, a construção da Cidade Administrativa e a execução de obras de infraestrutura ao longo da Linha Verde. Fatores como estabilidade econômica, crescimento do crédito imobiliário, expansão de plantas industriais e aumento do emprego e da renda também foram determinantes para o crescimento, afirma o presidente do Sinduscon-MG, Luiz Fernando Pires.
Apesar do aumento no número de lançamentos, as vendas de imóveis na capital caíram 6,1% nos dez primeiros meses de 2010, se comparadas a igual período do ano passado, totalizando 5.094 unidades comercializadas. A retração foi decorrente da escassez de terrenos para construção de imóveis com valor de até R$ 100 mil, principalmente no Vetor Norte da cidade.
Segundo o vice-presidente da Área de Materiais, Tecnologia e Meio Ambiente do Sinduscon-MG, Geraldo Jardim Linhares Júnior, os preços dos terrenos nessa região tiveram uma valorização excessiva, inviabilizando a execução de projetos populares. Em razão disso, nos dez primeiros meses deste ano, não foi lançado nenhum empreendimento nessa faixa de valor em Belo Horizonte , contra 1.322 registrados no mesmo período de 2009.
Mesmo com a retração, o Valor Global de Vendas (VGV) apurado em Belo Horizonte no período, de R$ 1,8 bilhão, foi 27,23% maior que o verificado entre janeiro e outubro de 2009. O incremento foi resultante do aumento de 69,35% nas vendas de imóveis com valor entre R$ 250 mil e R$ 500 mil e da alta de 32,20% na comercialização de unidades acima de R$ 500 mil.
Ainda conforme o balanço do Sinduscon-MG, 48,35% das unidades vendidas na capital mineira entre janeiro e outubro de 2010 estão localizadas em bairros de padrão alto. Em Minas, o número de vagas formais criadas pelo setor nos primeiros dez meses do ano foi 17,36% maior que o apurado entre janeiro e outubro de 2009. Ao todo, a construção civil gerou 51.333 empregos com carteira assinada no Estado. Dessas, 37% se referem à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Crédito imobiliário sobe 69%
O volume de contratações de crédito imobiliário com recursos provenientes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) em Minas Gerais aumentou 69,36% nos nove primeiros meses de 2010, em relação ao mesmo período de 2009. Entretanto, o saldo das cadernetas de poupança tem crescido, em média, 20% ao ano. Para sustentar o ritmo de crescimento do financiamento imobiliário no país, é necessário criar uma nova fonte de recursos.
A questão representa apenas um dos gargalos do setor, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Luiz Carlos Pires. Segundo ele, a securitização imobiliária seria uma das alternativas para suprir essa necessidade do mercado.
Apesar do incremento observado nos últimos anos, o crédito imobiliário no Brasil corresponde a apenas 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Levando-se em conta o déficit habitacional e a demanda por novas moradias, essa proporção deveria atingir 50% do PIB, observa o presidente da entidade.
Outro problema enfrentado pelas empresas do setor e que tem resultado, muitas vezes, no atraso da entrega dos imóveis, é o prazo para liberação das obras nos cartórios e prefeituras, tanto na capital quanto no interior. Em alguns casos, o processo tem sido estendido em até um ano em razão da falta de estrutura desses órgãos, que não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento do mercado imobiliário, na opinião do coordenador sindical do Sinduscon-MG, Daniel Ítalo Richard Furletti.
Outro desafio é a falta de mão de obra qualificada. Minas Gerais é o Estado que mais gera vagas no setor, sendo responsável por 15% dos 341.627 postos de trabalho criados pelo segmento no país em 2010. Mesmo assim, faltam profissionais.
O déficit de trabalhadores capacitados tem impactado diretamente o custo da construção por metro quadrado em Belo Horizonte, de acordo com Furletti. Entre janeiro e outubro deste ano, a variação do Custo Unitário Básico de Construção (CUB/m2) para projeto-padrão de oito pavimentos chega a 2,03%. O peso da mão de obra no cálculo do CUB é de 50%.
A falta de profissionais qualificados tem puxado os salários para cima e, consequentemente, resultado em aumento dos custos para as construtoras. A redução nos preços de alguns materiais de construção, a exemplo do aço, que teve queda de 16%, tem ajudado a compensar a pressão provocada pelo aumento do custo da mão de obra, observa Furletti.
Fonte: Hoje em Dia - MG