Construção civil aguarda aumento de contratos
Este ano, porém, o lançamento de licitações para novas contratações não está forte como o esperado para sustentar a continuidade do ritmo de investimento atual
15 de junho de 2009 - A expectativa da construção civil é de que o aumento nas obras para o poder público paulista leve a um crescimento de 20% este ano, mas não houve, até agora, incremento nos contratos.
A elevação dos investimentos do governo de São Paulo, de 61,8%, no primeiro quadrimestre de 2009, em comparação com o mesmo período do ano passado, ainda é proveniente de licitações feitas em 2008 que permitiram um ritmo de obras ileso à crise econômica mundial.
Com os contratos em mãos, as construtoras dimensionaram sua estrutura para o novo patamar de operações e incrementaram seu quadro de funcionários. Este ano, porém, de acordo empresas ouvidas pelo Valor, o lançamento de licitações para novas contratações não está forte como o esperado para sustentar a continuidade do ritmo de investimento atual.
Segundo Ricardo Backheuser, diretor de novos negócios da construtora Carioca, a companhia espera que seu faturamento cresça 15% em relação ao ano passado considerando os contratos de obras públicas no Estado. "Possuímos contratos assinados com o Estado e com prefeituras, e as perspectivas de receita vislumbradas desde o ano passado para 2009 tendem a se manter com a execução das obras", diz o executivo.
A construtora Planova acredita que crescerá 20%, enquanto a Massafera projeta crescimento de 8% a 10%. São empresas que atuam em manutenção de rodovias, reforma de escolas, construção de presídios.
"Nunca houve previsão de investimento tão grande em São Paulo, é mais que o dobro dos anos anteriores. Vai haver muitas obras e novos contratos este ano, mas não sinto que isso já tenha refletido no mercado", diz Luciano Amadio, presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop) e sócio-diretor da construtora CVS.
Foram liquidados no primeiro quadrimestre deste ano R$ 2,3 bilhões - sem considerar os restos a pagar de 2008 -, o que representa 11,1% da previsão de investimentos para o ano. Segundo o governo, a porcentagem está dentro da média executada no período. Em 2007, foram liquidados 10,45% do previsto de janeiro a abril, e em 2008, 11,7%.
"A nossa expectativa era de que os investimentos neste começo de ano fossem mais fortes do que no final do ano passado por conta do volume de recurso anunciados, mas ficou abaixo da expectativa", diz Sérgio Luiz Massafera, diretor da área comercial da construtora Massafera.
Por conta da não efetivação de novos contratos pelas empresas entrevistadas, nenhuma delas diz sentir por enquanto a necessidade de aumentar sua capacidade de produção. Segundo informam, o ritmo está forte, mas semelhante ao que sentiam desde o segundo semestre do ano passado.
Em 2008, o emprego na construção civil em São Paulo cresceu 14,79%, apesar de quedas de 0,33% e 2,62% nos dois últimos meses do ano. Em 2009, as vagas acumulam alta de 2,7% até março, o que serviu apenas para igualar ao patamar de 608 mil empregos formais registrados em novembro de 2008, segundo o Sinduscon-SP, que representa a construção civil.
No meio de 2008, a Massafera aumentou seu quadro de funcionários em cerca de 15% por conta das licitações em andamento. A empresa assinou contratos com o Estado para a construção de escolas e fábricas de cultura. "Estamos com outro processo de contratação de trabalhadores em curso, mas vamos esperar o fim do semestre para ver se precisaremos efetivá-lo. Por enquanto, a empresa está bem dimensionada para o volume de obras existente", diz.
A construtora Planova aumentou em 10% o número de funcionários no ano passado e disse que deve precisar contratar mais esse ano, mas por conta da mudança de fase das obras já em andamento.
"Devemos ter um incremento de mão de obra este ano porque nossas obras entrarão numa fase que demandará mais trabalhadores, não pela assinatura de novos contratos", diz Arlindo Moura, diretor da Planova.
As empresas dizem que há grande expectativa sobre o lançamento de editais no Estado a partir do fim deste semestre. "As coisas vão começar a acontecer. Se perguntar hoje, não sinto que houve retomada, mas ela deve vir", diz Amadio, da CVS.
Segundo Massafera, as contratações devem sair, já que o Estado demonstra ter dinheiro em caixa, mas ainda espera uma sinalização mais forte. "Tínhamos contratos de conservação de vias com o DER, e agora aguardamos novas licitações", diz. Para Backheuser, o lançamento de novas licitações tem demandado mais tempo por problemas de burocracias já conhecidos no setor público. "Ainda existe uma perspectiva positiva de novas contratações", diz.
A afirmação é contestada pelo governo, que diz manter as licitações, como exemplo do programa de recuperação de vicinais e contratações da CPTM. O Estado prevê investir R$ 20,6 bilhões em transportes, saneamento, habitação, educação e segurança em 2009.
O secretário de Planejamento, Francisco Vidal Luna, diz que é comum as liquidações serem mais fracas no começo do ano, o que não significa que os investimentos estejam comprometidos. "Gasta-se sempre menos no começo do ano por conta da dinâmica do investimento público, mas não estamos com execução baixa", diz.
Uma preocupação das construtoras é sobre o risco de os investimentos públicos serem afetados pela perda de receita do Estado. O governo já anunciou uma redução de 0,3% na arrecadação de janeiro a abril deste ano em relação a 2008, uma diminuição de R$ 1,3 bilhão da receita em relação ao previsto no orçamento. Segundo Luna, a perda ainda não preocupa, já que, no início do ano, o governo realizou um contingenciamento de R$ 1,5 bilhão no custeio.
Fonte: Valor Econômico