Construção civil investe em módulos para reduzir custos
Implementação de nova norma pode simplificar e baratear a execução de projetos em canteiros de obras
19 de outubro de 2010 - Governo e setor privado estão juntando esforços para aumentar a competitividade e reduzir os custos e as perdas na construção civil. O trabalho passa pela implementação de uma nova norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que trata sobre a coordenação modular para edificações. É um instrumento voluntário para tornar compatíveis medidas na construção. A regra pode simplificar e baratear a execução de projetos nos canteiros de obras.
A norma entrou em vigor no dia 1º como resultado de um trabalho que reuniu representantes do governo federal e da indústria, com participação da academia. A norma da ABNT integra um conjunto de outras ações no âmbito da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para a construção civil, diz Mário William Esper, diretor do departamento da indústria da construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ontem, fabricantes de diversos materiais usados na construção civil reuniram-se na Fiesp com integrantes do governo para conhecer detalhes da norma.
A coordenação modular é considerada um dos pilares para se industrializar a construção, processo pelo qual se transforma a tarefa de construir em uma atividade de montagem. A técnica permite o uso de kits e de componentes que são montados com maior facilidade em projetos de volume de construção, como é o caso da habitação popular. O BNDES criou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para a construção civil que contempla a construção industrializada.
O programa do BNDES poderia estimular as empresas a adotar a norma da coordenação modular, na avaliação de técnicos do setor. Ana Cristina Costa, gerente de bens de consumo, comércio e serviços da área industrial do BNDES, diz que o programa BNDES Construção Civil, que inclui a construção industrializada, está em processo de fomento, sem operações contratadas. A outra ação dentro do programa é voltada para a qualidade na construção.
A nova norma da ABNT adota medidas padronizadas. Por ela, os processos de fabricação teriam de passar a adotar uma medida padrão: o módulo básico de 100 milímetros. Mário Esper, da Fiesp, disse que a padronização significa que uma porta ou janela será produzida respeitando esse módulo, eliminando a variação de medidas utilizadas na fabricação de componentes. "Vai fazer da construção um lego", compara.
Na opinião de especialistas, a aplicação da norma ganha importância em um cenário de crescimento da construção civil no país. A expansão do setor - impulsionado pelo crédito imobiliário - vai pressionar a cadeia produtiva a fornecer materiais com maior eficiência, menores custos e perdas. Marcos Otávio Bezerra Prates, diretor do departamento de competitividade industrial do Ministério do Desenvolvimento (MDIC), afirma que a coordenação modular contribui para maior produtividade de materiais e de mão de obra.
A nova norma da ABNT reuniu cerca de 25 normas técnicas que tratavam sobre coordenação modular, mas que não produziram resultados práticos. Clayton Campanhola, diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), diz que a nova norma trouxe dois desafios: readequar e aglutinar as normas anteriores e fazer com que o instrumento seja incorporado pela cadeia produtiva da construção, uma vez que a norma não é compulsória.
O consultor Sergio Leusin de Amorim, que participou da elaboração da norma, diz que um instrumento como esse não se implanta da noite para o dia. É preciso dar tempo à indústria para que ela se reorganize em termos de produtos e de parque industrial. Também está claro para ele que a norma precisa ser complementada com ações indutoras do Estado, que poderia usar o seu poder de compra para criar demanda.
Uma possibilidade, dizem técnicos do setor, seria a Caixa Econômica Federal (CEF) reforçar a necessidade da adoção da norma em seus programas de financiamento. A CEF disse, por e-mail, que participa dos principais fóruns de discussão técnica e apoia as iniciativas que buscam a melhoria do processo construtivo e a qualidade dos projetos. E completou: "A norma que entrou em vigor no dia 1º de outubro ainda requer discussão com a participação de toda a cadeia produtiva, para avaliar seus reflexos, aplicabilidade e adequação dos diversos setores, com destaque aos projetistas e aos fabricantes dos diversos insumos."
Amorim afirma que a coordenação modular faz parte de uma série de projetos e ações contidos em um acordo de cooperação técnica acertado entre ABDI, MDIC, Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, Fiesp e a Fundação Euclides da Cunha de Apoio Institucional à Universidade Federal Fluminense (UFF). Amorim atuou como supervisor dos projetos dentro da Fundação Euclides da Cunha. Ele avalia que existe uma "janela de oportunidade" para aplicação da norma, que é a expansão da construção civil no país.
Fonte: Valor Econômico - SP