Construção comercial é desafiada por cenário instável
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Aumento da taxa de vacância deve inibir novos empreendimentos
25 de março de 2014 - As previsões econômicas para o Brasil este ano, que apontam para um crescimento moderado da construção, alta da taxa de juros e da inflação, devem segurar as obras de imóveis comerciais ao longo do ano. Em 2013, a taxa de vacância de escritórios passou de 13,2% para 18,6% no País, o que deve inibir ainda mais novos empreendimentos, além de apontar para possibilidade de alta nos preços já em 2015.
Entre os escritórios, salas comerciais e lojas, a alta taxa de vacância é realidade. "O que se deu foi que o crescimento do Produto Interno Bruto em 2010, que ficou acima de 7%, animou as empresas de construção que pisaram no acelerador em novas obras. O consumo, que não sustentou a alta por quatro anos, começa a se estabilizar", diz Eurico Brandão, professor de macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em mercado imobiliário.
"Diante desse cenário, o estoque de imóveis comerciais à disposição não consegue ser totalmente absorvido e a taxa de unidades vagas tende a aumentar", diz o diretor da MS Properties, Maurenio Stortti.
Mesmo com cautela, o empresário não acredita na perspectiva de um colapso. "Na atual conjuntura, o risco de estourar uma bolha generalizada no Brasil é baixo".
De acordo com um balanço da MS Properties, empresa do grupo M.Stortti focada em negócios imobiliários, bolhas ocorrem em mercados que envolvem forte atividade de construção e oferta abundante de crédito. "Em geral, as bolhas estouram quando o crédito supera 50% do PIB. No Brasil, o crédito imobiliário está em 7% do PIB, mas isso não significa que o setor está livre de dificuldades", detalha.
Para o presidente da Construtora Lira, Sérgio Lira, o mercado está difícil, mas há espaço para trabalhar. "É preciso de um diferencial para ganhar mercado em tempos de crise", disse, lembrando que a empresa aposta na construção de lojas de rua, principalmente no formato built to suit. "Não compensa mais fazer salas comerciais e ficar com estoque. Contrato prévio com redes de supermercado é menos rentável, mas mais garantido".
Preço em alta
Um estudo da consultoria EY (antiga Ernst & Young) apontou a mesma tendência de preços. Segundo os dados, a desaceleração no ritmo da construção na região metropolitana de São Paulo em 2013, deve continuar esse ano, o que significa que o mercado pode entrar em 2015 com maior demanda do que oferta. "Num primeiro momento, que teve início em 2012 e se estende até 2014, a oferta de imóveis supera a demanda. Esse período é marcado pelo boom da construção verificado nos últimos anos, e o mercado ainda está absorvendo a oferta. Numa fase seguinte, entre 2015 e 2017, o cenário se inverte. Com a redução no número de novas obras, a demanda que continua a expandir e irá superar a oferta. O efeito disso é o aumento nos preços de venda e de aluguel", diz Viktor Andrade, coordenador técnico do estudo da EY.
Os números da EY projetam que, a partir de 2015, a demanda seja de mais de 1,8 milhão de m², enquanto a previsão de oferta é de pouco mais de 1,5 milhão de m². Com isso, o preço dos aluguéis praticados deve ultrapassar os R$ 140 por m² já a partir de 2014, com tendência de alta até 2017, que deverá ultrapassar R$ 170 o m².
Outro estudo, dessa vez da consultoria imobiliária Lopes, o mercado paulistano de conjuntos comerciais recebeu durante o último triênio 138 novos empreendimentos, somando 21.505 unidades e R$ 11,2 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV), alta de 5,4% ante ao triênio de 2007 a 2010.
Brasil
Com um crescimento de 5,4 pontos percentuais, a taxa de vacância no País, apontada em relatório da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield também sinaliza redução dos lançamentos este ano.
Conforme o estudo, entre as oito capitais pesquisadas, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro apresentaram alta, enquanto Vitória e Brasília tiveram reduções anuais. As maiores altas para a taxa de vacância em empreendimentos classe A foram registradas no Rio de Janeiro (7%). Vitória e Brasília apresentaram variações negativas de 8% e 2%. Já os imóveis de alto padrão em São Paulo fecharam o ano com taxa de vacância de 17,2 %, alta de 2,6 ponto percentual ante a 2012.