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Construção pesada retoma força na Odebrecht, Camargo e Andrade

Texto: Redação AECweb

Peso dos números da construção nos três grupos foi compilado pela Dextron Management Consulting, consultoria especializada em estratégia empresarial

10 de maio de 2012 - Embora tenham aproveitado a estabilização da economia e os programas de privatizações e concessões para diversificar seus negócios, a partir de meados dos anos 1990, entrando em setores como os de telecomunicações, petroquímica, energia e até varejo, os três maiores grupos brasileiros que nasceram da construção pesada ainda têm na sua atividade original uma fonte importante de faturamento. Essa atividade, que perdeu força com a redução das grandes obras públicas, retomou o fôlego nos últimos anos, com a forte demanda por projetos de infraestrutura no país.

Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez viram o faturamento do setor se estabilizar nos últimos anos em cerca de um terço das receitas de cada um dos grupos, apesar da intensa ampliação do leque de negócios de cada um. Na última década, contribuiu para a consolidação do setor as grandes obras de infraestrutura em execução no país, como projetos de geração de energia, refinarias de petróleo, além de obras para os eventos esportivos de 2014 e 2016.

O movimento é mais visível na Camargo Corrêa. Após passar por um intenso movimento de diversificação de negócios, o grupo viu a construção responder por apenas 13% do faturamento em 2002. Em menos de uma década, no entanto, o número mais que dobrou para 32% em 2010 (quando a receita bruta foi de R$ 20,4 bilhões).

Na Odebrecht, a importância da construção civil no portfólio ficou evidente no momento de crise mundial de 2008 - que afetou o principalmente os negócios da controlada Braskem, empresa do setor petroquímico e que responde hoje pela maior parte do faturamento do grupo. Em 2009, a participação dessa subsidiária no faturamento caiu para 48% (em outros anos, havia chegado a 72%). Enquanto isso, a construção pesada - que havia descido a 26% de participação nas receitas totais em anos anteriores - subiu para quase metade do total, com 46%, em 2009. No ano seguinte, ficou em 31% de participação no faturamento total, de R$ 53,4 bilhões.

Na Andrade Gutierrez, a construção pesada manteve em 2010 cerca de um terço de participação nas receitas totais, de R$ 18,2 bilhões, mesmo com o crescimento em telecomunicações - principalmente depois da aquisição da Luxemburgo Participações, em 2008, que fez o grupo aumentar a participação na Telemar. O fato fez a companhia de telecomunicações gerar três vezes mais caixa para o grupo. O resultado operacional (medido pelo Ebitda) da construção pesada praticamente multiplicou-se por 10, entre 2002 e 2010 (de R$ 80 milhões para R$ 750 milhões), enquanto a telefonia, no mesmo período, foi de 3,9 vezes.

O peso dos números da construção nos três grupos foi compilado pela Dextron Management Consulting, consultoria especializada em estratégia empresarial, a partir dos dados da revista anual Valor Grandes Grupos - que reúne informações sobre os 200 maiores conglomerados que operam no país. O objetivo da pesquisa dos consultores foi estudar o crescimento financeiro e acionário das corporações entre 2002 e 2010, período de estabilidade econômica no Brasil.

Segundo os consultores Aurelio Formoso e Rafael Di Matteo Joaquim, da Dextron, as políticas governamentais e o aquecimento da construção pesada compõem o atual cenário de negócios desses grupos, embora essa atividade não seja mais o principal gerador de receitas para os grupos. Com a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007, as grandes obras voltaram ao portfólio trazendo investimentos de R$ 657,4 bilhões (85% já executados, segundo a Dextron). Boa parte dos empreendimentos são em áreas como saneamento, transporte e energia - segmentos de atuação dos três grupos. O PAC 2, lançado em 2010, ainda prevê investimentos de R$ 1,6 trilhão a partir de 2011, segundo a consultoria.

Atualmente, a Camargo atua em projetos que estão entre os maiores do PAC, como a Refinaria Abreu e Lima (cerca de R$ 25 bilhões em investimentos) e em hidrelétricas como a de Belo Monte, no Pará (R$ 26 bilhões), e a de Jirau, em Rondônia (R$ 10 bilhões).

Já a Odebrecht, que participa das obras das usinas de Santo Antônio, em Rondônia (R$ 16 bilhões), e Teles Pires, entre Mato Grosso e Pará (cerca de R$ 4 bilhões), também tem a Copa do Mundo como segmento de negócios de grande importância em seu portfólio atualmente. Participa das obras de quatro estádios do evento, incluindo as reformas do Maracanã, no Rio, e da construção do estádio do Corinthians, em São Paulo. O volume contratado em engenharia e construção em estádios da Copa com participação do grupo é de R$ 2,7 bilhões.

Já a Andrade Gutierrez participa da construção de Belo Monte, de Santo Antônio, e da Transcarioca, no Rio (R$ 1,5 bilhão).

A importância da construção para os grupos permanece mesmo depois de um movimento intenso de diversificação de negócios. Segundo os dois consultores, os grupos tiveram dois motivadores para essa ampliação. Além da óbvia oportunidade surgida com a estabilização da economia a partir de 1996, houve necessidade dos grupos começarem a diversificar suas operações já alguns anos antes, com o fim do chamado "milagre econômico" e das grandes obras do regime militar.

O histórico da Camargo resume esse cenário. Nos anos 1970, o grupo atuou em obras estratégicas de infraestrutura como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói (esta ainda hoje uma das maiores do mundo), trechos da extinta Rede Ferroviária Federal e em rodovias como a dos Imigrantes (no Estado de São Paulo). Já em meados dos anos 1980, o ritmo de obras diminuiu e a Camargo diversificou seu leque de atuação comprando parte de Alpargatas e Alcoa. Hoje, tem o faturamento mais pulverizado dentre os três grupos analisados, sendo que a concessão de transportes (via CCR) e de energia (via CPFL) é o principal gerador de caixa depois da construção pesada.

Na Odebrecht, o movimento é semelhante. Após 35 anos atuando em engenharia e construção, o grupo adquiriu participação acionária na Companhia Petroquímica de Camaçari em 1979, sendo esse o primeiro passo de um processo de diversificação que se intensificaria ao longo da década de 1980 e levaria à criação da gigante Braskem em 2002 - que, em 2010, respondeu por 59% do faturamento.

A Andrade, que participou nos anos 1970 da construção de Itaipu, no Paraná (na época, a maior hidrelétrica do mundo), ampliou seu leque de atuação nos anos 1990 com a criação da AG Concessões e a conquista de duas estradas federais da primeira etapa de concessões rodoviárias do país, como a Dutra e a Ponte Rio-Niterói (hoje no guarda-chuva da CCR, criada em 1998 e que tem como sócia a Camargo). Atualmente, no entanto, o principal gerador de receita do grupo é a telefonia, setor em que começou a atuar com a criação da AG Telecom, em 1993, e se fortaleceu em 1998, quando liderou o consórcio vencedor da privatização da Telebrás ao conquistar a Telemar (atual Oi). A construção retomou a posição de segunda maior geradora de receitas a partir de 2008.

Procurados, os três grupos não comentaram o assunto.

Fonte: Valor Econômico

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