Construção vê US$ 323 bi puxada por indústria
Crescimento dos dois segmentos, de acordo com a consultoria especializada na área de construção civil ITCnet, foi de 33%
04 de fevereiro de 2011 - Enquanto a maioria do mercado imobiliário cresce os olhos aos projetos do programa "Minha Casa, Minha Vida", dos US$ 323,5 bilhões de toda área de construção movimentados no ano passado, no País, cerca de 89% vieram de contratos firmados para a construção na área corporativa, ou seja, de obras para a expansão e construção na área comercial e indústria, além do ramo hoteleiro e público. Um exemplo é a obra da usina de Belo Monte, cujo investimento é de US$ 30 bilhões. Há, ainda, destaque à área de infraestrutura viária e turismo. Com 218 obras e US$ 41 bilhões, as obras viárias representaram 37% do setor, e os hotéis e resorts, com 252 obras, renderam US$ 27 bilhões.
A construção na indústria movimentou US$ 178 bilhões em 2010, e no varejo, US$ 109 bilhões. O crescimento dos dois segmentos, de acordo com a consultoria especializada na área de construção civil ITCnet, foi de 33%, e a expectativa para 2011 é de que o número cresça na casa dos 10%, acompanhando a economia.
A tendência é que a iniciativa privada continue em busca de aumentar fisicamente sua atuação, e incorporadoras como Rossi, Eztec, Paranasa e Cesbe Engenharia seguem atentas. Para o analista de mercado e professor de Engenharia da FEI Alberto Canudo, a inserção de novas indústrias automotivas será o grande fundo de investimento em 2011.
"Grandes fábricas e galpões estão previstos para serem instalados este ano: é um momento de euforia para a construção industrial, que passava por algumas dificuldades", afirmou o acadêmico. De acordo com o professor, de 2008 para 2009 o setor teve um recuo de 20%, que já foi recuperado. "Muitos projetos entraram na gaveta, até por recuo das grandes indústrias de apostar em novidades, mas o otimismo foi completamente restaurado", disse.
Exemplo disso é a Cesbe Engenharia, que anunciou esta semana a assinatura de um contrato com a Novelis Brasil, indústria do ramo de alumínio, para execução de obras de ampliação da sua unidade em Pindamonhangaba, interior do Estado de São Paulo. Com investimento de R$ 300 milhões, a Novelis contratou o grupo de engenharia visando a aumentar sua capacidade em 50%.
Além desta obra, a Cesbe também fechou recentemente um contrato com um braço da Brookfield, a Pezzi Energética S.A, e a Serra dos Cavalinhos II Energética S.A.; o contrato visa a construção de duas novas pequenas centrais hidroelétricas, que aproveitarão o potencial hidroelétrico do rio das Antas, no Rio Grande do Sul. A obra já está em andamento e deverá ser finalizada em 2012.
"A construção industrial vem se recuperando, sobretudo nos segmentos em que os prazos necessários para a ampliação ou implantação de novas unidades demandam períodos superiores a um ano", afirma Paulo Talamini Espínola, diretor Comercial da Cesbe Engenharia. De acordo com o executivo, o número de projetos vem crescendo gradativamente. "A procura tem sido principalmente para projetos nas áreas de energia, petróleo, cimento, aço e da indústria automobilística", conta Espínola.
Para Viviane Guirao, diretora da área de Pesquisa e Análise de Mercado da ITCnet, o número de obras no segmento de indústria foi menor do que no segmento comercial - 1.882 ante 3.388 -, porém o valor investido destoa para a economia. "A retomada da construção industrial tem sido ampla principalmente em segmentos como energia e agronegócios", afirmou a especialista.
Números
O presidente da ITCnet, Guillhermo Vidal, detalha a diferença de números. "As pessoas acham estranho que habitação tenha uma fatia pequena da construção civil, isso porque vemos muitas inaugurações habitacionais; a diferença é que na indústria cada obra custa doze vezes mais, além de equipamentos específicos, importados e mão de obra mais especializada", disse o executivo.
De olho nessa grande fatia, a sulista Paranasa também conta com crescimento. De acordo com Roberto Orsini de Lima, superintendente de Novos Negócios do grupo, por causa da crise financeira de 2009 e começo de 2010, as indústrias estavam ainda mais preocupadas em enxugar seus custos e se tornaram mais criteriosas em relação a seus investimentos. O quadro, no entanto, já começa a mudar "O que não quer dizer que novos investimentos não possam ser realizados. As oportunidades de crescimento são reais e aliadas a um crescimento interno consistente, já que o Brasil apareceu como solução para a crise".
Entre os construtores comerciais, a incorporadora Rossi também vê o bom momento do setor. Com quatro empreendimentos comerciais em andamento, o grupo tem recebido grande retorno de vendas. "Hoje, dos quatro empreendimentos comerciais que temos na Grande São Paulo, dois já foram totalmente vendidos antes da entrega, e os outros dois já estão nas últimas unidades", afirmou Rubens Júnior, dirigente regional da Rossi.
Para o executivo vale ressaltar ainda que o volume de vendas comerciais ainda não é grande na Rossi, mas o setor está aquecido e é um bom momento para investir. "Hoje, as vendas comerciais representam em média 10% das unidades comercializadas, mas como a economia brasileira vai bem, e há uma grande demanda de serviços, empreendimentos comerciais são, sim, tendência".
A construtora Eztec também está buscando uma fatia do mercado comercial. Este ano o grupo já lançou o empreendimento comercial NeoCorporate Offices em 2011, o primeiro do grupo este ano. O valor geral de vendas (BGV) próprio do edifício é de R$ 182 milhões, uma aposta alta no setor. De acordo com a empresa, o empreendimento paulista vendeu 85% das unidades no primeiro fim de semana.
No mundo
Os investimentos imobiliários comerciais no mundo cresceram 51% no ano passado, segundo a consultoria Jones Lang LaSalle. Um forte quarto trimestre, que superou estimativas do mercado, elevou o volume do ano para US$ 316 bilhões, o maior desde 2008. Pela primeira vez desde o início da crise financeira mundial, o volume trimestral ultrapassou a marca de US$ 100 bilhões.
Fonte: DCI