Construtoras ajudam a eleger 54% dos novos congressistas
Levantamento mostra que 306 congressistas que assumirão mandatos em fevereiro (264 deputados e 42 senadores) receberam contribuições de construtoras
08 de novembro de 2010 - As empreiteiras mais que triplicaram o volume de doações para os políticos que se elegeram para o Congresso neste ano em relação a 2006. Dos congressistas eleitos, 54% receberam recursos das construtoras em 2010, um total de R$ 99,3 milhões.
Levantamento feito pela Folha nas prestações de contas disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral mostra que 306 congressistas que assumirão mandatos em fevereiro (264 deputados e 42 senadores) receberam contribuições de construtoras.
Há quatro anos, as empreiteiras declararam ter doado R$ 32,6 milhões (valores corrigidos pela inflação).
A conta tem apenas uma ressalva: neste ano foram disputadas 27 vagas a mais no Senado do que em 2006, quando foi eleito apenas um senador para cada Estado.
As empreiteiras superaram com folga outros tradicionais doadores, como bancos, mineradoras e empresas ligadas ao agronegócio.
Orçamento
No Congresso, parlamentares distribuem suas emendas para destinar recursos a obras públicas e participam de comissões temáticas vinculadas diretamente ao ramo de atividade das construtoras, além da elaboração do Orçamento da União.
Também há expectativa de que obras do chamado PAC 2 (a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento) ganhem força nos próximos anos, na esteira da preparação para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016.
Os eleitos pelo PT, partido da futura presidente Dilma Rousseff, foram os que mais arrecadaram do setor: R$ 25 milhões. O partido conquistou cem cadeiras do Congresso. Os eleitos pelo PSDB, 58 no total, receberam R$ 19 milhões, e os pelo PMDB, 55, R$ 12 milhões.
Os campeões em valores absolutos são os futuros senadores Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS), eleitos em chapa conjunta. Receberam R$ 9 milhões de empreiteiras. O tucano, apontado como futuro líder da oposição, ganhou dinheiro de 41 empresas do ramo.
Cotada para assumir um ministério, a senadora eleita Marta Suplicy (PT) recebeu R$ 3 milhões de empreiteiras e R$ 600 mil do ramo de infraestrutura (mineração, metalurgia e siderurgia).
A nova senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, obteve R$ 3,1 milhões.
Total
O total arrecadado pelas campanhas dos novos congressistas foi de R$ 801,6 milhões. As maiores médias são dos eleitos pelo Centro-Oeste, puxadas pelo agronegócio. No total, empresas que exercem atividade agrícola distribuíram R$ 50 milhões aos vencedores.
Ex-governador de Mato Grosso e cotado para o Ministério da Agricultura, o senador eleito Blairo Maggi (PR) recebeu R$ 2,1 milhões da agroindústria.
Na sequência, aparecem empresas da área de infraestrutura, que também mantêm representantes nos corredores do Congresso para monitorar as comissões, com R$ 28,6 milhões.
Os bancos doaram R$ 13 milhões aos eleitos. Quem mais contribuiu com campanhas foram o Itaú e o BMG -banco envolvido no escândalo do mensalão.
Aécio também se destaca no ranking dos preferidos dos bancos, com R$ 900 mil -o BMG doou R$ 400 mil, e o Itaú, R$ 500 mil.
Fonte: Folha de S. Paulo - SP