Construtoras apostam nas casas populares
Na Rossi, segmento já responde por 50% da receita. Na Cyrela, projeção é que a Living, braço econômico da empresa, represente metade do faturamento até 2013
13 de outubro de 2011 - A disponibilidade de crédito para o segmento imobiliário praticamente triplicou no país nos últimos sete anos. Em 2004, o montante destinado à compra de imóveis representava 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Hoje, o índice é de 4,6%, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). A maior disponibilidade de crédito está atrelada à melhoria na condição econômica dos brasileiros e aos programas de incentivo habitacional, como o Minha Casa, Minha Vida.
Com este cenário, as principais construtoras do país passaram a explorar novos segmentos, especialmente o de baixa renda. Batizada de "braço econômico" das construtoras, essa nova divisão de negócios já existe em companhias como Gafisa, Rossi e Cyrela.
Em outros casos, como o da MRV Engenharia, foi a construção de casas populares que deu origem ao negócio. "A divisão voltada para a baixa renda já responde por 50% dos negócios totais da Rossi", diz Rodrigo Martins, diretor comercial da empresa. No ano, o Valor Global de Vendas (VGV) da Rossi foi de R$ 3,3 bilhões.
Minha Casa, Minha Vida O peso do programa Minha Casa, Minha Vida nos negócios da construtora dá a exata dimensão da importância que a construção de imóveis residenciais para a base da pirâmide tem para o mercado. "O programa responde, sozinho, por cerca de 40% dos nossos negócios no segmento econômico", diz Martins.
Na primeira fase, de março de 2009 a maio deste ano, o programa do governo federal teve mais de 1 milhão de contratos assinados e financiamentos de R$ 53,1 bilhões. Na segunda fase, que começou no último mês de junho, já foram desembolsados R$ 20,6 bilhões. O total previsto são R$ 125,7 bilhões até 2014. Desse montante, R$ 72,6 bilhões são subsídios do Orçamento e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e outros R$ 53,1 bilhões aparecem sob a forma de empréstimos bancários.
São esses números que têm atraído a atenção das construtoras. Há quatro anos, a Cyrela criou a Living, empresa voltada para a construção de casas populares. Hoje, a nova empresa é responsável por 35% da receita total da Cyrela e a projeção é que represente 50% dentro de dois anos (leia reportagem ao lado).
Rodrigo Martins, da Rossi, ressalva, porém, que o crédito farto ajuda, mas não é garantia de sucesso nessa área. Neste segmento, diz ele, a gestão precisa ser mais precisa do que na construção de casas de alto padrão ou de imóveis comerciais. Uma das estratégias adotadas pela Rossi neste quesito foi a padronização de projetos. "Com pequenas adaptações, utilizamos o mesmo projeto em vários empreendimentos.
Economizamos tempo, pois os projetos são aprovados automaticamente, e economizamos mão de obra porque não precisamos de vários projetistas", explica Martins. Segundo ele, a estratégia da Rossi para ganhar mais espaço no segmento econômico é "simplificar a operação e aumentar a eficiência e rentabilidade".
Gargalo
Mas, se as projeções para as vendas de imóveis destinados à base da pirâmide são positivas, as construtoras voltadas a este segmento não vão escapar de um problema comum - e não só nesta área: a falta de mão de obra. "Faltam mão de obra e infraestrutura para sustentar uma expansão maior", analisa Rodrigo Campestre, consultor do segmento imobiliário. Ele lembra que, além da escassez de profissionais, o setor ainda tem de disputar mão de obra com grandes empreendimentos como os que estão sendo realizados para a Copa do Mundo e para os Jogos Olímpicos.
Fonte: Brasil Econômico