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Construtoras buscam liderança no setor elétrico

Texto: Redação AECweb

Sem contar hidrelétricas em fase de construção, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrech passariam a deter 12% da geração de energia no país

30 de outubro de 2009 - O ano de 2009 vai ficar marcado pelo agressivo avanço das grandes empreiteiras do país no setor elétrico, visto como um porto seguro para investimento devido à importância estratégica que tem no país.

Os principais movimentos foram dados em janeiro pela Camargo Corrêa, ao desembolsar mais de R$ 2,5 bilhões para se tornar a principal acionista da CPFL Energia, e mais recentemente pela Andrade Gutierrez, que firmou um contrato para comprar mais de 30% das ações com direito a voto da Cemig, o correspondente a 14% do capital total da estatal mineira de energia.

Trata-se também de investimento na casa dos bilhões de reais. Quem está mais atrasada nesse processo em relação às concorrentes é o grupo baiano Odebrecht, mas seus planos já estão traçados e a geração de energia tornou-se um objetivo prioritário depois que liderou e venceu a concessão da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira.

Para não ficar atrasada nessa área, o grupo corre para fechar o mais cedo possível a aquisição de um importante ativo já existente no setor. Enquanto isso, negocia a formação de um consórcio para disputar a megahidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, que o governo planeja licitar até meados de dezembro. Esse projeto tem potencial para gerar quase 5 mil megawatts firmes de energia.

Para crescer rápido, é preciso comprar ativos já prontos, afirma o presidente da como Felipe Montoro Jens, presidente da Odebrecht Investimentos em Infraestrutura (OII). Ele diz que nenhum ativo está sendo estudado em profundidade no momento, mas fontes do setor asseguram que o grupo negocia com a direção a americana Duke Energy a compra de seu braço internacional de geração, que fica em seis países da América do Sul, ou pelo menos ficar com sua subsidiária brasileira, a Geração Paranapanema, com parque hidrelétrico para gerar mais de 2 mil MW, de um total de 4 mil MW na região. A Duke, que está no Brasil desde o fim dos anos 90, nega que esteja negociando a venda desse ativo.

O executivo não revela mais informações da movimentação do grupo para efetivar um negócio. Outra opção, mais complicada, é ficar com um dos ativos geradores da Brasiliana, holding controlada meio a meio pelo grupo AES e pela BNDESPar. Para isso, costura nos bastidores uma proposta atrativa pela parte do banco de forma que desestimule a AES a exercer seus direito de preferência pelas ações da empresa de participações do BNDES.

Nessa operação, o foco da Odebrecht é a AES Tietê, controlada da Brasiliana que tem um parque gerador de cerca de 2.500 MW no Estado de São Paulo. A distribuidora Eletropaulo, outro grande ativo da holding, não interessa à empresa, que não tem intenções de investir nesse segmento. Mas dentro do acordo que se costurava, esse ativo seria comprado por outra grande empresa do setor que entraria como parceira no negócio.

As tentativas de aquisição vêm desde o início deste ano, mas não prosperou e há dúvidas quanto ao desejo do BNDES desfazer-se agora desses ativos, às vésperas de uma eleição presidencia, afirmou uma fonte.

A Odebrecht foi a última construtora a se interessar pelo negócio elétrico. As duas grandes rivais já haviam se posicionado há algum tempo - Camargo Corrêa, no fim dos anos 90, e Andrade Gutierrez em 2006 ao entrar na Light e em 2007 na usina Santo Antônio. Agora, já estão em um estágio de consolidação dos investimentos.

A Camargo Corrêa já se prepara para adquirir a parte do fundo de pensão Previ na CPFL. O fundo, dos funcionários do Banco do Brasil, terá de se desfazer de algum ativo no setor elétrico por conflito de interesses. Além da CPFL, é controlador da Neoenergia junto com a Iberdrola. Já a Andrade Gutierrez, com a aquisição da parte da AES na Cemig, passar a ser um investidor de peso em dois grandes ativos. A estatal mineira está prestes a assumir o controle da distribuidora e geradora carioca Light.

Sem contar hidrelétricas em fase de construção, as três empreiteiras passariam a deter 12% da geração de energia no país, além de duas entre as três maiores distribuidoras de energia do país - a Cemig/Light e a CPFL.

A expectativa da Odebrecht é abocanhar todos os grandes projetos hidrelétricos na Amazônia. Depois de Santo Antônio, vem a usina de Belo Monte. Mas já está de olho lá na frente, no projeto Tapajós. Os novos projetos, entretanto, terão a forte concorrência de outros grupos, principalmente da CPFL, que acabou ficando de fora nos dois projetos do Madeira. Agora, com uma gestão mais focada, sem a presença do grupo Votorantim em seu capital, a empresa ganhou mais agilidade para disputar leilões e oportunidades de aquisição.

O movimento desses grupos - que até início dos anos 90 eram basicamente empreiteiras que viviam de obras públicas - em direção ao setor elétrico tem dois claros objetivos. Primeiro, elas buscam a estabilidade de geração de caixa de um setor que se sobressai, tanto em tempos de bonança da economia como em tempos de crise. No mercado de capitais, as ações de empresas elétricas sãos vistas como papéis defensivos. "O principal fator que motiva esses grupos a investir na geração e distribuição de energia, bem como em concessões de rodovias, é o fluxo de caixa estável", disse um diretor de uma das três companhias.

A estabilidade do setor é observada ao se avaliar o comportamento das ações das elétricas na bolsa de valores ante o Índice Bovespa (ver acima) desde o início da crise econômica há um ano. Enquanto o Ibovespa oscilou bruscamente, as elétricas mantiveram seu valor.

O segundo motivo é a sinergia perfeita entre uma construtora e uma empresa que investe em hidrelétricas. O melhor exemplo dessa sinergia pôde ser observado no modelo adotado pela Odebrecht na sociedade firmada em torno do projeto da hidrelétrica Santo Antônio. Enquanto é investidora por meio da OII, é também prestadora de serviços pela construtora. Isso não será diferente no consórcio que está liderando para o leilão de Belo Monte.

"Modicidade tarifária e segurança na execução do projeto quem pode entregar é quem tem a construção na mão", afirma Felipe Jens, presidente da OII, explicando porque esse modelo é eficiente, competitivo e traz bom retorno para a empresa.

Desde a entrada em vigor do novo modelo do setor elétrico, em 2004, em que os leilões de energia são vencidos pelo preço do megawatt hora, se evidenciou para a Odebrecht que o único risco de um negócio de geração é a construção do empreendimento. Se esse risco, ela, como construtora, domina, não há porque mais deixar o retorno do investimento para terceiros, segundo conta Jens.

Fonte: Valor Econômico

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