Construtoras caem na bolsa, apesar de base sólida
Conclusão de boa parte dos analistas é que não há motivos fortes o suficiente para explicar o movimento
08 de abril de 2010 - No processo de seleção por parte do investidor pelo qual a Bovespa passa neste momento, o setor imobiliário é um dos que mais está se dando mal. As ações das construtoras vêm sofrendo de forma acentuada e durante vários dias nas últimas semanas figuraram entre as maiores quedas do Índice Bovespa ou mesmo do pregão. Ontem foi um desses dias.
As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da PDG caíram 3,02%, as ON da Rossi, 2,99%, enquanto as ON da MRV tiveram queda de 2,46% e as da Cyrela, 1,76%. Para se ter ideia de como o setor está sendo preterido, no ano, até ontem, o Índice Imobiliário (Imob), que reúne os principais papéis do segmento, acumula uma queda de 12,05% ante uma alta de 3,21% do Ibovespa.
O mercado vem tentando encontrar justificativas para tamanho mau humor. Mas a grande conclusão de boa parte dos analistas é que não existem motivos fortes o suficiente para explicar esse movimento. Muito pelo contrário. O setor possui hoje bases sólidas de crescimento, reflexo direto da estabilidade e da recuperação econômica, da expansão do crédito de longo prazo, além do programa de estímulo do governo Minha Casa, Minha Vida.
"O desempenho ruim das ações das construtoras chama atenção, já que vai contra os sólidos fundamentos que essas companhias possuem e que estão sendo retratados em seus balanços", diz o analista da Itaú Corretora David Lawant.
A percepção do chefe de análise da Brascan Corretora, Rodrigo Ferraz, vai na mesma linha. Ele acredita que as circunstâncias macroeconômicas são todas positivas para o setor imobiliário. "Nada mudou em relação ao crédito, à confiança do consumidor, além do emprego que está melhorando e a massa salarial aumentando", disse Ferraz ao editor-assistente do caderno Eu&Investimentos, Antonio Perez.
A conclusão é que, se as ações caem e não deveriam, isso é sinal de que a queda pode ser uma boa oportunidade dos investidores comprarem esses papéis a preços atraentes.
Motivos
Mesmo sem concordar, os analistas levantam algumas hipóteses para as recentes quedas das construtoras. Uma delas seria o iminente processo de alta da taxa Selic, que poderia provocar um aumento nos custos do financiamento imobiliário. Lawant, da Itaú Corretora, lembra, no entanto, que o aperto monetário tem um impacto bastante reduzido sobre o setor, já que os financiamentos dos mutuários e da dívida das próprias construtoras são corrigidos com base na Taxa Referencial (TR). "De qualquer forma, tem investidor bastante cético por causa disso", diz o analista.
Na semana passada, as ações também caíram com o anúncio da segunda edição do programa Minha Casa, Minha Vida. O motivo seria o fato de que 60% dos financiamentos serão destinados às famílias com renda entre 0 e 3 salários mínimos. Para Ferraz, da Brascan Corretora, essa também não é uma justificativa plausível. A nova edição do programa é enorme, podendo ter uma demanda potencial até maior do que a capacidade de oferta por parte das construtoras. "Não adianta, por exemplo, um programa prometer 10 milhões de unidades, se as empresas não conseguirem produzir isso, seria inócuo."
Um outro temor seria de que a adoção das normas contábeis internacionais (o chamado IFRS) prejudique principalmente os balanços das construtoras, que, inclusive, já são muito peculiares. "Os lucros poderão cair, mas isso não afeta o caixa das companhias de um setor com um ciclo longo de produção", explica Lawant. Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 0,43%, aos 70.792 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,3 bilhões.
Fonte: Valor Econômico - SP