Construtoras já projetam crescimento maior este ano
Previsão para o ano melhora por conta das medidas
26 de março de 2009 - Os empresários do setor de construção, especialmente os que atuam na baixa renda, aplaudiram o pacote habitacional do governo. Mais do que isso: já projetam um novo patamar de crescimento por conta das medidas anunciadas e preparam estratégias - inclusive a entrada em novos mercados -para agilizar a participação de suas empresas no pacote.
O clima ontem tanto entre os que estiveram em Brasília quanto os que acompanharam o anúncio de longe foi de otimismo - até porque companhias como Gafisa, MRV, Cyrela, Rodobens, Rossi e Bairro Novo participaram ativamente de reuniões e discussões com o governo. O receio de que o plano pudesse sair deturpado deixou de existir conforme o plano ia sendo detalhado. "Foi exatamente como pleiteamos", disse Rubens Menin, presidente da mineira MRV. "O plano saiu redondo, contemplou todos os aspectos que atrapalhavam e encareciam o processo", disse Wilson Amaral, presidente da Gafisa, que é dona de 60% da Tenda, que atua na baixa renda.
Todas as empresas consultadas pelo Valor disseram que a previsão para o ano melhora por conta das medidas. A PDG Realty, dona da Goldfarb, empresa paulista que atua no segmento econômico, calcula que possa sair de 15 mil unidades para 20 mil e até 25 mil este ano por conta das medidas. "Anunciamos uma projeção de lançamentos entre R$ 2 e R$ 3 bilhões e agora já poderemos pensar mais no intervalo entre R$ 2,5 e R$ 3 bilhões", diz Zeca Grabowsky, presidente da PDG.
O discurso pró-setor é unânime e ainda há dúvidas sobre a capacidade de operacionalização das medidas. Mas sair na frente nessa disputa é fundamental, sobretudo em tempos de crise. As empresas já reúnem suas equipes para digerir as medidas, entender onde ganhar mercado e recalcular projeções. Embora o governo tenha anunciado que o programa entra em operação no dia 13 de abril, ontem mesmo funcionários da PDG procuravam se informar para saber se poderiam comunicar aos clientes as novas taxas e os benefícios do pacote no plantão de vendas que lança neste final de semana.
A Tenda já tinha um material de comunicação pré-preparado e começa a fazer os ajustes agora com o que efetivamente foi publicado para distribuir em suas 30 lojas e a MRV convocou para hoje uma reunião com um grupo de 20 pessoas criado especialmente para refazer seu planejamento para 2009 e encontrar soluções que aumentem sua participação junto ao público que será beneficiado pelo pacote.
A MRV pretende criar uma uma estrutura de atuação para atender as famílias com renda de até 3 salários mínimos, onde estão os maiores benefícios: subsídio integral, isenção de seguro e o imposto sobre o faturamento da obra cai de 7% para 1%. A mineira MRV atende o público entre 3,5 e 10 salários mínimos. "Já identificamos que 30% do nosso banco de terrenos pode ser usado para atender o público abaixo de 3 mínimos", afirma Menin. O banco de terrenos da MRV tem potencial construtivo de R$ 9 bilhões e 91 mil unidades.
A Rodobens, que faz casas populares em grandes loteamentos, vai na mesma direção. "Vamos adaptar terrenos e projetos para atender famílias de zero a três salários mínimos", afirma Eduardo Gorayeb, presidente da Rodobens. "É um mercado novo para nós, não imaginávamos que conseguiríamos entrar nele", completa. A empresa tem um banco de terrenos para 70 mil unidades, das quais 27 mil entre 3 e 10 salários mínimos e cerca de 4 mil unidades para até três salários. As companhias calculam que um apartamento para essa faixa de renda saia a partir de R$ 40 mil. Hoje, não existe nada no mercado abaixo de R$ 60 mil.
A redução do prazo da obra de 12 meses para 6 meses é outra meta das companhias. Tenda e Rodobens imaginam que possam reduzir o ciclo ainda este ano.
O déficit habitacional do Brasil, calculado pela Fundação João Pinheiro, e usado como referência pelo Ministério das Cidades é de 7,9 milhões de casas - o Sudeste concentra 12% e o Nordeste, 19,5%. "Vamos nos beneficiar porque, além da diversificação por segmento de renda, estamos no Brasil todo", diz Cássio Audi, da Rossi. A empresa prevê que o segmento econômico seja metade dos negócios este ano, contra 29% em 2008.
Fonte: Valor Econômico - SP