Construtoras perderam R$ 3,2 bi em valor de mercado
Aumento de custos e atrasos em entregas de obras reduziram lucros no trimestre
16 de maio de 2012 - Aumento de custos, atraso na entrega de unidades, perda de valor de mercado. Essa tem sido a radiografia do setor de construção civil, que enfrenta um inferno astral na Bolsa de Valores de São Paulo. Das 22 empresas de construção de capital aberto, dez tiveram perda de valor de mercado no primeiro trimestre. Juntas essas dez companhias perderam, este ano, mais de R$ 3,2 bilhões em valor de mercado, segundo levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido do GLOBO.
Só a PDG Realty, maior empresa de incorporação do país, e que está entre as cinco ações com maior peso no Ibovespa, ao lado de Vale, Petrobras, OGX Petróleo e Itaú Unibanco, já perdeu R$ 2,4 bilhões em valor de mercado este ano, considerando o fechamento dos papéis nesta terça-feira. O valor das ações negociadas pela companhia era de R$ 6,6 bilhões em 31 de dezembro de 2011 caiu para R$ 4,1 bilhões até esta terça-feira, dia 15. A empresa acaba de divulgar que o seu lucro líquido ficou em R$ 32,5 milhões, contra uma previsão média de R$ 140 milhões do mercado. O número representa uma queda de 86% em relação ao mesmo período do ano passado.
A PDG informou que, a partir deste mês, implanta um centro de serviços compartilhados, em São Paulo, para ter mais eficiência. O objetivo da companhia é “centralizar, padronizar e simplificar os processos e, consequentemente, aumentar a qualidade dos serviços prestados", informou em relatório sobre o desempenho no primeiro trimestre. As ações da empresa fecharam com queda 9,58%, cotadas a R$ 3,68.
Na véspera, o mercado se surpreendera com o balanço trimestral de outra empresa, a Brookfield Incorporações, que indicara a necessidade de uma revisão de custos nos projetos, resultando em queda abrupta do lucro. A companhia teve lucro líquido de R$ 4 milhões, 94% abaixo dos R$ 65,8 milhões no mesmo período do ano anterior. A previsão dos analistas ouvidos pela agência Reuters era de R$ 60,3 milhões. Os papéis da Brookfield, que chegaram a cair 10% na véspera, fecharam com desvalorização de 6,22%, a R$ 3,93.
Nicholas Reade, presidente-executivo da Brookfield, garantiu em teleconferência com investidores que a operação "continua forte, apesar de os indicadores financeiros registrados virem bem abaixo do ano passado".
Os papéis do setor vêm sofrendo com balanços trimestrais abaixo do esperado.
— Em geral, os resultados das construtoras estão vindo muito ruins, com lucros abaixo do esperado. Os balanços mostram problemas parecidos, como atraso na entrega de unidades, dificuldade de encontrar novos terrenos para construir, aumento dos custos operacionais. Em geral, as construtoras são beneficiadas pelo cenário de queda de juro, que estimula o consumo, mas com resultados ruins as ações têm sido prejudicadas até agora — analisa Fausto Gouveia, economista da Legan Asset. Ele afirma ainda que há muita saída de dinheiro estrangeiro desses papéis na Bolsa, o que ajuda na desvalorização.
Para o analista do setor de construção da corretora SLW, Erick Scott, o crescimento da inadimplência no varejo também atinge as construtoras, mas em menor grau. Segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) a inadimplência no varejo, em abril, teve crescimento de 4,5%.
- A inadimplência também acaba chegando às construtoras, e o que acontece é que a pessoa acaba perdendo o imóvel. Mas este não é o principal problema dessas empresas. As construtoras hoje têm muitas unidades em estoque, muitas estão com os cronogramas de entrega atrasados, gerando ações judiciais. O país tem demanda para o setor, mas a velocidade de lançamentos está caindo com esses problemas. As ações dessas empresas estão sendo penalizadas pelos balanços mais fracos e também pelo desempenho ruim da Bolsa, que praticamente zerou os ganhos do ano - diz Erick Scott.
No caso específico da PDG, pesou também sobre os papéis a renúncia do diretor vice-presidente de relações com investidores, Michel Wurman, e do diretor de investimentos e planejamento gerencial, Frederico Marinho Carneiro da Cunha, na noite de sexta-feira. O conselho de administração já elegeu para o cargo de diretor de relações com investidores João Miguel Mallet Racy Ferreira, que acumulará com a função já ocupada de diretor financeiro.
A empresa também reafirmou que o diretor presidente, José Antonio Tornaghi Grabowsky, permaneceu no posto, "à frente da companhia e de suas atividades, bem como da equipe de diretores da companhia e principais executivos de suas subsidiárias".
As ações da MRV, que tinham valorização de mais de 9% este ano, caíram 14,77% nesta terça-feira a R$ 10,53 após a companhia anunciar um resultado do primeiro trimestre de 2012 abaixo do esperado pelo mercado. A empresa teve um lucro líquido 23,9% menor do que no mesmo período do ano passado, totalizando R$ 116 milhões.
Analistas do Deutsche Bank rebaixaram os papéis da empresa para manutenção.
“Em nossa visão, o grande prêmio da empresa em relação aos pares pode ser indevido se a fraqueza das margens prevalecer e, portanto, rebaixamos a MRV para manutenção”, afirmam Esteban Polidura e Caimi Reis, analistas do Deutsche Bank, em um relatório.
Fonte: O Globo