Consumo de alumínio pode chegar perto de 1,5 milhão de toneladas
Consumo no país poderá dobrar para 2,5 milhões de toneladas até o fim da década
14 de junho de 2011 - Construtoras substituem aço e madeira por alumínio. Fabricantes de embalagens ampliam a produção por conta da demanda em alta, e os investimentos em infraestrutura no setor de energia e transportes também têm elevado compras do metal. Resultado: a indústria do alumínio prevê que o consumo doméstico de produtos transformados de alumínio, que subiu 29% em 2010, para 1,3 milhão de toneladas, cresça entre 13% a 15% em 2011, podendo chegar perto de 1,5 milhão de toneladas.
"Todos os segmentos estão bastante aquecidos e as perspectivas para os próximos anos são positivas. Em 2012, teremos a Conferência Rio+20, em 2014, a Copa do Mundo, a Olimpíada em 2016 e ainda poderemos ter o Trem de Alta Velocidade e o pré-sal, que podem ter efeitos sobre a demanda", afirma Adjarma Azevedo, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em uma estimativa conservadora, o consumo no país poderá dobrar para 2,5 milhões de toneladas até o fim da década. "Mas há obstáculos, como o câmbio, a carga tributária e o preço da energia, que podem trazer problemas, incluindo a desintegração da cadeia produtiva e o aumento das importações", alerta Azevedo.
Um dos destaques é o segmento de fios e cabos, que deve crescer 58,4% em 2011, movimentando 167 mil toneladas. Isso graças ao aumento de investimentos na ampliação das linhas de transmissão de energia elétrica que interligam o país. Uma das maiores do mundo, a Linha do Madeira - que interligará a cidade de Porto Velho (RO) a Araraquara (SP) e permitirá o escoamento da energia produzida nas usinas do rio Madeira ao Sudeste - está sendo construída com cabos de alumínio e é um dos fatores que poderão levar ao recorde do segmento voltado à energia. As perspectivas para esta década em energia são positivas.
Segundo o Plano Decenal de Energia, divulgado há duas semanas, a extensão do sistema de transmissão nacional passará de 100 mil quilômetros em 2010 para 142 mil quilômetros em 2020. Ou seja: o equivalente a quase a metade do sistema existente será construído nos próximos dez anos. Já em transportes, que respondeu por 21% do consumo do metal em 2010, o alumínio também tem sido mais utilizado, principalmente na área de implementos rodoviários, como nas chapas de carrocerias de ônibus.
Impulsionada pela maior oferta de crédito e pelo programa "Minha Casa, Minha Vida", a construção civil, que respondeu por 14% do consumo de alumínio em 2010, deve continuar demandando mais do metal. Segundo analistas, hoje a madeira responde por 40% das esquadrias, o aço por 35%, e o alumínio por 25%, mas há espaço para crescer. "O alumínio preenche as normas de sustentabilidade e tem alto índice de reciclagem", diz Luis Carlos Loureiro Filho, diretor comercial da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa da Votorantim Metais.
A empresa investiu recentemente cerca de R$ 250 milhões na instalação de duas prensas que ampliaram sua capacidade de 48 mil toneladas para 72 mil toneladas no segmento de extrudados. "O mercado para construção pode crescer 10% ao ano", afirma o executivo da CBA, que, com o investimento, também poderá disponibilizar perfis anodizados em cores diferenciadas, para atender à demanda da indústria de construção e de móveis. Hoje, cerca de 65% da demanda de extrudados está na área de habitação e o restante com a parte de bens de consumo (móveis) e demanda industrial.
Para Loureiro Filho, a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada deve impulsionar a demanda por alumínio no mercado interno. "Há uma elasticidade importante com o Produto Interno Bruto (PIB) e, se a economia crescer 4% ou 4,5% ao ano, haverá acréscimo da demanda, o que pode fazer com que possamos estudar mais investimentos", analisa o executivo da CBA.
Quem também está de olho no crescimento do mercado é a Alcoa, presente no Brasil desde 1965. "O Brasil vive um momento de forte demanda de infraestrutura, com oportunidades para o setor de alumínio, seja na construção civil, seja nas preparações de estrutura para os grandes eventos esportivos", afirma Franklin Feder, presidente da empresa no Brasil.
A Alcoa deverá investir cerca de R$ 455 milhões neste ano em vários projetos, sendo que R$ 119 milhões serão aplicados em geração própria de energia e o restante nas operações de mineração e metalurgia.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada no ano passado pelo governo federal e em fase de regulamentação, também poderá representar um estímulo ao setor, que detém um recorde: o índice de reciclagem do total de latas de alumínio para bebidas é de 98,2%, o que posiciona o Brasil na liderança mundial do indicador desde 2001. "Estamos trabalhando para que os catadores possam ter melhor gestão e maior escala para que continuem contribuindo para os índices", diz Renault Castro, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas).
Com a definição da Política de Resíduos, que prevê a gestão compartilhada ao longo da cadeia, fabricantes de alimentos e bebidas vão ter que estudar cada vez mais as embalagens de seus produtos, além de seu valor econômico e sustentável e a logística reversa, o que pode criar oportunidades para as empresas. Estudo feito na Inglaterra pela Carbon Trust com um refrigerante de 330 mililitros apontou que a pegada de carbono da bebida embalada em lata de alumínio teria 170 gramas, enquanto uma garrafa de vidro, com a mesma quantidade da bebida, deixa rastro de 360 gramas em seu ciclo de vida. No Brasil, a emissão de carbono seria ainda menor, já que a maior parte dela está ligada ao consumo de energia, que aqui é limpa, proveniente principalmente de hidrelétricas.
Esse cenário coincide com o bom momento das fabricantes de latas de alumínio, cuja produção cresce diante da renda em alta, desemprego em baixa e ascensão das classes C e D, que têm elevado a demanda por bebidas. Entre 2010 e 2012, deve ser investido mais de R$ 1 bilhão pelas empresas para aumentar sua produção, com destaque para a alta do consumo no Norte e Nordeste. "O ritmo está aquecido, e as empresas têm apostado na descentralização geográfica dos investimentos, indo para o Norte e para o Nordeste, onde o consumo tem sido bastante forte", diz Castro, da Abralatas.
Fonte: Valor Econômico