CREA aponta erros na instalação de vigas do Rodoanel
Conselho apura as circunstâncias do acidente para avaliar eventuais punições aos engenheiros
17 de novembro de 2009 - O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-SP) afirma que as empreiteiras responsáveis pelas obras do Rodoanel adotaram um procedimento tecnicamente incorreto na instalação das vigas que desabaram sobre três carros na rodovia Régis Bittencourt. Para os engenheiros, esse erro é a principal hipótese do acidente da última sexta-feira.
O engenheiro civil José Tadeu da Silva, presidente do órgão, afirmou ontem que as construtoras precisavam ter colocado as cinco vigas de concreto do viaduto de uma só vez, para permitir a amarração da estrutura e para ela "travar".
O consórcio, integrado por OAS, Mendes Jr. e Carioca e contratado pela Dersa (estatal paulista), instalou somente quatro das vigas na terça passada, porque a quinta -e última nesse lado do viaduto- quebrou quando era transportada.
Houve mobilização para continuar os trabalhos na quinta-feira (além dessa viga, faltava instalar mais cinco do outro lado da obra), mas, sem avisar com antecedência a concessionária da Régis, não houve aval para bloquear a rodovia.
Pista de autorama
"Melhor que deixasse as quatro no chão e aguardasse a quinta", afirmou Tadeu da Silva. "É como montar uma pista de autorama. Se uma peça não for encaixada, não vai ter aquela firmeza, aquela resistência, aquele travamento para não se movimentar", disse ele, para quem há uma "possibilidade enorme" de essa ser a explicação para a queda das vigas.
A avaliação do presidente do CREA-SP foi feita após uma equipe de seis técnicos do órgão visitar a obra ontem. O conselho apura as circunstâncias do acidente para avaliar eventuais punições aos engenheiros - que podem ir de uma advertência à suspensão do registro. Cada viga do viaduto pesa 80 toneladas. Das quatro que já estavam colocadas, três desabaram, no Embu (Grande SP).
A autorização inicial obtida pelas empreiteiras e pela Dersa para ocupar parte das pistas da Régis e instalar dez vigas no viaduto em obra valia entre 7 e 10 de novembro (de sábado até terça). Mas, por problemas com chuva, quebra de um guindaste e rachadura em uma das vigas, só foram instaladas quatro.
O superintendente operacional do conselho, Ademir Alves do Amaral, disse que não foram encontrados indícios nem de uma amarração provisória das quatro vigas já instaladas. "Se as cinco peças tivessem sido colocadas simultaneamente, a estrutura teria travado e dificilmente teria ocorrido a queda", completou Tadeu da Silva.
Concreto
O CREA-SP não descarta a interferência de outros fatores no acidente, como a secagem das vigas (tempo para a estabilização do concreto) e até eventuais danos no transporte.
Dois especialistas ouvidos pela Folha avaliaram que uma das explicações do acidente pode estar na instalação individual de cada viga, e não no travamento conjunto delas.
Para Werner Mangold, professor de engenharia civil da FEI, a montagem correta das vigas deve ser suficiente para estabilizá-las -mesmo sem a amarração entre elas.
Segundo João Virgílio Merighi, professor do Mackenzie, a falta de um travamento correto de cada viga nas duas pontas do viaduto pode ter sido determinante. "O que ocorreu foi um efeito dominó. Uma das hipóteses é que uma das vigas tombou e, em seguida, acabou empurrando as demais." A falha em uma das vigas, diz, também pode ter sido provocada por materiais pouco resistentes. "Se a viga for liberada antes de o concreto adquirir resistência, pode provocar acidentes", diz Werner Mangold.
O CREA-SP diz que é preciso 28 dias para a secagem do concreto. Mas, afirma Mangold, há aditivos para que uma viga seja liberada em dois dias.
Fonte: Folha de S. Paulo - SP