No entanto, ritmo de novos lançamentos por parte das incorporadoras resulta em queda de quase 40% nas concessões mensais
27 de abril de 2009 - O crédito imobiliário é umas das linhas que mais crescem entre as pessoas físicas. Em termos anuais, a expansão é de 40,2%, quase o dobro dos 20,9% de avanço registrado nas modalidades para o consumo entre março deste ano e o mesmo mês do ano anterior, de acordo com dados do Banco Central.
Por outro lado, a redução no ritmo de novos lançamentos por parte das incorporadoras resultou em uma queda de quase 40% nas concessões mensais para essas companhias nos últimos meses do ano. Em janeiro e fevereiro, essa desaceleração da atividade das empresas de construção civil se acentuou e a demanda, que atingiu R$ 2,2 bilhões em agosto do ano passado, foi a pouco mais de R$ 700 milhões em fevereiro, recuo de 68%.
As características da construção civil explicam esse comportamento. A decisão de compra de um imóvel demora entre seis e oito meses. Mesmo a crise que se apresentava não fez com que a maior parte dos consumidores desistisse da compra já programada. "Estamos mantendo um volume bom no mercado de usados", disse Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Por conta disso, a demanda dos mutuários teve desempenho positivo mesmo no auge das turbulências, mas pode influenciar negativamente nos próximos meses. Entre novembro e dezembro, o volume de concessões mensais dentro do sistema financeiro da habitação se manteve acima de R$ 1,2 bilhão para aquisição de unidades novas e usadas, praticamente no mesmo patamar dos meses anteriores ao aperto de crédito.
O ritmo se manteve, mas boa parte dessa estabilidade se deve ao apetite da Caixa Econômica Federal. Segundo dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), a participação dos bancos privados, que chegou a oscilar entre 10% e 15% do total das vendas na capital paulista, caiu para 5% em janeiro e recuou para 2,8% em fevereiro. Enquanto isso, a Caixa continuou respondendo por quase 30% do mercado - as vendas à vista atingiram mais de 60%.
Apesar das incertezas do cenário econômico, os bancos mostram certo otimismo com o mercado. Antônio Barbosa, diretor do HSBC, espera um crescimento entre 25% e 30% da sua carteira de crédito imobiliário neste ano, pulando de R$ 450 milhões para R$ 600 milhões. Para o mercado com um todo, no entanto, por conta da menor demanda das incorporadoras, pode haver um volume menor. Em 2008, foram concedidos R$ 30 bilhões para quase 300 mil unidades.
Já José Roberto Machado Filho, diretor executivo do Grupo Santander Brasil, dos bancos Santander e Real, espera que a instituição repita neste ano o desempenho de 2008. "Se o mercado crescer, vamos crescer mais do que o mercado. Mas se repetirmos o volume de concessão já será um bom desempenho", disse em recente entrevista. O Bradesco , outro grande do setor, espera fazer R$ 5 bilhões no ano, pouco abaixo dos R$ 6 bilhões do ano passado.
Parte do otimismo se deve ao volume de imóveis programados para ser entregue neste ano, além da venda de usados. O volume de financiamento para imóveis novos, que contam com o repasse das incorporadoras para os bancos para quitar o financiamento da obra, vem mantendo o ritmo na casa dos R$ 350 milhões por mês desde junho do ano passado e já representa quase um terço de todo o recurso liberado para as pessoas físicas.
Já no caso das incorporadoras, a crise acentuou as dificuldades que muitas empresas enfrentavam para dar conta das ousadas previsões de lançamento. Assim, a saída foi reduzir o ritmo e investir apenas em projetos com maior certeza de retorno, para os quais havia oferta de crédito. "Os bancos procuram bons projetos, que se paguem, ou seja, que tenham boa velocidade de venda no lançamento".
Na visão dos bancos, esse ajuste veio em boa hora e já surgem sinais de aumento da oferta em determinados nichos. "Houve uma queda dos lançamentos, mas já começamos a ver uma reação interessante", avalia França, que também é diretor do Itaú Unibanco.
Na cidade de São Paulo, um bom termômetro para o mercado, França cita que houve nove lançamentos em janeiro, com valor geral de vendas (faturamento total estimado do empreendimento) de R$ 229 milhões. Em fevereiro foram outros 31 em fevereiro, agora com valor de R$ 238 milhões. "Houve aumento de lançamentos, com um bom posicionamento em faixas de renda mais baixa", completou.
Apesar de ter havido migração para faixas de renda mais baixa, os bancos ainda se mostram reticentes quanto ao financiamento de unidades dentro do pacote habitacional do governo. Boa parte da demanda deve vir das classes com renda entre um e três salários mínimos e, nesse nicho, a Caixa Econômica Federal deve ser o principal agente. Executivos de grandes bancos privados dizem que ainda não está claro como será feito o repasse dos subsídios e nem como serão administradas as garantias dadas para o crédito. "Se não tiver uma garantia confortável fica ainda mais difícil", disse o diretor de um grande banco. "Mas se for bem feito e melhor discutido, temos interesse em participar", completou.
Fonte: Valor Econômico - SP |