Crédito cresce 29% e movimenta setor da construção civil
Direcionado pelo governo, crédito direcionado a habitação cresceu 51,1%
25 de agosto de 2010 - O volume de recursos para créditos direcionados avançou 28,77% nos últimos doze meses, de R$ 407, 06 bilhões em julho de 2009 para R$ 524,21 bilhões registrados ao fim de julho de 2010. Os dados são do relatório de Operações de Crédito do Sistema Financeiro Nacional divulgado ontem (24) pelo Banco Central (BC).
"Esse crescimento expressivo dos recursos direcionados mostra que o governo está adequando a demanda e a necessidade de crédito com o tamanho da oferta", constata o professor de Economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Evaldo Alves.
De acordo com o documento do BC, nos últimos doze meses o crédito direcionado a habitação cresceu 51,1%, de R$ 73,01 bilhões para R$ 110,31 bilhões, que, somados aos R$ 5,75 bilhões oriundos de recursos livres, atingiram o total de R$ 116,06 bilhões ao fim do mês de julho.
"Isso movimenta o setor da construção civil, que absorve o excedente de mão de obra. O operário das classes C e D se credencia com renda para obter crédito para o consumo", detalha o professor de Ambiente Econômico do Instituto de Pesquisas Econômicas (Insper), Otto Nagami, ao explicar o atual ciclo econômico.
Outro destaque do relatório divulgado pelo Banco Central foi o crescimento anual de 29,9% de recursos direcionados para pessoas jurídicas, de R$ 257 bilhões para R$ 334 bilhões.
Esse acréscimo de R$ 77 bilhões no período é relacionado principalmente à expansão de R$ 74,77 bilhões do crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo volume total cresceu 30,2%, de R$ 247,4 bilhões para R$ 322,17 bilhões em 12 meses, encerrados em julho último.
Desse volume, os repasses do BNDES por meio de outras instituições financeiras cresceram 45,4%, de R$ 105,41 bilhões para R$ 153,23 bilhões, enquanto o crédito direto do BNDES avançou 19%, de R$ 142 bilhões para R$ 169 bilhões em igual período. Segundo o documento, o setor industrial (sem a construção civil) absorveu boa parte desses recursos. A indústria adquiriu R$ 28 bilhões em crédito, elevando seu patamar de R$ 299,41 bilhões para R$ 329,21 bilhões.
O professor da FGV avaliou as distorções que esse acelerado crescimento do crédito direcionado pode influenciar na economia. "Essa é mais uma jabuticaba só nossa. Essa estrutura do crédito direcionado foi montada há mais de 50 anos. O governo está agindo como indutor do crescimento", avalia Evaldo Alves.
"Mas ainda é um crescimento inferior ao obtido por outros países emergentes como China, Índia e Malásia", pondera Alves.
De acordo com o professor da FGV, ao setor privado resta o papel de direcionar os recursos livres ao mercado interno, sobretudo ao consumo de bens duráveis como automóveis e eletrodomésticos.
De fato, de acordo com os dados do BC, os segmentos ligados ao consumo apresentaram forte crescimento. O setor de serviços tomou 21,5% mais crédito e atingiu R$ 266,43 bilhões com ênfase nas contratações vinculadas às administradoras de cartão de crédito e às empresas de administração de imóveis, além de serviços relacionados a transportes.
O crédito ao comércio evoluiu 26,1% para R$ 153,74 bilhões nos últimos doze meses, refletindo a maior demanda dos ramos de alimentação e de automóveis, com expansão mensal de 1,2%, ante junho. "Será um Natal maravilhoso. O consumidor vai à loucura para consumir", prevê Otto Nogami, do Insper.
No que diz respeito às operações destinadas a pessoas jurídicas, a carteira de empréstimos para capital de giro totalizou R$ 238,3 bilhões, ao apresentar elevações de 1,1% no mês e de 27,4% em doze meses.
O saldo da modalidade conta garantida registrou declínio mensal de 0,4% e expansão anual de 12,2%. Por sua vez, os empréstimos lastreados em recursos externos recuaram 1,4%, queda causada pelos efeitos contábeis da apreciação cambial no período e a liquidações de operações de repasses externos.
No entanto, apesar da abundância de crédito, a taxa média de juros para pessoas jurídicas subiu 0,8% ao mês para 35,4% ao ano.
"Isso é reflexo do aumento da taxa básica de juros, a Selic. Este instrumento de política monetária é um limitador do crescimento", conclui Alves, da FGV.
Números divulgados ontem pelo Banco Central sobre o mercado de crédito em julho mostram que ainda há forte discrepância entre o ritmo de crescimento do financiamento com recursos direcionados em relação àquele com recursos livres. Nas modalidades para empresas, o crédito com recursos dos próprios bancos cresceu 11% em 12 meses, e chegou a R$ 512,7 bilhões em estoque em julho. As operações direcionadas, a maior parte com recursos do BNDES, atingiram R$ 334 bilhões, alta de 29,9% no período.
Fonte: DCI - SP