Crédito imobiliário desacelera em janeiro e pode crescer 30% em 2012
Fluxo mensal de concessões caiu em relação a dezembro (R$ 8,23 bilhões), por causa do fator sazonal
12 de março de 2012 - O sistema financeiro concedeu, em janeiro, R$ 5,68 bilhões em novos financiamentos habitacionais com recursos das cadernetas de poupança, o que viabilizou a aquisição ou construção de 33,7 mil moradias. O fluxo mensal de concessões caiu em relação a dezembro (R$ 8,23 bilhões), por causa do fator sazonal. Mas subiu 22% em relação a janeiro de 2011, informou a Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), entidade que representa as instituições financeiras captadoras de depósitos em poupança.
O percentual reforça a expectativa de uma moderação no ritmo de crescimento do volume de contratações em 2012. Com exceção de outubro, em todos os outros meses de 2011, o volume mensal de novos financiamentos cresceu bem acima de 22% sobre igual mês do ano anterior. Em janeiro de 2011, por exemplo, o fluxo de concessões de crédito habitacional com dinheiro das cadernetas foi 61,4% superior ao verificado em janeiro de 2010.
A Abecip projeta para este ano uma expansão de 30% no volume financeiro anual de novos contratos. Isso significa um ritmo mais moderado pois em 2011 o crescimento foi de 42% sobre o ano anterior. Frente ao de 2010, que chegou a impressionantes 65%, o aumento esperado em 2012 é ainda mais modesto.
O presidente da Abecip, Octavio de Lazari Júnior, entende que 30% ainda é uma taxa expressiva. Ele diz que, após um período de fortíssimo crescimento, o fluxo de crédito habitacional com recursos da poupança no Brasil entra numa fase de crescimento mais sustentável. A desaceleração era esperada diante do aumento da base de comparação, explica. "Não dá para crescer 40% ao ano ou mais indefinidamente", afirma.
A Abecip não tem ainda dados consolidados mais recentes sobre o saldo dos financiamentos habitacionais oriundos da aplicação de depósitos em caderneta de poupança. O último dado disponível, apurado pelo Banco Central, indica que esse estoque estava em R$ 179,28 bilhões no fim de novembro de 2011. Considerando outras fontes, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), segundo maior fonte de recursos da modalidade, o saldo do crédito habitacional era de R$ 195,26 bilhões na mesma data.
Desde então, esse valor já subiu, chegando a R$ 200,49 bilhões em dezembro de 2011 e a R$ 205,834 bilhões em janeiro de 2012. Comparando-se os saldos de dezembro de 2006 e de dezembro de 2011, enquanto o estoque de crédito como um todo subiu 177%, o saldo das operações de crédito habitacional se expandiu impressionantes 461%.
Como proporção do Produto Interno Bruto, também houve um enorme salto nesses cinco anos. Em dezembro de 2006, o crédito à habitação representava 1,5% do PIB no Brasil. Em dezembro de 2011, essa relação atingiu 4,9% e, em janeiro de 2012, 5%, informa o BC. No mesmo intervalo de tempo, o total de crédito no Brasil saiu de 30,9% para 48,8% do PIB.
O presidente da Abecip atribui tamanho crescimento, entre outros fatores, ao aumento da renda e do emprego no país. O marco regulatório do setor, aprovado em 2004, também fez a diferença, ao consolidar a alienação fiduciária como forma de garantia dos financiamentos imobiliários. Isso deu mais segurança jurídica aos bancos para emprestar, destaca.
A aceleração do crédito habitacional também coincide com o fim, em 2008, do chamado FCVS virtual, apelido dado à possibilidade de os bancos contabilizarem como aplicações obrigatórias em poupança créditos que já não mais lhe pertenciam. Eram os créditos junto ao Fundo de Compensação de Variações Salariais (FVCS), fundo do governo que assumiu as dívidas deixadas por antigos mutuários do sistema financeiro da habitação em decorrência de subsídios implícitos dados pelos planos econômicos dos anos 1980 e 1990. A possibilidade de considerar esses créditos "virtuais", que tinham sido vendidos com desconto para as massas falidas de instituições liquidadas pelo BC, liberava os bancos de uma parcela de suas aplicações obrigatórias em crédito habitacional. Quando começou a ser reduzido, em 2002, o FCVS virtual chegava a quase R$ 35 bilhões em valores da época.
Fonte: Valor Econômico