Cresce número de jovens que compram apartamentos em SP
Segundo pesquisa, público cresceu 22% em quatro anos na Grande SP. Apartamentos menores com mais opções de lazer são a principal escolha.
29 de agosto de 2011 - Quando a estudante de administração Manaíra Fávaro, de 22 anos, procurava um apartamento para se mudar com o namorado para São Paulo em julho deste ano, ela tinha certeza do que queria. “Tinha que ter armário embutido, tinha que estar perto de uma estação de trem, sem contar área de lazer no prédio, pois se não tivesse, a gente só trabalha”. E o apartamento de 50 m² na Vila Anastácio, na Zona Oeste de São Paulo, apareceu na hora certa. “Quando vimos, nos apaixonamos. A piscina e a academia são maravilhosas, e o apartamento também. Pequeno e prático”, comentou a estudante.
Manaíra e Vitor Cangirana, seu namorado de 26 anos, decidiram se mudar para São Paulo por motivos distintos. Cangirana foi transferido no trabalho, de uma empresa de mineração de Salinas, em Minas Gerais, para a capital paulista. Manaíra decidiu pela cidade por acreditar que encontrará mais oportunidades de crescimento profissional em São Paulo do que em Ribeirão Preto, no interior paulista, onde morava. Assim, após quatro anos de namoro à distância, os dois aproveitaram a oportunidade para ficar juntos e para também subir ao altar no início de 2012.
O casal faz parte de um grupo que Fábio Rossi, diretor de lançamentos do Sindicato das Empresas de Compra, Locação e Administração de Imóveis Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), chama de “público novo” no mercado imobiliário. São jovens entre 22 e 35 anos que começaram a chamar a atenção das imobiliárias há aproximadamente quatro anos. “Este público vê o imóvel pensando nas situações da sua vida nova: ele precisa ser prático, onde tenha flexibilidade para arrumar a casa, cozinhar, e também deve ter o máximo de coisas para ele usar o mínimo de tempo possível. Ou seja, se tiver uma academia, uma área de lazer boa dentro do prédio, já economiza o tempo de ter que sair de casa”, diz Rossi.
Segundo o diretor de lançamentos, houve um aumento de 22% na presença de tais jovens no mercado imobiliário da Grande São Paulo nos últimos quatro anos, segundo pesquisa feita com 2.350 clientes da Imoplan Imóveis em março deste ano. “É um público novo entrando no mercado, pessoas que antes não compravam ou alugavam imóveis e que passaram a fazer isso por causa da maior facilidade de financiamento e da atual tendência de vida moderna”, afirma. Ainda de acordo com Rossi, 70% deste público é solteiro, mas pretende se casar a curto prazo.
Demanda urbana e jovem
Para Luana Rizzi, gerente de marketing da MaxHaus, uma linha de prédios com apartamentos de 70 m² e sem divisórias, a vontade deste novo público ajudou a consolidar a tendência de moradas menores com mais investimento nas áreas comuns dos prédios em São Paulo, no final de 2009. “Foi uma questão de demanda. A vida das pessoas se tornou mais urbana e moderna, elas quase não ficam em casa. Então, as coisas ficaram mais práticas, com os prédios oferecendo coisas que facilitam a vida moderna e corrida nas áreas comuns.”
Com tal tendência, quem acha que o espaço limitado de 50 m² causa algum transtorno para Manaíra Fávaro e Vitor Cangirana está enganado. “Vimos até uns apartamentos grandes, mas não chamaram nossa atenção. Talvez se minha mãe fosse ver, ela ia gostar, mas para a gente, não. Importa bem mais a questão da praticidade do que o tamanho”, diz Manaíra. “Tem o lado ruim de não ter tanto espaço, de quando queremos chamar convidados, fica apertado. Mas é por isso que têm a sala gourmet na área comum do prédio. E [apartamento] menor e mais fácil de limpar é melhor para o morador.”
Como a maior parte do público alvo de tais investimentos é composta por jovens de 20 a 35 anos, a questão do preço foi importante para consolidar a tendência dos apartamentos menores. “O metro quadrado está cada vez mais caro em São Paulo. Então, para caber no bolso das pessoas e para que elas possam ter uma casa com uma renda não tão alta, o mercado se adaptou e começou a oferecer isso”, diz Rizzi. Fábio Rossi concorda. “Este é um público exigente, então você tem que ter um produto cada vez melhor e com o preço mais baixo.”
Vivendo sem divisórias
Foi exatamente por causa da falta de dinheiro que Gustavo Araújo, de 23 anos, e Marina Pinhoni, de 22 anos, esperaram até 2011 para finalmente morar juntos após oito anos de namoro. “Quando a Marina veio de Ribeirão Preto para São Paulo estudar, ela ficou em pensão e eu não curti a ideia. A gente já pensava em morar junto há um tempo, mas faltava dinheiro. Até que comecei a ganhar mais e ela conseguiu um emprego. Aí aproveitamos a oportunidade”, conta o editor de vídeos.
Há dois meses o casal aluga um apartamento no MaxHaus Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. E aproveita a ideia de modernidade do empreendimento. "Dá para brincar muito [com decoração] nesse apartamento sem divisórias. Nós pensamos em soluções baratas, mas que são a nossa cara. São 70 m², parece pequeno, mas é grande e perfeito para um casal", diz Marina Pinhoni. "Nós fizemos tudo por nossa conta, confiando no nosso bom gosto. A pessoa pode pirar [na decoração] e tudo mais, mas tem que ser funcional", afirma Gustavo Araújo.
Apesar da tendência de crescimento do público jovem no mercado, Fábio Rossi diz que a escolha destas pessoas é reflexo da idade. “Eles escolhem um apartamento onde devem ficar por um prazo de cinco a oito anos. Depois, devem se mudar para outro tipo de imóvel já com sua família. Isso porque a vida muda. Então, o imóvel deve se comunicar com a pessoa – que era solteira, mas que casou, teve filhos, e que depois os filhos cresceram, saíram de casa, e assim por diante."
Marina Pinhoni concorda. Ela diz que, embora ela e o namorado estejam satisfeitos com o tamanho do atual apartamento, não deixa de pensar que seus gostos e necessidades podem mudar depois de um tempo. "No futuro, quando tivermos filhos, talvez a gente pense em mudar para um lugar maior, mas muito no futuro. Por questões práticas, esse apartamento agora é perfeito."
Fonte: G1