Custo de energia preocupa os fabricantes de alumínio
Há estagnação e falta de investimentos no segmento no país
23 de novembro de 2010 - O setor brasileiro de alumínio vive uma situação curiosa e preocupante. Enquanto a produção das commodities bauxita e alumina, assim como de produtos elaborados, caminha bem, com forte crescimento e expansão de investimentos, os produtos intermediários (leia-se alumínio primário) passam por estagnação, sem previsão de inversões e devendo, já em 2012, registrar déficit em balança comercial.
"A última fábrica de alumínio primário no Brasil data de 1985 e não temos nenhuma perspectiva de novas unidades ou expansão", afirma o presidente da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), Adjarma Azevedo. "O preço da energia no Brasil nos impede de sermos competitivos."
Segundo dados da associação, o custo médio do megawatt-hora (MWh) na região Norte, principal polo de produção do insumo, está na casa de US$ 70, sendo o terceiro maior custo global, atrás de China e Alemanha.
A fabricação de alumínio primário está estabilizada em 1,57 milhão de toneladas, já tendo atingido o pico de 1,63 milhão. "O ideal seria evitar que exportássemos apenas os produtos básicos e não importássemos os produtos acabados", diz o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), Renault Castro.
O bom momento apresentado pelo conjunto setorial ofusca essa dificuldade histórica dos alumínios primários. Há sete semestres consecutivos o setor de alumínio apresenta taxas de expansão produtiva e comercial. Em 2010, a cadeia deve registrar expansão de 27,8% no volume de produtos transformados (chapas, folhas, extrusão, fios e cabos etc.), superando em cerca de 20% os resultados de 2008, melhor ano da história do setor. "Enquanto a demanda global sofre desaquecimento, o Brasil vive um período muito forte", explica o coordenador da Comissão de Economia e Estatística da Abal, Mauro Moreno.
Nessa toada, a área de mineração, via exploração de bauxita, e produção de alumina, primeiro beneficiamento do mineral, segue também em ritmo acelerado. O Brasil detém a terceira maior reserva mundial de bauxita. Com os investimentos em curso e a intensificação da exploração de minas como a de Paragominas, controlada pela Vale, e Juriti, de propriedade da Alcoa, ambas no Pará, espera-se que, em 2014, a extração do minério atinja 40 milhões de toneladas, expansão de quase 55%.
Há também evolução na fabricação de alumina. Segundo a Abal, com as expansões já realizadas pela Alunorte e novos investimentos a serem realizados, por exemplo, pela Alumar, a produção brasileira tende a evoluir de 8,6 milhões de toneladas, em 2009, para 12,8 milhões em 2014. Só no período de 2005 a 2009, a Alcoa promoveu investimentos da ordem de R$ 9 bilhões, destinados ao aumento de capacidade produtiva.
"Já é possível notar o aumento da exportação dos bens primários", relata Azevedo. A projeção da entidade é de que as exportações de bauxita subam quase 23%, em 2010 ante 2009, atingindo US$ 194 milhões. Em alumina, o crescimento projetado para as vendas externas é da ordem de 55%, chegando a US$ 2,02 bilhões.
Os preços do alumínio negociados na Bolsa de Metais de Londres têm apresentado evolução desde o segundo semestre de 2008 até os dias atuais: o contrato à vista saiu de um patamar de US$ 1.500/t para cerca de US$ 2.600/t. "Isso decorre muito da especulação. Muitos fundos e investidores buscaram proteção nos contratos de metais, pressionando os preços, porque, na economia real, a demanda global está fraca, com exceção de Brasil e China", sustenta o presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), Sérgio Aredes Piedade Gonçalves.
"A nossa preocupação é que, já em 2012, a cadeia deve intensificar a importação de alumínio primário. E o que vem depois, os produtos acabados? Não queremos viver o risco de desmantelamento da nossa indústria", diz Azevedo.
Fonte: Valor Econômico