Cyrela muda estratégia de parcerias e quer se concentrar em São Paulo e Rio
Regiões respondem por 70% dos novos terrenos adquiridos pela empresa.
16 de abril de 2011 - Com resultados considerados decepcionantes por analistas pelo segundo trimestre consecutivo, a Cyrela opta pela segurança de estratégias já conhecidas. A companhia vai reforçar sua atuação nos mercados onde originalmente sempre foi mais forte, São Paulo e Rio, e já estuda a possibilidade de sair de outras regiões do país. Também deve diminuir a dependência de parceiros - segundo a companhia, principal fonte de problemas e estouros de orçamento.
Em teleconferência na sexta-feira, a construtora disse que os mercados de São Paulo e Rio respondem por 70% dos novos terrenos adquiridos pela empresa. "Vamos focar nas praças onde temos capacidade de execução mais forte", disse Ubirajara Alves, diretor da Cyrela em São Paulo. "Vamos reforçar as regionais orgânicas", completou Elie Horn, presidente e fundador da Cyrela.
O número de joint ventures vai passar de 16 para sete, segundo Luis Largman, diretor financeiro e de relações com investidores da companhia. Largman disse que em determinadas regiões - não detalhou quais - a empresa não apenas encerrará contrato com parceiro como também suas operações. Também não informou que empresas deixarão de ser parceiras da companhia.
A expansão geográfica acelerada via parceiros foi o modelo escolhido pela Cyrela para turbinar seu crescimento nos últimos anos - saiu de vendas de R$ 2,8 bilhões em 2007 para R$ 4,7 bilhões em 2010. E as parcerias são apontadas pela Cyrela como as grandes responsáveis pelos sérios problemas que a companhia enfrenta desde meados do ano passado. O aumento de custo, por conta de estouros de orçamento, chegou a R$ 533,6 milhões no ano passado, dos quais 70% em obras com parceiros. Este ano, não houve novo aumento de custos.
Para explicar a forte redução de margens do trimestre - a margem de lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em 11,6% para uma projeção, já revisada para baixo, de 15% a 19% - Largman explica que 86% do reconhecimento de receita vem de obras com margem bruta de 24% e 14% com margens de 36%. "Os 86% dizem respeito a projetos lançados até o final de 2009, quando a maior parte das obras era executada por parceiros", disse.
Elie Horn encerrou a teleconferência prometendo um ano de 2012 sem surpresas. Não é o que tem acontecido, por enquanto. Embora tenha melhorado as margens em relação ao quarto trimestre do ano passado, a construtora ainda ficou muito abaixo do esperado pelo mercado.
O lucro líquido nos primeiros três meses do ano fechou em R$ 74 milhões, 57,4% abaixo do mesmo período do ano passado e 50% abaixo do consenso Bloomberg. O Ebitda foi de R$ 139 milhões, queda de 37,9% na comparação com os primeiros três meses de 2010.
As margens bruta, Ebitda e líquida (27,4%, 11,6% e 6,2) caíram acima de sete pontos percentuais em relação ao primeiro trimestre. do ano passado. A companhia ressaltou que as margens devem crescer gradualmente. "Esperávamos, neste resultado, que as margens de Cyrela se recuperassem de uma base já fraca do quarto trimestre", disse Armando Halfeld, da Ativa Corretora. Ainda que a empresa sinalize melhores resultados nos próximos trimestres, há dúvidas sobre o futuro. "O guidance de lançamentos para 2012, mesmo com a redução feita no quarto trimestre, implica crescimento de 25% da companhia, um desafio de ser alcançado em meio a uma reestruturação financeira", escreveu Guilherme Vilazante, do Barclays , em seu relatório.
Fonte: Valor Econômico - SP